O presidente do Chile, Sebastian Piñera, afirmou nesta quarta-feira (04/09) que não “compartilha da alusão” que Jair Bolsonaro fez ao responder a alta comissária para os direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet. O mandatário brasileiro elogiou a a “coragem” da ditadura de Augusto Pinochet que torturou e assassinou o pai da ex-presidente chilena.
“Não compartilho da alusão feita pelo presidente Bolsonaro a um ex-presidente do Chile e, especialmente, a um assunto tão doloroso quanto a morte de um pai”, disse Piñera.
O presidente chileno ainda afirmou que “toda pessoas tem direito a ter um juízo histórico próprio sobre os governos que tivemos no Chile nas décadas de 70 e 80. Mas […] essas visões sempre devem ser expressadas com respeito pelas pessoas”.
Piñera ainda disse que, “sobre esse assunto, é de conhecimento público meu compromisso permanente com a democracia, liberdade e respeito aos direitos humanos em todos os momentos, lugares e circunstâncias”.
Chancelaria
Em nota, o ministro das Relações Exteriores do Chile, Teodoro Ribera, afirmou que os países têm “interesses em comum e uma relação histórica que transcende conjunturas e governos”.
“Queremos estabelecer com o Brasil uma relação que olhe o futuro em torno dos desafios comuns do nosso continente. A história do Chile nos últimos 50 anos nos mostra a importância de salvaguardar os Direitos Humanos, o Estado de Direito e proteger sua institucionalidade. Essa visão é compartilhada hoje pela grande maioria dos chilenos, que desenvolveram uma sensibilidade especial em relação a todos os afetados”, disse.
O texto ainda afirma que o papel de Michelle Bachelet na presidência do Chile, “assim como os demais ex-presidentes”, teve um papel “decisivo”, e que a República do Chile “reconhece e valoriza sua contribuição ao país”.
“Hoje, Bachelet exerce um cargo de alta comissária para os direitos humanos da ONU e as declarações que ela emite nessa função, e nas decisões que ela adota, são uma questão desse órgão e dos Estados a que se refere”, afirma a nota.
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Sebastian Piñera condenou falas de Bolsonaro sobre morte do pai de Michelle Bachelet
Ao jornal La Tercera, o presidente do Senado chileno, afirmou que Bolsonaro “agride a memória dos chilenos” e que o presidente brasileiro não “está à altura de um chefe de Estado em nenhum país”. O senador usou sua conta no Twitter para repudiar a posição de Bolsonaro e disse que o mandatário, às vezes, “parece um ditador vestido com um traje democrata”.
José Miguel Insulza, senador e ex-secretário geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), disse que Bolsonaro “tem demonstrado uma capacidade absolutamente impressionante em insultar as pessoas”. Insulza afirmou que espera uma nota de protesto do governo chileno, mas acredita que “não vá ocorrer”. Ele ainda disse que não se sente “surpreso” de Bolsonaro ter elogiado o ditador chileno, porém se “incomoda” com a situação.
“As declarações de Bolsonaro revelam que ele não entende o mínimo das normas de um Estado de Direito”, disse o presidente do Partido pela Democracia e ex- chanceler do Chile, Heraldo Muñoz, ao periódico La Tercera. Pelo Twitter, Muñoz disse que Bolsonaro não está “à altura do digno povo brasileiro” e que uma “maioria” sente vergonha de tê-lo como presidente.
Ao jornal O Globo, Issa Kort, deputado do Partido União Democrática Independente (UDI), que faz parte da coalizão de governo do presidente Piñera, disse que as declarações “são lamentáveis”, pois ele “usa a figura de Bachelet para assuntos de política interna do Brasil”. “As batalhas se ganham com ideias, não com acusações desse tipo. Uma liderança política séria e responsável deve ter argumentos e não fazer ataques”, afirmou.
Por sua vez, a deputada Camila Vallejos disse que lamenta que “o povo brasileiro tenha uma presidente que faz apologia da ditadura”.
O ex-embaixador do Chile na Argentina e Washigton, Juan Gabriel Valdés, também afirmou ser “miserável” as declarações de Bolsonaro.