Os principais sindicatos agrícolas franceses pediram, nesta quinta-feira (01/02), a suspensão dos bloqueios dos produtores rurais em toda a França, após uma série de anúncios feitos pelo primeiro-ministro francês, Gabriel Attal. Agricultores esperam nas estradas que governo entregue um documento escrito com as promessas.
“Em vista de tudo o que foi anunciado (…), temos que mudar os modos de ação e então pedimos às redes (…) que suspendam os bloqueios e entrem em uma nova forma de mobilização”, declarou o presidente do sindicato Jovens Agricultores, Arnaud Gaillot, ao lado do presidente da Federação Nacional de Sindicatos de Produtores Agrícolas, a FNSEA, Arnaud Rousseau, que celebrou “progressos concretos” nos anúncios feitos pelo governo francês.
“O movimento não para, mas se transforma”, resume Rousseau. As duas organizações fizeram um apelo a seus membros para que trabalhem em parceria com prefeituras e ministérios para implementar as medidas mencionadas pelo premiê francês. O objetivo é responder às demandas dos agricultores mobilizados em toda a França há vários dias.
Os representantes dos sindicatos estabeleceram, no entanto, várias condições para não retomar o movimento. Os “primeiros resultados” das medidas devem ser anunciados até a data em que acontece o Salão da Agricultura, em Paris, de 24 de Fevereiro a 3 de Março. Eles também exigem a adoção de uma lei de orientação e sobre o futuro da Agricultura, além de medidas tomadas no âmbito europeu, até junho.
“Se até o mês de junho isso não for cumprido, o movimento de mobilização geral será retomado”, declarou Arnaud Gaillot. Os dois sindicalistas pediram um documento resumido que colocasse por escrito todos as promessas do governo.
Surdez da Europa
Antes do Salão da Agricultura, “temos quinze dias para ver se tudo isto é sério, se é confiável e se tem fundamento”, declarou Arnaud Rousseau. O responsável da FNSEA elogiou a disposição do primeiro-ministro “em tentar perceber quais são as nossas questões, nos receber, trocar ideias, para discutir e finalmente anunciar medidas de emergência”, declarou.
“Ao mesmo tempo, questionamos a surdez da Europa”, acrescentou, referindo-se “à crescente incompreensão entre uma estrutura tecnocrática, fechada em seus escritórios em Bruxelas e a realidade daquilo que vivenciamos nas nossas fazendas”.
O apelo dos sindicatos foi feito pouco depois de o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, anunciar uma série de medidas para respondera às demandas dos agricultores.
O chefe do governo francês disse que pretende incluir “na lei o objetivo da soberania alimentar”, ou seja, a capacidade de um país produzir os seus próprios alimentos. “Faremos isso com os agricultores com base em indicadores claros definidos com eles”, e “vamos consagrar a agricultura no Código Rural como um interesse fundamental da nação”, detalhou Gabriel Attal.
REUSSIR/Twitter
Agricultores ouviram apelos do sindicato e anúncios do governo, mas pedem garantias escritas
“Não é uma soberania tirada de si mesma, porque não esqueço que a nossa agricultura é um dos nossos principais sectores exportadores, com cereais, vinhos, bebidas espirituosas, lacticínios. Mas é uma abertura com regras de reciprocidade e os mesmos requisitos para todos”, acrescentou.
O governo também vai dedicar “150 milhões de euros em apoio fiscal e social a partir deste ano e numa base de longo prazo”, para pecuaristas, anunciou o primeiro-ministro. “Os nossos criadores precisam de apoio específico”, explicou Gabriel Attal, especificando que “o trabalho com o setor permitirá especificar as modalidades”.
O ministro da Economia, Bruno Le Maire, já havia anunciado em outubro uma medida de isenção fiscal para criadores de gado que não satisfez o setor.
Le Maire anunciou que serão realizados “10 mil controles” a produtos que alegam origem francesa, através de seus rótulos ou da presença de bandeira da França. As sanções, em caso de infração, podem chegar a 10% do faturamento dos fabricantes ou distribuidores que cometeram fraude, especificou o ministro.
No que diz respeito ao cumprimento das leis “Egalim”, que visam garantir um rendimento mínimo aos agricultores, “todas as maiores cadeias de varejo serão controladas nos próximos dias sem exceção”, assim como as marcas distribuidoras, anunciou o ministro.
Além disso, o governo também anunciou uma pausa no plano de redução do uso de agrotóxicos.
Desmobilização
Os agricultores ouviram os apelos do sindicato e os anúncios do governo, mas pedem garantias escritas.
Segundo fonte policial, ao meio-dia, mais de 6.000 manifestantes e 3.500 máquinas estavam mobilizadas em pouco menos de 100 bloqueios.
Mas vários bloqueios começaram a ser levantados ao final da tarde, sobretudo o da ponte Cheviré, a oeste de Nantes (oeste). Na estrada A75, no sul de Lozère (sul), a barreira “está sendo levantada”, disse Hervé Boudon, chefe da polícia no departamento, à AFP no meio da tarde. Mas Eric Brunel, membro da coordenação rural local, prometeu novas ações no sábado (3) diante da prefeitura.
Na região de Provence-Alpes-Côte-d’Azur (sul) “vamos suspender os bloqueios, mas continuaremos a pressionar”, declarou o porta-voz da FRSEA Laurent Depieds, enquanto a polícia do Norte declarou, às 17h30, “não há mais bloqueios na malha viária” do departamento.
O comboio de agricultores que saiu de Agen (Sul) e viajou cerca de 700 km, com destino a Rungis, na periferia de Paris, parte do qual foi bloqueado pela polícia, voltará para o Sudoeste, anunciou quinta-feira à AFP José Perez, copresidente da Coordenação Rural 47.