O embaixador argentino na Bolívia, Ariel Basteiro, disse nesta terça-feira (03/08) que novos documentos encontrados na Argentina comprovam o “crime de tráfico de armas” realizado na gestão do ex-presidente Mauricio Macri ao enviar armamentos durante o golpe de Estado que culminou na renúncia de Evo Morales em 2019.
Em entrevista à rádio argentina El Destape, Basteiro explicou que, na Bolívia, o caso é investigado “como tráfico de armas” após a descoberta do envio e que, segundo ele, “continuam a aparecer documentos de embarque de armas”.
Ainda de acordo com o diplomata, o último documento encontrado faz referência a um material bélico localizado em depósitos do Ministério da Defesa da Bolívia.
“Este documento recém-descoberto significa uma confirmação de que o material enviado da Argentina pelo governo Macri foi fruto de contrabando. Resta saber o que foi recebido pela Força Aérea Boliviana, que poderia muito bem ter sido utilizado em atos repressivos”, disse Basteiro.
O argentino explicou que Macri e ou outro ex-funcionário de seu governo ainda não estão sendo convocados para responder judicialmente na Bolívia, e que o único acusado, até o momento, é o ex-embaixador argentino Álvarez García, que é atual ministro do Trabalho da província de Jujuy.
A Argentina está envolvida no caso pelo envio de 70 mil cartuchos de munição AT 12/70, em 2019, ainda no governo do ex-presidente Macri, conforme anunciou o ministro de governo da Bolívia, Eduardo del Castillo.
Em julho, o governo argentino denunciou Macri e outros funcionários de seu mandato pelo envio de “material repressivo” à Bolívia. Segundo o texto apresentando, é denunciado o “embarque ilegal de armas e munições para a Bolívia perpetrado em 12 de novembro de 2019 pelo governo nacional chefiado pelo ex-presidente Mauricio Macri, com a participação de altas autoridades do Poder Executivo Nacional”.
Santiago Sito/Reprodução
Material repressivo teria sido entregue à Bolívia no âmbito do golpe que culminou na renúncia de Evo Morales
O documento aponta ainda que o fato consistiu um “envio irregular de armamentos e munições” com o objetivo de “colocar esse material repressivo à disposição da ditadura que recém havia tomado o poder no país vizinho, encabeçada por Jeanine Áñez”.
Em novembro de 2019, após ter vencido as eleições, o presidente Evo Morales, do Movimento pelo Socialismo (MAS), foi forçado a deixar seu cargo pela direção das Forças Armadas, após pressões da Organização dos Estados Americanos (OEA), da cumplicidade da Direita e de governos da região, como Brasil, Argentina, Chile e Peru.
Na Argentina, a apuração mais avançada sobre o suposto contrabando à Bolívia era comandada pelo juiz Javier López Biscayart, que transferiu o comando para Alejandro Catania nesta segunda-feira (02/08), já que o colega havia recebido a primeira denúncia sobre o caso.
O pedido de investigação foi apresentado pelo governo nacional, através da ministra de Segurança, Sabina Frederic, do ministro de Justiça, Martín Soria, e da titular da Administração Federal de Ingressos Públicos (Afip), Mercedes Marcó.
Segundo informa o jornal argentino Página 12, o juíz Biscayart acumulou um volume de provas expressivas. Constam na investigação os documentos concedidos pelo governo, que revelam as munições que saíram do território argentino e que não foram declaradas no manifesto de carga.
Após a descoberta do envio, Alberto Fernández, atual presidente da Argentina, se desculpou, em nome do povo de seu país, pelo papel desempenhado pelo governo de seu antecessor no golpe contra o então reeleito presidente boliviano Morales.
(*) Com Brasil de Fato.