A imprensa francesa desta sexta-feira (28/04) repercute mais um capítulo do giro do presidente Emmanuel Macron pela França, marcado por panelaços e a revolta da população com a adoção da controversa reforma da Previdência. O chefe de Estado esteve ontem na região do Doubs, no leste, para lembrar o 175° aniversário da abolição da escravatura no país e, mais uma vez, não foi poupado pelos protestos.
“Macron, desce do castelo e vem confrontar o povo”: essa é uma das várias mensagens exibidas nos cartazes de manifestantes na quinta-feira (27/04), em atos marcados por barulhentos panelaços por onde quer que o presidente francês passe. O jornal Les Echos destaca que nesta segunda semana de viagens do chefe de Estado pelo interior da França, a revolta da população não dá trégua.
Como na semana passada, cidadãos e cidadãs continuam a confrontar o presidente. “Por que você não taxa os salários imensos dos grandes empresários?”, lançou um homem na quinta-feira na pequena cidade de Dole, em um momento em que Macron, diante das câmeras, tentou ir ao encontro de uma multidão que o aguardava. O resultado, diz Les Echos, foram intensas discussões sobre o poder aquisitivo, baixos salários, dificuldade para o acesso à saúde e as dificuldades do dia a dia da população.
“Panelaços deprimem o governo” é o título de uma matéria do jornal Le Parisien que, apesar do prazo de 100 dias estabelecido pelo presidente para apaziguar o país, em 17 de abril, o Executivo já dá sinais de exaustão. Afinal, os protestos não têm como alvo apenas o presidente francês, mas qualquer membro do governo que ouse sair em público.
Twitter/CFDT Île-de-France
Protestos já não têm como alvo apenas presidente francês, mas qualquer membro do governo
“Vamos ser recebidos com vaias e panelaços?”: segundo Le Parisien, “essa é a pergunta que assombra ministros cada vez que colocam um pé para fora”. Na quinta-feira, o ministro francês das Forças Armadas, Sébastien Lecornu, adiou sua visita à região da Loire Atlantique, no noroeste da França, para evitar os protestos que a população local preparava. Na segunda-feira (24/04), o ministro francês da Educação, Pap Ndiaye, ficou bloqueado por longos minutos por manifestantes em uma estação de trem de Lyon, no centro-leste da França, e só conseguiu sair do local sob escolta policial.
Em menos de duas semanas, cerca de trinta membros do governo viram suas visitas paralisadas por protestos, uma situação “terrível em termos de imagem”, diz um assessor do governo, sob anonimato, ao jornal. “Jamais vimos isso”, reconhece, prevendo que a indignação da população “deve durar ainda um bom tempo”.
Dia do Trabalhador terá manifestações em todo o país
O próximo 1° de maio, Dia do Trabalhador, deverá ser um bom termômetro dessa revolta. “As centrais sindicais querem frutificar a mobilização”, é o título de uma reportagem do jornal La Croix. A data será marcada por grandes manifestações e atos em todo o país, com a esperança de que a reforma da Previdência seja revogada.
O diário destaca que o movimento, que teve início em janeiro, é o maior dos últimos 50 anos e faz com que organizações sindicais contabilizem milhares de novos membros, um aumento de até 30% comparado a anos anteriores. O fenômeno faz com que o diálogo social endureça nas empresas levando o desgosto da população com o governo para os locais de trabalho.
Percebendo a amplificação do fenômeno, a primeira-ministra francesa, Elisabeth Borne, anunciou na quinta-feira que pretende se reunir com líderes sindicais no início de maio para, segundo ela, “renovar o diálogo social”. No entanto, o objetivo não é tratar da reforma da Previdência, que o governo considera como uma página virada, mas sobre um projeto de lei sobre a questão do trabalho nas empresas.