O presidente do Chile, Gabriel Boric, recordou nesta segunda-feira (11/09) os 50 anos do golpe de Estado do dia 11 de setembro de 1973, que colocou fim ao governo da Unidade Popular, como era conhecido o projeto de “socialismo pela via democrática”, do então mandatário Salvador Allende (1970-1973).
Em discurso realizado na Praça da Constituição, em Frente ao Palácio de La Moneda, durante o o ato Democracia hoje, amanhã e sempre, Boric disse que a data recorda “aqueles que defenderam a Constituição e as leis contra os que atentaram contra o Estado de Direito há 50 anos, esmagando a democracia com a força dos aviões, dos tanques e das armas”.
O presidente chileno também enfatizou que a cerimônia estava dedicada a Allende e aos chilenos que militaram na resistência contra a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), muitas das quais perderam suas vidas durante essa luta. O mandatário do Chile disse que o golpe de 1973 não pode ser “separado do que veio depois”. Para ele, as “violações dos direitos humanos começaram no mesmo dia do golpe”.
Segundo Boric, o dia que completou 50 anos do golpe contra Allende teve um peso da “longa história” que o país enfrentou e a “importância de recordar todos aqueles que percorreram essa história e aqueles que acompanharam e acolheram a dor do momento em que ela foi interrompida”.
“Porque sabemos que no meio do terror surgiram organizações com dificuldade, com ameaças, e a quem hoje prestamos homenagem, porque elas afirmaram, nos momentos difíceis, a dignidade e a solidariedade quando elas eram mais necessárias, em ações humildes, muitas vezes anônimas, que trouxeram à tona o que há de melhor na humanidade”, destacou Boric.
Com o fim da ditadura de Pinochet após 17 anos de regime autoritário, Boric falou ser preciso recordar desse período, mesmo sendo uma “verdade incômoda”, para apontar que a “democracia não está garantida e que temos de trabalhar transversalmente todos os dias para cuidar dela”.
Twitter / @GabrielBoric
Presidente Boric discursou durante evento que marcou os 50 anos do golpe contra Salvador Allende
Outro importante momento do discurso foi quando o mandatário chileno falou sobre a necessidade ainda vigente de reconciliação entre os chilenos, mas ressaltando que o “reencontro nacional não pode partir da lógica do empate, tentando igualar as responsabilidades entre as vítimas e seus algozes”
Segundo ele, essa dinâmica tem que ser ao contrário: “esse reencontro precisa se basear em um compromisso inquebrantável dos diferentes setores com os princípios de verdade, justiça e reparação, e também com o grito que as mulheres chilenas realizaram horas atrás, dizendo ‘nunca mais’ à violência política no país”.
O último trecho dessa declaração de Boric se refere ao ato realizado na noite de domingo (10/09), em frente ao Palácio de La Moneda, por milhares de mulheres convocadas pelo Coletivo Feminista 8M, com a consigna “nunca mais a democracia bombardeada”.
Boric reivindica a figura de Allende
Ainda no discurso, o presidente chileno reivindicou a figura e memória de Allende, afirmando que o projeto do ex-presidente foi “liderado por um homem com uma carreira democrática impecável”, apontando que o socialista foi um “intérprete de grandes desejos de justiça, que deu a sua palavra de que respeitaria a Constituição e as leis e o fez”.
“Por esse compromisso, daqui a 50 anos, o mundo continua a homenageá-lo e a respeitá-lo […]. Às vezes há quem nos exorte a esconder o seu nome, porém […] quando se vai a praticamente qualquer país democrático do mundo, se encontra com o nome de Salvador Allende”, disse.
Ao finalizar, o presidente do Chile disse ter “total convicção e certeza de que, se nos unirmos, podemos seguir adiante. Quando somos capazes de colocar o bem estar de nossos povos acima de nossas diferenças, o resultado é o melhor de nós. Por isso, compatriotas, proclamamos com muita convicção que a violência nunca mais vai substituir o debate democrático. Democracia hoje e sempre”.
Opera Mundi tem uma série especial com relatos de brasileiros que viveram o fim do governo Allende e início da ditadura Pinochet, episódio que completa 50 anos em 11 de setembro de 2023.
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