O impacto da decisão de um tribunal de Hong Kong que ordenou nesta segunda-feira (29/01) a liquidação do gigante imobiliário chinês Evergrande é incerto, mas, para analistas, pode manter investidores longe da China. A falência é um símbolo dos problemas deste setor-chave da economia chinesa, mas o grupo disse que continuaria as suas atividades.
Com sede em Foshan (sul da China), a Evergrande era a maior incorporadora imobiliária da China e empregava quase 70 mil pessoas em tempo integral, no final de 2022. A empresa acumulou dívidas até ter passivos superiores a U$ 300 bilhões, tornando-se assim um símbolo da crise imobiliária que há anos assola a segunda maior economia do mundo.
No entanto, não ficou imediatamente claro como uma decisão tomada na região semiautônoma chinesa de Hong Kong poderia ser implementada na China continental, onde o grupo está sediado e as leis são diferentes.
“(Considerando) a evidente falta de progresso por parte da empresa na apresentação de um plano de reestruturação viável (…) considero oportuno que o tribunal pronuncie uma sentença de liquidação do “negócio, e é isso que ordeno”, disse a juíza de Hong Kong, Linda Chan.
Na sentença escrita e proferida na tarde desta segunda-feira, a juíza explicou que os interesses dos credores seriam “mais bem protegidos” se a empresa fosse liquidada e se liquidatários independentes assumissem sua gestão. Dois membros do escritório de advocacia Alvarez & Marsal, Edward Middleton e Tiffany Wong foram nomeados liquidatários.
Segundo a administração do grupo imobiliário, a decisão do tribunal de Hong Kong não terá impacto nas suas operações no continente, mas analistas afirmam que a decisão irá minar ainda mais a confiança dos investidores estrangeiros na China.
Sem diálogo possível
“A decisão judicial de hoje é contrária à nossa intenção original (…) É extremamente lamentável”, disse o diretor-geral da Evergrande, Shawn Siu, ao veículo de comunicação chinês especializado em economia 21st Century Business Herald.
Em um comunicado, ele afirmou que a subsidiária da Evergrande em Hong Kong é independente das atividades do grupo na China e que este último “se esforçará sempre para fazer todo o possível para salvaguardar a estabilidade de seus negócios e operações nacionais”.
Os credores internacionais apresentaram uma petição de liquidação num tribunal de Hong Kong contra o grupo Evergrande. O processo se arrastou enquanto as partes tentavam negociar um acordo.
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Evergrande era a maior incorporadora imobiliária da China e empregava quase 70 mil pessoas
Mas os analistas duvidam que os credores recebam uma compensação igual às suas perdas, uma vez que 90% dos ativos da Evergrande estão na China continental, de acordo com a decisão.
A empresa possui US$ 236,6 bilhões em ativos na China continental e em outros lugares. Alguns deles já foram vendidos nos últimos meses para obter liquidez, totalizando cerca de U$ 7 bilhões de no final de novembro, segundo a imprensa chinesa.
“Duvido que os credores estrangeiros [da Evergrande] recebam um montante de recuperação substancial” desta liquidação, declarou Zerlina Zeng, analista de crédito da Creditsights Singapore, citada pela agência Bloomberg.
Por sua vez, o advogado de um grupo de credores, o Fergus Saurin, disse aos jornalistas que Evergrande não “estabeleceu diálogo” com eles. “Houve tentativas de diálogo no último minuto que não levaram a nada”, disse ele. “A empresa só tem culpa”
Após o anúncio da sentença, as ações da Evergrande caíram mais de 20% nesta segunda-feira na Bolsa de Valores de Hong Kong, que suspendeu a negociação das ações.
Quais consequências para a China?
O colapso da Evergrande, que anunciou que não podia pagar suas dívidas pela primeira vez em 2021 e foi declarada falida nos Estados Unidos, é acompanhada de perto pelas autoridades chinesas porque o grupo era um pilar da economia nacional.
O setor de construção e imobiliário da China representou cerca de um quarto do PIB chinês. Durante décadas, os novos imóveis na China eram pagos pelos proprietários antes mesmo de serem construídos, e os grupos imobiliários financiavam facilmente suas novas construções a crédito.
Mas a enorme dívida do setor tem sido vista nos últimos anos pelos que estão no poder como um grande risco para a economia e o sistema financeiro do país.
Pequim reforçou gradualmente, desde 2020, as condições de acesso ao crédito para promotores imobiliários, o que secou as fontes de financiamento para grupos já endividados.
No final de junho, a Evergrande estimou as suas dívidas em U$ 328 bilhões.
O impacto da decisão desta segunda-feira no negócio de construção de Evergrande na China é “desconhecido”, disse Ken Cheung, estrategista-chefe de câmbio para a Ásia na Mizuho, mas a liquidação provavelmente lembrará os investidores da saúde precária do setor e “poderá manter os investidores estrangeiros longe”.
A China anunciou várias medidas para apoiar o seu setor imobiliário, mas os resultados tiveram pouco efeito até agora.