“Tanto o blefe quanto o golpe precisam ser enfrentados, pois podem oferecer riscos à vitória de Lula antes ou depois das eleições e da eventual posse”, defendeu o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, no programa 20 MINUTOS ANÁLISE desta terça-feira (19/07), acrescentando que “golpe se derrota com massa na rua. A mobilização social pode contribuir para deter a violência neofascista, embora não seja suficiente”.
O jornalista recapitulou três fatos indicativos de que o bolsonarismo aumenta a aposta na violência e na intimidação de seus opositores: o primeiro foi o anúncio de que as Forças Armadas preparam um plano de fiscalização paralela das eleições deste ano, de acordo com a declaração do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira em audiência na Câmara dos Deputados em 6 de julho. A decisão do Ministério da Defesa, para Altman, constitui abuso de poder, atropelo da ordem legal e ameaça implícita ao resultado eleitoral.
O segundo episódio aconteceu em 9 de julho, com o assassinato do petista Marcelo Arruda por um policial bolsonarista, em Foz do Iguaçu (PR). “É óbvio que esse tipo de atitude criminosa é alimentado pelo discurso do ódio praticado pelo bolsonarismo desde a campanha de 2018, quando o então candidato da extrema direita ameaçou ‘fuzilar a petralhada’”, lembrou.
Por fim, na segunda-feira, 18 de julho, houve a reunião de Bolsonaro com embaixadores de cerca de 40 países, na qual o mandatário insistiu na suposta vulnerabilidade da urna eletrônica, atacou mais uma vez ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e colocou sob suspeita o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Chamou atenção o ineditismo de um presidente se dirigir a representantes internacionais para criticar instituições do próprio Estado brasileiro.
Segundo a análise de Altman, o tom de confrontação serve a Bolsonaro na medida em que muda a agenda do país, deixando em segundo plano temas que destroçam a sustentação de seu governo, como o desemprego, a miséria e a fome: “Ao alterar o assunto do momento, Bolsonaro tenta reconfigurar imagem de responsável pelas mortes da pandemia e pela situação famélica que se alastra pelo país para a de um guerreiro contra um sistema que estaria impedindo o progresso do país e combalindo as liberdades individuais”.
Palácio do Planalto/Flickr
Altman: não faltam casos na história de golpes que nasceram como blefes, mas foram amadurecendo diante de uma baixa reação social
Nas condições presentes, são mínimas as possibilidades de que um autogolpe sustentado pelas Forças Armadas tenha êxito. Uma operação dessa natureza demanda, além de apoio militar, simpatia ativa de parcela expressiva da sociedade, patrocínio de meios monopolistas de comunicação, adesão das principais frações burguesas, atração ou neutralização do parlamento e do poder judiciário e cumplicidade dos centros imperialistas, especialmente os Estados Unidos. Nenhum desses fatores favorece atualmente uma operação desse tipo, ao contrário do que aconteceu em 1964 ou 2016, segundo o jornalista.
Ele lembra, no entanto, que esse é um cenário momentâneo que pode ser mudado nas próximas semanas. Não faltam casos na história de golpes que nasceram como blefes, mas foram amadurecendo diante de uma baixa reação social, pondera. Altman citou o exemplo da ascensão do fascismo ao governo italiano em 1922, quando Benito Mussolini foi indicado primeiro-ministro pelo rei e teve seu nome aprovado pelo parlamento, instituindo uma ditadura aberta quatro anos depois. “Os fascistas italianos eram uma força minoritária frente aos partidos liberais e aos socialistas, mas foram capazes de fazer da violência uma ferramenta que intimidou seus principais inimigos de então, os socialistas, e colocou os liberais de joelhos a seu serviço”, argumenta.
Bolsonaro não tem em seu favor no tempo presente as condições de hegemonia que favoreceram o fascismo italiano, mas isso não deveria ser motivo para que as forças democráticas se acomodem ou simulem normalidade no atual processo. “Bolsonaro não está morto, longe disso. Conta com o conluio da oficialidade policial e militar, controla uma parte relevante do parlamento, o chamado Centrão, possui uma base numerosa e mobilizada, é ancorado por grupos religiosas, tem assistência de milícias paramilitares e detém ao redor de um terço do eleitorado segundo as pesquisas”, avalia.
“Jogar parado, tirando as folhinhas do calendário até outubro, pode deixar o bolsonarismo mais à vontade para blefes, aventuras e intentonas”, alerta Altman. “Uma situação de eventual abulia das forças democráticas e populares, ao contrário de promover pacificação ou aquietamento do bolsonarismo, tende a provocar o resultado oposto.” O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líder nas pesquisas, seria a figura ideal para liderar um movimento de defesa do processo eleitoral, para além da própria candidatura. Altman sugere que as comemorações do bicentenário da independência em 7 de setembro seriam um bom momento para tcolocar milhões de pessoas nas ruas, impedindo que o bolsonarismo assuma o protagonismo da data.
Sua conclusão é de que é primordial compreender que o bolsonarismo não se limita a um fenômeno eleitoral, mas trata-se de uma corrente neofascista de massas, imbricada com o aparato repressivo do Estado, as polícias e as Forças Armadas, uma corrente majoritária na burguesia e nas camadas médias mais endinheirada. “É um fenômeno novo, não tem nada a ver com os partidos burgueses tradicionais como PSDB, DEM ou MDB, que o PT e a esquerda estavam acostumados a combater. É uma corrente com capacidade de disputar nas urnas e nas ruas. Se não for disputado em todos os terrenos, pode ganhar fôlego e recuperar a iniciativa política”, adverte.