Além de ser a principal atividade econômica para a economia palestina, o setor de turismo tem se tornado uma ferramenta pelas autoridades locais para estabelecer uma cultura de paz na região e, por consequência, ajudar a resolver o impasse de décadas com Israel. Atualmente, o setor é responsável por 15% do PIB (Produto Interno Bruto) da economia palestina, e pretende chegar a 25% nos próximos cinco anos investindo em novos mercados – entre eles, o Brasil.
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Para alcançar esse objetivo, a Câmara de Comércio Árabe- Brasileira realizou nesta segunda-feira (02/09), em São Paulo, um encontro de profissionais do setor com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzebem, e com Sami Abu Dayyeh, presidente da HLITOA (sigla em inglês da Associação de Operadores de Turismo e Renda na Terra Santa), que representa 43 associações privadas do setor comandadas por palestinos.
ANBA – Agência de notícias Brasil-Árabe
Sami Abu Dayyeh, presidente da principal associação de operadoras de turismo palestina
“Todos os países tem mares, rios ou recursos naturais. Mas nós temos alguns atrativos significativos que nenhum outro país tem. Jericó, a cidade mais antiga do mundo; um lago de água salgada como o Mar Morto; além do berço das três maiores religiões monoteístas. Toda pessoas com curiosidade histórica ou seguidora de algum tipo de fé deve conhecer essa área. Mas principalmente os interessados pela paz”, diz Alzeben. O embaixador palestino lembra que, quando se fala em “turismo na Palestina”, devem ser considerados também os arredores dos territórios ocupados, incluindo Jordânia e também Israel.
“Turismo é paz, Israel entende isso e nós [palestinos] também. Quanto mais criarmos intercâmbio dos dois lados, melhor. Não temos problemas com Israel em matéria de turismo. Queremos aumentar nossa participação no mercado em uma livre concorrência normal. O turismo é a única indústria no momento a qual podemos depender”, afirma Dayyeh.
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Histórica cidade de Jericó, vista de cima do teleférico
O principal obstáculo encontrado até o momento é que, embora os territórios ocupados sejam visitados por brasileiros há décadas, a Palestina não é conhecida nem vendida como um destino turístico, muito em razão do turbilhão político que afeta a região.
Atrativos
O principal foco a ser investido, em um primeiro momento, será o turismo religioso e voltado à peregrinação, contemplando cidades como Jerusalém Oriental, Jericó e Belém, além do Mar Morto. Estão previstos pacotes incluindo também cidades como Jenin, Nablus e Ramallah.
Dayyeh afirma que tem havido forte investimento na infraestrutura local com investimento da iniciativa privada palestina. Segundo o operador, há três hotéis de cinco estrelas em Ramallah e um em Belém, além de muitos outro quatro estrelas nessas duas cidades e em Jerusalém Oriental e Jericó. “Muitos não associam a noção de hotéis de luxo com a Palestina. Mas para muitos peregrinos que vão para lá, trata-se da viagem da vida deles. Portanto estão dispostos a pagar para uma viagem com comodidade e qualidade”.
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Ele lembra que não há restrições ou recomendações especiais de comportamento para turistas andarem nas ruas e que outro forte atrativo que chama interesse no mundo inteiro é a gastronomia.
Pacotes e perfil dos brasileiros
Segundo Dayyeh, as operadoras turísticas palestinas querem iniciar um maior intercâmbio entre agências brasileiras e operadoras palestinas para vender pacotes e promover ações de marketing.
Dayyeh afirma que o pacote básico de viagem, sem incluir as passagens, prevê guias que acolhem os passageiros no aeroporto de Tel Aviv, em Israel, com ônibus e guias próprios. “Nossos guias são tanto palestinos quanto israelenses, não discriminamos, e eles falam diversas línguas incluindo inglês e espanhol, e em breve teremos muitos falando português”.
Divulgação
Pátio em frente à Basílica da Natividade, na cidade de Belém, próxima a Jerusalém
Um pacote econômico básico, segundo ele, sem incluir o preço das passagens para Tel Aviv, estaria orçado entre 115 a 130 dólares por noite, durante sete dias. Os dois ou três primeiros noites seriam em Nazaré, terra da Anunciação, e no mar da Galileia (em território israelense), com os demais dias em Belém ou Jerusalém oriental.
Ele afirma, que, pelos dados israelenses, cerca de 45 mil brasileiros visitam a região por ano – 60% são católicos e 40% evangélicos. “Aqui no Brasil estamos na fase de relações públicas, tentando mostrar como pode ser proveitosa uma viagem para lá. É a primeira viagem oficial do setor privado no Brasil, ainda há muito a fazer. O próximo passo é obter investimentos para fazer anúncios na TV e encorajar as pessoas”.
Turismo sob ocupação
O impasse entre Israel e Palestina cria alguns empecilhos para os turistas, como os pontos de passagens entre as fronteiras estabelecidas pelo governo do primeiro país. Mas Dayyeh afirma já ter expertise para lidar com essa situação. “Não nego que há restrições com o muro de separação, sabemos lidar com essas questões há anos de maneira bem eficiente. Ao invés de tentar passar por Jerusalém ou Belém, nossos ônibus utilizam-se de outros três pontos próximos. E lá, tudo é relativamente perto”, afirma.
“Muitas pessoas nem veem a Palestina como um país, mas estamos naquela região há milhares de anos, os dois testamentos estão lá pra provar isso. A história é maior do que as fronteiras atuais. Trabalhamos com nossa hospitalidade para peregrinos desde a época das cruzadas”, diz Dayyeh.
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Cúpula da Rocha, em Jerusalém Oriental, vista do monte Scopus, e mostrando os muros da Cidade Velha
A Faixa de Gaza, por sua situação política – governada pelo Hamas, rompido com a ANP (Associação Nacional Palestina), e alvo mais frequente de incursões militares israelenses – não se encontra contemplada pelo pacote, restando apenas os territórios da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. “Não temos qualquer controle lá”.
Roteiro político
Em média, cerca de cem brasileiros, entre membros de juventude política, ativistas, jovens de origem árabe e associações sindicais, organizam pacotes com o intuito de fazer roteiros políticos. Segundo Dayyeh, embora esse não seja o foco inicial, essa demanda existe e as operadoras fazem o tour que os turistas pedirem. “Não temos restrições a temas de viagens. Por enquanto, o mercado mais promissor é o religioso. Mas temos também pacotes para roteiros políticos. Mostramos tudo, desde os assentamentos, o muro, os campos de refugiados, todos os lados do cotidiano palestino”, disse Dayyeh.