Novas denúncias realizadas nesta quarta-feira (04/05) por jornais colombianos indicam que a campanha eleitoral de Óscar Iván Zuluaga teria espionado e-mails do ex-vice-presidente da Colômbia Francisco Santos e teria tido acesso a informações de inteligência privilegiadas. As revelações ocorrem em meio ao segundo turno da conturbada campanha presidencial. De acordo com as últimas pesquisas divulgadas no país, Zuluaga e o atual presidente, Juan Manuel Santos, estão tecnicamente empatados.
Agência Efe
Favorito durante todo o primeiro turno da campanha presidencial, Santos ficou atrás de Zuluaga
O cidadão equatoriano Daniel Agustín Bajaña Barragán foi detido hoje pela promotoria, acusado de ter interceptado ilegalmente e-mails de funcionários do governo, entre eles o ex-vice-presidente, e membros das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) relacionados com o processo de paz realizado em Havana desde setembro de 2012.
O caso tem relação com as investigações em torno das atividades ilegais realizadas pelo escritório de Andrés Sepúlveda, que teria tido acesso ao e-mail do presidente Santos e de outras pessoas vinculadas aos diálogos de Havana.
O diretor do Corpo Técnico de Investigação da Promotoria, Julián Quintana, afirmou que Barragán “interceptou o e-mail de pessoas determinadas e obteve informação de inteligência privilegiada”. Ele acrescentou ter “fortes indícios de que o fato tem relação com o Caso Andrômeda”, quando foi descoberto que um centro clandestino de espionagem, formado por membros do Exército colombiano, supostamente espionou representantes do governo que fazem parte dos diálogos com as FARC. O caso segue sob investigação, mas provocou a queda de parte do alto comando das Forças Armadas do país.
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Ao jornal El Tiempo, Rafael Revert, que gravou o vídeo que relaciona Zuluaga com as atividades de Sepúlveda e é o autor das denúncias, revelou que em um dos computadores utilizados por Barragán havia informação de inteligência de mais de seis países diferentes e coisas que “não eram próprias de uma campanha presidencial nas redes sociais”, por isso desconfiou das atividades e resolveu reunir provas. De acordo com a testemunha, que trabalhou para a campanha de Zuluaga, o objetivo destas ações era dizer às FARC que o governo estava lhes “dando as costas”, em um “jogo sujo” para que a guerrilha se convencesse disso.
Cenário indefinido
Assim como no primeiro turno, a questão dos diálogos de paz com as FARC terão destaque na segunda volta eleitoral. Apesar de o afiliado do ex-presidente Álvaro Uribe, Zuluaga, ter declarado que manterá a negociação, com algumas exigências, setores ligados à esquerda, à centro-esquerda e conservadores manifestaram, por motivações diferentes, apoio a Santos pela continuidade do processo, considerado essencial para o país.
Diante desse cenário, a última pesquisa divulgada no país, realizada pela empresa Polimétrica para a Rádio Caracol e a Red + Noticias, revela que apesar da vitória do candidato uribista no primeiro turno, Santos seria reeleito com 38% dos votos, contra 37% de Zuluaga.
Agência Efe
Álvaro Uribe, apesar de ter deixado a presidência em 2010, segue como uma das figuras mais influentes da Colômbia
Analistas colombianos consideram que a decisão estará nas mãos dos colombianos que se abstiveram das urnas no dia 25 de maio. A taxa de não comparecimento foi de 60%, a maior dos últimos 20 anos. De acordo com o levantamento mais recente, 15% dos cidadãos votarão em branco e 10% estão indecisos.
Entre os fatores para a alta abstenção, especialistas apontam os diversos escândalos que marcaram ambas as campanhas eleitorais, a ausência de conexão entre os candidatos e os cidadãos e a falta de divergências significativas nos programas de governo, para além dos diálogos de paz, já que tanto Santos, quanto Zuluaga adotam o viés econômico neoliberal.
Polarização eleitoral
A grande polarização entre os candidatos em torno dos caminhos para o término do conflito armado no país, que dura mais de 50 anos, poderia reduzir as margens de abstenção e o voto em branco. O desfecho eleitoral também dependerá da capacidade dos ex-candidatos de transferirem seus votos.
Agência Efe
Em sua declaração hoje, Clara Obregon pediu que a Colômbia vote pela paz, ou seja, em Santos
A conservadora Marta Lucía Ramírez declarou seu apoio a Zuluaga desde que ele continue os diálogos de paz com a condição de que a guerrilha se comprometa com um cessar-fogo com duração indefinida que contemple o fim de minas terrestres e do recrutamento infantil, assim como o fim dos ataques contra civis, soldados e infraestruturas energéticas. Parte de seu partido, no entanto, manterá o apoio que já havia sido declarado a Santos no primeiro turno.
O presidente-candidato também recebeu o respaldo da ex-presidenciável de esquerda, Clara López Obregon, nesta quarta. “Quero anunciar que vou votar pela paz da Colômbia encabeçada por Juan Manuel Santos”, e ressaltou que seu partido fará “valer nosso voto pela paz”. O Polo Democrático, no entanto, liberou seus correligionários para votar no candidato de sua preferência ou em branco.
O Partido Verde não declarou apoio a nenhum dos dois candidatos, liberando seus partidários para votarem como queiram.