A jornada em que se rememora os 50 anos do golpe de Estado de 1973 no Chile teve seu início na noite deste domingo (10/09), quando milhares de mulheres realizaram um ato marcante do movimento feminista chileno em homenagem às desaparecidas, executadas e torturadas pelo regime do ditador Augusto Pinochet.
Convocadas pelo Coletivo Feminista 8M, as participantes encararam uma chuva fina e os menos de 10 graus da noite em Santiago e se reuniram na Praça da Constituição, em frente ao Palácio de La Moneda, e contaram com o apoio governamental, que aceitou apagar todas as luzes em volta da sede do Poder Executivo.
Entre as participantes estavam a ministra das Culturas, Artes e Patrimônio, Carolina Arredondo, e a subsecretária das Culturas e das Artes, Noela Salas. Além da chefe da Secretaria Geral do governo, Camila Vallejo.
Vestidas de preto e carregando velas, as mulheres iniciaram o ato “Nunca+: a Democracia Bombardeada” ao som de bumbos e um longo silêncio entre um golpe e outro, que deram o tom de solenidade do evento.
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Em seguida, uma porta-voz do Coletivo 8M entoou os gritos da multidão de mulheres pedindo um “nunca mais atentar contra a democracia no Chile”, ao que suas companheiras responderam gritando a plenos pulmões: “NUNCA MAIS!”. E os clamores seguiram: “nunca mais desaparecidas e executadas, nem desaparecidos e executados”, “NUNCA MAIS!”; “nunca mais violência sexual política”, “NUNCA MAIS”; “nunca mais corpos queimados e degolados”, “NUNCA MAIS!”.
Ao final, as mulheres terminaram com um longo coro de “nunca mais!, nunca mais!, nunca mais!” que durou longos minutos, enquanto a chuva e o frios ficavam mais fortes, mas não o suficiente para demovê-las de sua missão de inaugurar a jornada pela memória de um dos momentos mais trágicos da história do Chile, que completa 50 anos nesta segunda-feira, 11 de setembro.
Alejandra Valle / La Voz de los que Sobran
Mulheres realizaram emotivo ato pelos 50 anos do golpe de Estado no Chile, em frente ao Palácio de La Moneda
Violência nos atos durante a tarde
Durante a tarde deste domingo, ocorreu a tradicional Marcha da Romaria, que acabou sendo interrompida por um enfrentamento que reuniu cerca de 50 pessoas encapuzadas e as forças policiais. Realizada anualmente na véspera da data que marca o golpe contra Salvador Allende, em 1973, a caminhada normalmente segue no dia seguinte para homenagear mortes e desaparecidos pela ditadura que durou 17 anos no país.
A marcha deste ano também lembrou os 50 anos do golpe militar comandado pelo ditador Augusto Pinochet. De acordo com agências de notícias, os atos seguiam pacificamente, até que o grupo contrário atirou pedras e paralelepípedos contra o palácio presidencial La Moneda, quebrando seis janelas. Também foram registrados ataques com coquetéis molotov, deixando três agentes e um cachorro da polícia feridos.
Também ocorreram confrontos em outros pontos da capital chilena, como o Mercado Tirso de Molina e no Cemitério Geral, onde foi registrado confronto entre os manifestantes e o grupo encapuzado.
“Como Presidente da República, condeno categoricamente esses atos sem nenhum tipo de matiz. A irracionalidade de atacar aquilo pelo que Allende e tantos outros democratas lutaram é vil e mesquinha”, escreveu o presidente Gabriel Boric, em sua conta na rede social X [antigo Twitter].
O vice-ministro do Interior, Manuel Monsalve, informou ao La Jornada, que cinco mil policiais estão destacados para salvaguardar todas as atividades comemorativas dos 50 anos do golpe militar.
Com informações do Brasil de Fato e La Voz de los que Sobran.