Na edição do programa SUB40 desta quinta-feira (17/12), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a cineasta brasileira Petra Costa, que foi indicada ao Oscar na categoria de Melhor Documentário pelo filme Democracia em Vertigem, que retrata o processo de impeachment sofrido pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
Para a documentarista, o processo foi um golpe que começou em 2016 e continua a espalhar seus efeitos sobre a política do Brasil, sendo a eleição de Jair Bolsonaro um de seus desdobramentos.
“O golpe segue seu curso, e estamos todos vivendo os efeitos dele, principalmente os que colaboraram para o estado atual das coisas. O governo Bolsonaro é uma consequência do golpe, uma consequência da descrença na democracia que levou tanta gente a eleger alguém como o Bolsonaro”, diz.
Para Costa, os reflexos do processo de impeachment e dos movimentos que levaram à eleição de Bolsonaro já eram aparentes nas jornadas de manifestações de 2013, quando “parte de uma classe média sai para protestar e suas pautas são cooptadas pela extrema direita”.
“Nas manifestações de 2013 há uma semente de fascismo e intolerância, as pautas começaram a ser cooptadas por um discurso de extrema direita”, afirma.
A diretora ainda lembra de um ato que ocorreu em 2016, após a condução coercitiva sofrida pelo ex-presidente Lula, quando “as pessoas aplaudiam generais e queriam bater em pessoas vestias de vermelho”.
“Ali estava o ovo da serpente. Ali eu percebi que isso não ia ficar barato. Tudo o que estamos vivendo hoje estava encapsulado naquela manifestação”, conta.
Narrativa e Ancine
A cineasta também comentou sobre sua escolha de narrativa no longa, que utiliza partes de sua história pessoal e as relaciona com momentos da vida política brasileira.
“Era uma história muito complexa para ser contada só com cinema direto. Pensando numa plateia apolítica, que não acompanhe os fatos diariamente, e uma plateia do futuro, que não saberia quem são os personagens, optei por essa narrativa”, diz.
Costa ainda falou sobre a situação atual da Ancine, órgão estatal fomentador do cinema brasileira, que vem sofrendo cortes no governo Bolsonaro.
Para a diretora, “fazer cinema na época de desmonte da Ancine é triste, pois vemos o ano de 2019, que foi um dos melhores para o cinema brasileiro, com filmes em Cannes, no Oscar, enquanto vemos a infraestrutura que permitiu que esse cinema aflorasse ser destruída”.
O programa
Todas as quintas-feiras, o fundador de Opera Mundi entrevista, ao vivo, uma personalidade da nova geração que está pautando a discussão política e cultural no país. O nome do programa, SUB40, vem a partir daí: uma conversa com as novas caras do debate público – aqueles com até 40 anos (ou um pouco mais) – para entender suas ideias e antecipar tendências.
Os espectadores também podem participar e fazer perguntas, por meio do chat do YouTube. As questões serão selecionadas e feitas por Altman para o entrevistado.