No programa SUB40 desta quinta-feira (24/06), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou João Carvalho, historiador, youtuber marxista e criador do podcast Revolushow, sobre a luta revolucionária no Brasil e no mundo.
Carvalho se define como marxista-leninista-maoísta. Para ele, Mao Zedong foi um passo além na elaboração de estratégias revolucionárias a partir da organização da classe camponesa. E essas estratégias podem ser aplicadas ao Brasil, “pois ainda temos uma população rural muito grande, principalmente no norte e no nordeste do país”.
“Temos que realizar a organização das massas populares a partir do campo. O Brasil é um país que nunca fez uma reforma agrária, nunca lidou com a sua própria colonialidade, continua a triturar os povos originários. É um país racista que continua a massacrar seus camponeses. Por isso digo que é só por meio da revolução que o Brasil pode alcançar sua verdadeira independência”, argumentou.
Carvalho ressaltou como caminho a guerra prolongada e o cerco das cidades pelo campo, “porque acho que tem a possibilidade de ser mais vitorioso do que boa parte dos caminhos tentados até agora”, e afirmou que é necessária a construção de um partido comunista maoísta no Brasil.
A experiência soviética
Analisando os caminhos tentados até o momento, Carvalho elogiou a experiência soviética. Além de promover igualdade social e cultura, a URSS emergiu da Segunda Guerra Mundial como uma das duas potências globais.
“Não foi apenas um país que cresceu, mas a qualidade de vida da população melhorou, apesar do mundo inteiro torcendo contra e perseguindo aqueles ideais. O problema veio após o 20º Congresso do Partido Comunista, quando já não havia mais uma condução socialista. Mas é importante levar essa experiência com balanço crítico, para aprender”, refletiu.
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Historiador, youtuber marxista e criador do podcast Revolushow João Carvalho foi o entrevistado do SUB40 desta quinta (24/06)
Países que aprenderam com a experiência soviética foram Vietnã e China, apesar de que Carvalho disse não considerar a China como um país socialista: “Está em transição”. De fato, o plano chinês é se converter numa nação socialista até 2049.
Isso não significa, contudo, que a China é capitalista, pois não incorpora a sua política elementos como o imperialismo, “o que me leva a crer que é possível que a China atinja uma sociedade socialista moderadamente próspera no tempo que se propõe a fazê-lo”.
‘Não acho que Lula seja a solução’
Discorrendo sobre a possibilidade de uma revolução socialista no Brasil, Carvalho descartou que esta se dê por meio das urnas, como defendem especialistas como Vijay Prashad.
“A não ser que haja um movimento que aglutine o povo para ganhar o executivo federal num movimento capitaneado pela vanguarda, constituído por um partido marxista leninista que comece ali um processo revolucionário, sabendo que com isso estariam começando uma guerra com setores do status quo, não vejo possibilidades melhores do que o reformismo pela via eleitoral”, enfatizou.
Para ele, eleger a esquerda significa apenas que esta se torna “gestora da tragédia”. Por isso, ele critica os governos do Partido dos Trabalhadores por terem feito “muito menos do que poderiam ter feito”.
“O Lula tirou muita gente da pobreza, mas inseriu essas pessoas no sistema como consumidoras. Aí, na crise seguinte, como não houve nenhuma construção ideológica que não fosse pelo viés capitalista do consumo, elas levaram a direita ao poder”, ponderou o podcaster.
Por isso, ele rejeita a volta do PT ao poder como uma saída para a crise que o Brasil enfrenta: “Não acho que Lula seja a solução. Ele já está dando todos os sinais que está disposto a realizar uma conciliação de classes ainda maior. A resposta para os nossos problemas não está nas urnas, está nas ruas”.
Nesse sentido, Carvalho disse ver com bons olhos as manifestações que estão ocorrendo, principalmente para evitar um golpe de fato por parte de Bolsonaro.
“Ninguém coloca 7.000 militares no governo se está completamente disposto a que haja uma eleição, perder e ir embora. Mas acho a situação esperançosa. O que a gente precisa é de rua, quem ganha a política é quem ganha a rua. Nossa esperança atual está nos movimentos populares”, agregou.