Até 2008, quando se pensava na Islândia, pensava-se em frio, na cantora Björk (nascida no país) e em excelente qualidade de vida. Com a queda do banco Lehman Brothers, esta remota ilha ficou famosa por ser a primeira grave vítima da crise financeira. Mesmo com um resgate do FMI, o governo não seguiu a linha de extrema austeridade da Grécia e Portugal e, enquanto tomava medidas incomuns –como apoiar a reescrita da Constituição–, desvalorizou a moeda e apostou no turismo para impulsionar a economia. Hoje, o setor é o número um da economia, e a ilha, um dos mais exóticos destinos mundiais do ecoturismo.
Christine Zenino/Flickr
Vista da capital da Islândia, Reykjavík
A Islândia deve receber este ano perto de um milhão de turistas, que pagam (caro) para conhecer de perto paisagens de ficção científica: gêisers, vulcões, cachoeiras, rios glaciais, montanhas, piscinas geotérmicas, campos de lava, aurora boreal. O número de viajantes internacionais supera em três vezes o de habitantes da ilha, e é o dobro em relação a antes da crise.
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“Vimos que o turismo poderia rapidamente nos ajudar a tirar as pessoas do desemprego, e isso aconteceu”, disse a Opera Mundi Dagur Eggertsson, prefeito da capital Reykjavík e ex-dirigente do partido social-democrata que assumiu o poder em 2009 – atualmente, o partido está na oposição. O turismo superou as indústrias pesqueira e de alumínio, até então maiores fontes de riqueza do país.
Marana Borges/Opera Mundi
Para Dagur Eggertsson, prefeito de Reykjavík, turismo foi visto como oportunidade para tirar pessoas do desemprego
Quem deu o empurrão que faltava para esse boom foi o impronunciável vulcão Eyjafjallajökull, cuja fumaça paralisou o espaço aéreo em 2010. Preocupados com o impacto negativo das notícias, mas aproveitando os holofotes mundiais, governo e setor privado reagiram com uma contracampanha.
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Localizada entre dois continentes, a Islândia atrai turistas especialmente dos Estados Unidos e do norte da Europa. Estratégias agressivas de companhias aéreas – como escalas de sete dias no país sem custo adicional na passagem, além da abertura de voos de baixo custo – diversificaram a origem dos viajantes, trazendo mais asiáticos e espanhóis.
O problema imobiliário
O repentino crescimento do turismo trouxe, contudo, alguns inconvenientes. O mais notável é a pressão sobre o setor imobiliário, incluindo o crescimento do mercado paralelo de alojamentos. Sem poder arcar com um aumento nos aluguéis entre 30% e 45% nos últimos três anos, os moradores da capital têm sido empurrados cada vez mais para a periferia –deixando o charmoso centro livre para os estrangeiros, especialmente na alta temporada.
Patrick Nouhailler/Flickr
Mapa da cidade no centro de Reykjavík; turismo se tornou principal atividade econômica do país
“Os proprietários estão forçando os inquilinos com duas opções: ou esvaziam a casa durante o verão e depois retornam, ou devolvem o imóvel”, revela Jóhann Sigurbjörnsson, presidente da Associação dos Locatários da Islândia. A reportagem ouviu relatos de pessoas em condições similares. É o caso de Manuel Pita, que trocou o sul da Espanha pela Islândia em busca de emprego. “Pago um aluguel caro, e ainda tenho de procurar outro lugar no verão”, diz
Segundo o prefeito Eggertsson, uma solução eficaz e econômica é construir residências estudantis que funcionem como alojamento para turistas durante as férias de verão, ou mesmo usar edifícios de particulares para esse fim. “Gosto da ideia de partilhar, e isso vai desde a moradia até o transporte”, afirma.