Sexta-feira, 13 de junho de 2025
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O impacto da decisão de um tribunal de Hong Kong que ordenou nesta segunda-feira (29/01) a liquidação do gigante imobiliário chinês Evergrande é incerto, mas, para analistas, pode manter investidores longe da China. A falência é um símbolo dos problemas deste setor-chave da economia chinesa, mas o grupo disse que continuaria as suas atividades.

Com sede em Foshan (sul da China), a Evergrande era a maior incorporadora imobiliária da China e empregava quase 70 mil pessoas em tempo integral, no final de 2022. A empresa acumulou dívidas até ter passivos superiores a U$ 300 bilhões, tornando-se assim um símbolo da crise imobiliária que há anos assola a segunda maior economia do mundo.

No entanto, não ficou imediatamente claro como uma decisão tomada na região semiautônoma chinesa de Hong Kong poderia ser implementada na China continental, onde o grupo está sediado e as leis são diferentes.

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“(Considerando) a evidente falta de progresso por parte da empresa na apresentação de um plano de reestruturação viável (…) considero oportuno que o tribunal pronuncie uma sentença de liquidação do “negócio, e é isso que ordeno”, disse a juíza de Hong Kong, Linda Chan.

Na sentença escrita e proferida na tarde desta segunda-feira, a juíza explicou que os interesses dos credores seriam “mais bem protegidos” se a empresa fosse liquidada e se liquidatários independentes assumissem sua gestão. Dois membros do escritório de advocacia Alvarez & Marsal, Edward Middleton e Tiffany Wong foram nomeados liquidatários.

Segundo a administração do grupo imobiliário, a decisão do tribunal de Hong Kong não terá impacto nas suas operações no continente, mas analistas afirmam que a decisão irá minar ainda mais a confiança dos investidores estrangeiros na China.

Sem diálogo possível

“A decisão judicial de hoje é contrária à nossa intenção original (…) É extremamente lamentável”, disse o diretor-geral da Evergrande, Shawn Siu, ao veículo de comunicação chinês especializado em economia 21st Century Business Herald.

Em um comunicado, ele afirmou que a subsidiária da Evergrande em Hong Kong é independente das atividades do grupo na China e que este último “se esforçará sempre para fazer todo o possível para salvaguardar a estabilidade de seus negócios e operações nacionais”.

Os credores internacionais apresentaram uma petição de liquidação num tribunal de Hong Kong contra o grupo Evergrande. O processo se arrastou enquanto as partes tentavam negociar um acordo.

Tribunal de Hong Kong anunciou decisão sobre Evergrande, mas não sabe como ordem da região semiautônoma seria aplicada em país de diferente legislação

Wikicommons

Evergrande era a maior incorporadora imobiliária da China e empregava quase 70 mil pessoas

Mas os analistas duvidam que os credores recebam uma compensação igual às suas perdas, uma vez que 90% dos ativos da Evergrande estão na China continental, de acordo com a decisão.

A empresa possui US$ 236,6 bilhões em ativos na China continental e em outros lugares. Alguns deles já foram vendidos nos últimos meses para obter liquidez, totalizando cerca de U$ 7 bilhões de no final de novembro, segundo a imprensa chinesa.

“Duvido que os credores estrangeiros [da Evergrande] recebam um montante de recuperação substancial” desta liquidação, declarou Zerlina Zeng, analista de crédito da Creditsights Singapore, citada pela agência Bloomberg.

Por sua vez, o advogado de um grupo de credores, o Fergus Saurin, disse aos jornalistas que Evergrande não “estabeleceu diálogo” com eles. “Houve tentativas de diálogo no último minuto que não levaram a nada”, disse ele. “A empresa só tem culpa”

Após o anúncio da sentença, as ações da Evergrande caíram mais de 20% nesta segunda-feira na Bolsa de Valores de Hong Kong, que suspendeu a negociação das ações.

Quais consequências para a China?

O colapso da Evergrande, que anunciou que não podia pagar suas dívidas pela primeira vez em 2021 e foi declarada falida nos Estados Unidos, é acompanhada de perto pelas autoridades chinesas porque o grupo era um pilar da economia nacional.

O setor de construção e imobiliário da China representou cerca de um quarto do PIB chinês. Durante décadas, os novos imóveis na China eram pagos pelos proprietários antes mesmo de serem construídos, e os grupos imobiliários financiavam facilmente suas novas construções a crédito.

Mas a enorme dívida do setor tem sido vista nos últimos anos pelos que estão no poder como um grande risco para a economia e o sistema financeiro do país.

Pequim reforçou gradualmente, desde 2020, as condições de acesso ao crédito para promotores imobiliários, o que secou as fontes de financiamento para grupos já endividados.

No final de junho, a Evergrande estimou as suas dívidas em U$ 328 bilhões.

O impacto da decisão desta segunda-feira no negócio de construção de Evergrande na China é “desconhecido”, disse Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio para a Ásia na Mizuho, mas a liquidação provavelmente lembrará os investidores da saúde precária do setor e “poderá manter os investidores estrangeiros longe”.

A China anunciou várias medidas para apoiar o seu setor imobiliário, mas os resultados tiveram pouco efeito até agora.