No programa SUB40 desta quinta-feira (23/09), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Camila Jara, do Partido dos Trabalhadores, única mulher eleita vereadora em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, um dos bastiões do bolsonarismo.
Filha de petistas, Jara contou que não se lembra do momento em que entrou para a política, pois ela sempre esteve presente em sua vida.
Retomando a trajetória do PT no estado, a vereadora afirmou que o partido estava com dificuldades de se renovar e de avançar em representatividade. Além disso, a legenda havia se afastado de sua base de trabalhadores rurais e indígenas, principalmente após o segundo mandato do ex-governador Zeca, “que fez muitas concessões à elite agrária”.
“A juventude do PT também estava completamente dizimada por conflitos entre as diferentes correntes”, revelou.
Por causa desse cenário, Jara receitou inicialmente se candidatar à vereadora, mas acabou mudando de ideia. Na época com 24 anos, ela contou que enfrentou resistência dentro do PT por ser considerada muito jovem.
“A gente vive no PT e na política do Mato Grosso do Sul um cenário em que o novo ainda não nasceu e o velho ainda não morreu, o que gera conflitos geracionais. Quando lançamos a candidatura, entendemos que precisávamos de táticas eleitorais para as quais o PT não tinha formação. Fomos para as ruas, entendemos que precisávamos resgatar o sentimento do que era construir uma sociedade menos desigual, fizemos trabalho de formiguinha e conseguimos a vitória eleitoral”, narrou.
Considerando que, só no primeiro turno, em 2018, 55% do estado votou em Jair Bolsonaro, Jara ressaltou o quanto foi simbólico por si só uma mulher, jovem e de esquerda ter sido eleita ao lado de 28 homens para a Assembleia Legislativa.
Por outro lado, “por ser mulher, eu tenho que estar três vezes mais preparada para o debate ou entender três vezes mais do que o tema do que eu teria se fosse homem”.
Reprodução/ @camilajarams
Única mulher eleita vereadora em Campo Grande, Jara precisou conquistar o respeito de seus colegas
A vereadora precisou conquistar o respeito de seus colegas, que a viam como “uma menininha”, não alguém em condições de debater de igual para igual, capaz de pensar em políticas públicas para Campo Grande.
Menos antipetismo
Por estar num núcleo do bolsonarismo, Jara contou que sofreu diversos ataques na Câmara e na internet, sendo chamada de corrupta. Segundo ela, isso está ficando mais frequente, talvez pela crescente polarização entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Em contrapartida, ela disse estar percebendo que o antipetismo vem diminuindo: “Acho que a sensação de segurança que a gente teve em fazer campanha na rua comprova isso. Já tive episódios de estar com a militância e jogarem rojão na gente, de chegar com a camiseta vermelha e não conseguir dialogar com a população. Em 2020, as pessoas estavam muito mais receptivas, queriam saber o que você trazia de novo”.
Já neste ano, a vereadora destacou que o Mato Grosso do Sul foi o primeiro estado a sair às ruas contra Bolsonaro, em janeiro, “e em 2 de outubro estaremos nas ruas outra vez”.
Novo governo Lula
Jara tem poucas memórias dos mandatos do ex-presidente Lula, mas se mostrou esperançosa diante da possibilidade de um novo governo seu. Para ela, Lula “é o grande líder do Brasil”.
No entanto, se eleito, ele terá de travar as batalhas que não travou quando estava no governo, como argumentou a vereadora. Ela citou como exemplos a reforma tributária, a reforma bancária e a industrialização incompleta do país.
“Lula vai ter que enfrentar os debates dos quais fugimos. Lá atrás ele entendeu que tinha que conversar com a juventude e esse novo governo terá que ser feito também com muito diálogo. O PT precisa fazer um debate geracional muito grande, que ainda não foi feito. É preciso entender que a nova geração não está aí só para carregar piano ou organizar reuniões, mas para pensar em políticas públicas e nos rumos que queremos que o partido e o governo construam”, ressaltou.