“Do ponto de vista de interferir na política institucional, a campanha pelo voto nulo em 1970 foi a nossa grande vitória”. Quem relembra o episódio eleitoral brasileiro é Carlos Eugênio Paz, codinome Clemente, ex-comandante militar da ALN (Ação Libertadora Nacional), grupo armado de resistência à ditadura militar (1964-1985). “Em todo o lugar que tínhamos militantes, mandamos panfletos”, completa.
Em entrevista exclusiva — cuja segunda parte é publicada nesta quinta-feira (2805) —, o ex-guerrilheiro contou detalhes dos tempos de clandestinidade. Enquanto comandante militar da ALN, Carlos Eugênio Paz chegou a realizar diversas ações de resistência ao regime militar e foi um dos participantes da operação de maior notoriedade: o justiçamento do empresário Henning Albert Boilesen, em abril de 1971 — foi, inclusive, o “alfa” do grupo, responsável pelo tiro que confirmou a morte do presidente da Ultragaz.
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“A soma da Arena e do MDB [únicos partidos políticos permitidos durante o regime] não totalizou a quantidade de votos nulos daquela eleição”, relembra Clemente, sobre o pleito de 1970, considerado por ele a principal conquista dos membros da luta armada junto à sociedade brasileira. Ao final da apuração, nulos, brancos e abstenções chegaram à marca de 14 milhões no pleito.
A baixa participação na votação nominal dos candidatos chamou a atenção da sociedade civil à época, por seu ineditismo. A revista Veja noticiou da seguinte maneira as eleições de 25 de novembro de 1970:
No princípio foi o pânico. Computados os eleitores que simplesmente não foram votar, os que votaram em branco ou anularam seu voto, ficou claro que quase 50% dos brasileiros habilitados se recusaram a escolher representantes para o Congresso Nacional e as assembléias legislativas.
Conforme explica em artigo o historiador Luiz Felipe de Alencastro, professor na Universidade de Paris-Sorbonne e professor-convidado da Escola de Economia da FGV de São Paulo, os votos nulos e brancos dobraram no país em números absolutos: “passando de 21% em 1966 para 30% em 1970”.
No vídeo, Carlos Eugênio Paz também fala sobre a vida no exílio e os tempos de militância:
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Opera Mundi TV
Carlos Eugênio Paz, codinome Clemente, comandante militar da ALN (Ação Libertadora Nacional)