O jornalista e um dos maiores críticos de música brasileira José Ramos Tinhorão morreu nesta terça-feira (03/08), aos 93 anos. Segundo informação da Editora 34, que publicou a maioria de seus livros e confirmou a notícia de sua morte, ele estava internado com pneumonia há dois meses, tendo a saúde afetada pela idade e por um AVC que sofreu há 3 anos.
Nascido em Santos, no litoral paulista, em 1928, Tinhorão foi com a família para o Rio de Janeiro em 1938. Ali se formou em Direito e em Jornalismo, e começou a trabalhar como redator free-lancer, até obter o registro profissional. Primeiro no Diário Carioca, depois no Jornal do Brasil, colaborou com várias redações e tornou-se um pesquisador incansável da música brasileira.
Na profissão desde o início dos anos 1950, ficou conhecido como implacável crítico musical, a partir de um artigo de 1963 para a revista Senhor, em que citava a jovem Bossa Nova e exibia seu estilo mordaz: “Filha de aventuras de apartamento com a música [norte-]americana, que inegavelmente é sua mãe, a Bossa Nova padece do mesmo mal de tantas crianças de Copacabana, o bairro onde nasceu: não sabe quem é o pai”.
Rovena Rosa/ABr
Nascido José Ramos, ele virou Tinhorão a partir de uma brincadeira de redação e se tornou referência de pesquisa em música popular
Passou a ser chamado de “Tinhorão” dentro da primeira redação em que trabalhou. José Ramos teria ficado indignado quando viu seu nome assinado como J. Ramos Tinhorão logo na primeira matéria, mas acabou sendo convencido, ou quase, das vantagens que a “exclusividade” nominal lhe traria.
“Advogado e jornalista, Tinhorão sempre soube separar o joio do trigo”, escreveu o amigo Assis Ângelo em seu blog. “Nunca defendeu causa alguma em nenhum tribunal, mas como jornalista marcou profundamente a vida brasileira, especialmente a cultural. Detalhe: Nunca deixou de dizer o que quis, seja no rádio, na tevê ou nos seus escritos em jornais e revistas”, acrescentou. Ele considera Tinhorão, com aproximadamente 30 títulos públicos, a principal referência do país em termos de música popular, “um brasileiro de valor”.
Mesmo aqueles que não concordavam sabem que ele era um profundo conhecedor do assunto. “Extraordinário historiador da cultura popular, especialmente da música tradicional brasileira. Discordava um bocado dele, mas aprendi à beça com suas pesquisas”, comentou em rede social Sérgio Augusto, colega nos tempos de Correio da Manhã, sob comando de Jânio de Freitas, ainda nos anos 1960.
“Impossível, para qualquer um interessado em nossa música, não ter sido impactado por seus livros e textos”, comentou o jornalista e roteirista André Barcinski.
(*) Com Rede Brasil Atual.