Na esteira das cerimônias que recordaram os 50 anos do golpe de Estado no Chile, que culminou na ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), o Conselho de Ministros da Espanha concordou nesta terça-feira (12/09) em retirar a medalha concedida ao ditador.
Pinochet, que comandou um regime autoritário no Chile por 17 anos, foi condecorado em 1975 com a Grã-Cruz do Mérito Militar, concedida pelo governado ditatorial de Francisco Franco.
O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, havia anunciado a decisão pelo X (antigo Twitter), afirmando que medida é um “momento de reparar uma injustiça histórica”. “Há 50 anos, a democracia chilena foi vítima de um ataque brutal que abalou o mundo”, disse.
O ditador chileno recebeu a medalha em Santiago, capital do Chile, em uma cerimônia no edifício que era utilizado como seu governo em 1975, o prédio Diego Portales. A condecoração foi dada pelo chefe do Estado-Maior Central do Exército Espanhol, Tenente General Emilio Villaescusa, em nome de Franco.
Pinochet, falecido impunemente em 2006, foi o único chefe de Estado a assistir ao funeral do ditador espanhol Franco, falecido em novembro de 1975.
Segundo uma reportagem da agência espanhola Efe sobre o evento, Villaescusa descreveu a medalha como “a mais alta distinção do Exército em tempos de paz”, enquanto Pinochet disse receber com “profunda emoção”, acrescentando que sempre “esteve próximo da Espanha por motivos de tradição, de afeto”.
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Augusto Pinochet comandou a ditadura chilena que perdurou por 17 anos
Gabriel Boric, presidente do Chile, agradeceu o gesto do governo da Espanha, afirmando que esta decisão tem como significado pela “memória e justiça” ao povo chileno, mas também “para o futuro, para que nunca mais”.
A medida de Madri acontece após o governo argentino do presidente Alberto Fernández ter retirado insígnia da Ordem de Maio do Mérito Militar e o colar da Ordem do Libertador San Martín concedida a Pinochet.
O anúncio foi feito pela ministra porta-voz da Presidência, Gabriela Cerruti, que leu uma carta do mandatário argentino justificando a decisão de anular as condecorações, que foram entregues ao líder do regime ditatorial chileno em 1977, quando a Argentina também vivia uma ditadura.
“Pinochet não é digno da gratidão da nação argentina, pois foi alguém que implementou em seu país, nosso vizinho, políticas que devastaram a vida e degradaram a condição humana, cuja ação ofende os valores e princípios norteadores de nossos heróis, resultando em incompatibilidade com esses prêmios”, disse a carta de Fernández.
Opera Mundi tem uma série especial com relatos de brasileiros que viveram o fim do governo Allende e início da ditadura Pinochet, episódio que completa 50 anos em 11 de setembro de 2023.
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