A mortalidade de bebês indígenas voltou a subir no primeiro ano de governo de Jair Bolsonaro, após atingir níveis historicamente baixos em anos anteriores durante a atividade de médicos cubanos que participavam do programa Mais Médicos. Em reportagem publicada nesta segunda-feira (02/03), a BBC Brasil apontou que entre janeiro e setembro de 2019 morreram 530 bebês indígenas com até um ano de idade, o que corresponde a uma alta de 12% em relação a 2018.
O aumento da mortalidade coincide com o fim do convênio do programa do governo de Cuba com o Brasil. De acordo com reportagem, a principal causa das mortes dos bebês em 2019 foram algumas afecções no período perinatal (24,5%), doenças do aparelho respiratório (22,6%) e algumas doenças infecciosas e parasitárias (11,3%).
O índice de mortes de bebês indígenas em 2019 foi o maior desde 2012, quando houve 545 casos no mesmo período. O Mais Médicos teve início no ano seguinte, em 2013, durante o governo da então presidente Dilma Rousseff.
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Em novembro de 2018, Cuba decidiu encerrar o convênio com o Brasil após Bolsonaro impor uma série de medidas para que o programa continuasse no país.
Apesar de amplamente criticado por Bolsonaro, o Mais Médicos foi crucial para aumentar o alcance de atendimento médico nas aldeias indígenas. Os 301 cubanos contratados pelo programa respondiam por 55,4% dos postos de médico na saúde dessa população.
Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai)/Alejandro Zambrana
BBC Brasil apontou que entre janeiro e setembro de 2019 morreram 530 bebês indígenas com até um ano de idade
Quando era deputado federal e até mesmo durante a campanha eleitoral, Bolsonaro afirmava que os médicos cubanos estavam no Brasil para “formar núcleos de guerrilha” e comparava o modelo de contratação deles no país à “escravidão”.
Apesar da substituição de parte dos profissionais por brasileiros, lideranças indígenas afirmam que a qualidade do serviço caiu. Entre as principais reclamações, está a falta de uma relação do médico com as comunidades e a recusa de muitos em ir até a aldeia.
“Eles (cubanos) não faziam objeção, não criavam nenhuma dificuldade para ir na aldeia, conviver com a realidade. Com a saída deles, sentimos esse impacto”, afirmou Sérgio Bute, indígena do povo pataxó hã-hã-hãe que preside o Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi) da Bahia.
Ainda segundo a reportagem, a alta taxa de mortalidade de bebês indígenas também é relacionada com algumas mudanças de funcionários na Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). O jornal afirma que o órgão afastou técnicos que eram próximos da gestão anterior, incluindo servidores que tinham experiência na área, como a nutricionista Janini Selva Ginani, que era a principal responsável por ações contra a mortalidade infantil.
Saúde Indígena
A BBC Brasil analisou dados que apontam uma melhora significativa na saúde da população indígena quando o programa Mais Médicos foi implementado, e também graças aos atendimentos feitos pelas Equipes Multidisciplinares de Saúde Indígenas.
No início de 2019, o Sesai divulgou um documento apontando que os atendimentos das equipes, que são formadas por profissionais de enfermagem, nutricionistas e agentes indígenas de saúde e saneamento, foi, em 2014, de 1,56 por habitante para 6,32 em 2017.
(*) Com Revista Fórum.