Pela primeira vez, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, defendeu uma reforma para expandir o Conselho de Segurança da ONU. A declaração foi dada durante seu discurso na 78ª Assembleia das Nações Unidas, em Nova Iorque, nesta terça-feira (19/09).
Biden revelou que, desde o ano passado, teve “consultas sérias com muitos Estados-membros” e que continuará a fazer sua parte para “pressionar por mais reformas”.
O norte-americano também reiterou o compromisso dos Estados Unidos em reformar outras instituições multilaterais e financeiras, como o Banco Mundial.
A reforma teria como objetivo, segundo Biden, de financiar países emergentes, ao reconhecer que os países ricos precisam “fazer mais” pelo mundo.
“Os EUA investiram mais de US$ 100 bilhões para melhorar a segurança alimentar no mundo e combater doenças. Mas nós todos temos que fazer mais. Precisamos preencher as lacunas abertas pela pandemia, precisamos lidar com as dívidas de países de renda média e pequena”, afirmou.
O discurso de Biden segue a linha das solicitações do presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres.
“O Conselho de Segurança da ONU vem perdendo progressivamente sua credibilidade”, alegou Lula durante seu discurso de abertura, apontando para a dualidade de escolha da comunidade internacional: ou a reforma das instituições multilaterais, ou a aplicação de conflitos.
“De um lado, está a ampliação dos conflitos, o aprofundamento das desigualdades e a erosão do Estado de Direito. De outro, a renovação das instituições multilaterais dedicadas à promoção da paz”, afirmou o brasileiro.
Guterres também defendeu a reforma das instituições multilaterais globais durante seu discurso, o primeiro da 78ª Assembleia das Nações Unidas.
O representante da ONU disse que “o mundo mudou”, mas as instituições continuam as mesmas, afirmando que “chegou a hora de renovar as instituições multilaterais, baseando-se nas realidades econômicas e políticas do século 21 e ancorados nos princípios da Carta da ONU e do direito internacional”.
“Isso significa reformar o Conselho de Segurança e redesenhar a arquitetura financeira internacional”, declarou Guterres, acrescentando que a alternativa à renovação das instituições multilaterais seria o aumento da “fragmentação”. “É reforma ou rompimento”, disse.
Atualmente, o c Conselho de Segurança da ONU é formado por 10 representantes rotativos e cinco permanentes com poder de veto: China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia, os vencedores da Segunda Guerra Mundial, encerrada há 78 anos.
O Brasil e outros países pedem a inclusão de novos membros permanentes no organismo para aumentar a representatividade de mundo emergente.
Ucrânia, China e Haiti
Biden lembrou, mais uma vez, de seu “forte apoio” à Ucrânia e alegou que somente a Rússia pode acabar com a guerra, que decorre em território europeu desde fevereiro de 2022.
O líder norte-americano reforçou seu apoio ao presidente Volodymyr Zelensky e garantiu que seu país estará ao lado da Ucrânia para garantir sua soberania e integridade territorial.
“Continuaremos ao lado da Ucrânia. Não é só um investimento na Ucrânia, é um investimento em todos”, acrescentou ele, afirmando que “a Rússia não vai vencer o conflito pelo cansaço”.
Em relação à China, Biden falou sobre sua atual relação com o país liderado por Xi Jinping e especificou que “tem muito interesse” em seguir com as parcerias comerciais com a nação asiática.
“Quero ser claro sobre a China. Vamos tentar gerir a concorrência de forma responsável para que não conduza a conflitos”, afirmou ele, reiterando que “não quer conter Pequim nem a dissociação das duas economias”, além de “querer colaborar com a China em algumas questões, como a luta contra as alterações climáticas”.
Reprodução/ @POTUS
Joe Biden disse que continuará a fazer sua parte para ‘pressionar por mais reformas’
O presidente dos Estados Unidos também pediu que uma missão internacional seja enviada ao Haiti “o mais rápido possível”, fazendo jus à reunião que o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, teve com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry, em Trinidad e Tobago, no mês de julho.
Na ocasião, o representante manifestou o seu apoio a uma intervenção estrangeira no país caribenho: “Reuni-me com o primeiro-ministro haitiano para discutir a urgência de se chegar a um acordo político inclusivo, bem como o pedido do Haiti de apoio internacional para conter a violência das gangues”, afirmou Blinken por meio das redes sociais.
Blinken chegou a confirmar que Washington constitui “o maior doador internacional para a Polícia Nacional do Haiti” e agora apela “o apoio do governo [haitiano] para uma força multinacional que nos ajude a restaurar segurança”.
Apesar das declarações aparentemente moderadas, o Haiti já foi palco de uma missão internacional, denominada de Minustah, que teve início em 2004 e foi responsável por milhares de relatos de violência por parte dos “capacetes azuis” – oficiais da Minustah – que também foram responsáveis por uma epidemia de cólera, antes inexistente no país.
Mudanças climáticas e direitos humanos
Saindo dos temas diplomáticas, Biden reiterou seu apoio nos esforços para combater as mudanças climáticas, citando as enchentes na Líbia e os incêndios na Europa como resultados da mudança do clima.
“Desde o primeiro dia do meu governo, os EUA tratam essa crise como a ameaça existencial que é, não só para nós, mas para toda a humanidade. Esses retratos contam uma história urgente do que nos aguarda se falharmos em reduzir a dependência de combustíveis fósseis”, disse.
Por fim, o líder norte-americano defendeu a proteção a minorias e reforçou que “não podemos sacrificar a Declaração (Universal) dos Direitos Humanos”. “Todos se uniram em nome desses direitos. Não podemos virar as costas a eles. Precisamos trabalhar para que mulheres, crianças, indígenas e minorias tenham direitos fundamentais. LGBTQIA+ não podem ser discriminados por serem quem são”, concluiu .
Lula na 78ª Assembleia da ONU
O discurso do presidente Lula na abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, ganhou proporções históricas ao abordar praticamente todos os principais desafios da humanidade na atualidade e por imprimir uma visão do Sul Global diante desses temas.
Este foi o seu retorno ao Parlamento mundial após 14 anos. Em suas primeiras palavras, Lula recordou não aquele último discurso, e sim o primeiro. “Há 20 anos, ocupei esta tribuna pela primeira vez, e disse, naquele 23 de setembro de 2003, ‘que minhas primeiras palavras diante deste Parlamento Mundial sejam de confiança na capacidade humana de vencer desafios e evoluir para formas superiores de convivência’. Volto hoje para dizer que mantenho minha inabalável confiança na humanidade”.
O mandatário brasileiro disse que seu retorno a Nova York é “um triunfo da democracia” no Brasil, e que o país “está de volta para dar sua devida contribuição ao enfrentamento dos principais desafios globais”.
(*) Com Ansa