No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (28/04), o jornalista Breno Altman entrevistou o presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira, Vitorio Sorotiuk, sobre o conflito que ocorre no país do leste europeu.
Segundo ele, a Rússia vem intervindo na Ucrânia desde sua independência em 1991, quando, três dias após ser proclamada, “chegaram dois representantes russos alertando que se o país deixasse a União Soviética, eles tomariam a Crimeia e o Donbass”. Assim, para o também advogado, a guerra da Rússia contra a Ucrânia “é expansionista”. “As intervenções de Moscou sobre a Ucrânia são muito antigas”, disse.
Sorotiuk defendeu que Vladimir Putin teria a intenção de construir novamente uma “Grande Rússia” para a qual o país vizinho seria fundamental. Por isso, ele vê a aproximação da nação à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) como um movimento defensivo, sobretudo após a Guerra da Crimeia, mesmo que “na verdade, o que a Ucrânia busque é uma integração com a Europa”.
O representante também rejeitou o argumento russo de proteção a Lugansk e Donetsk, que, “em primeiro lugar, não são repúblicas e, em segundo lugar, elas que estavam atacando a Ucrânia, então o país tinha direito de se defender”. O presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira ainda acusou a Rússia de financiar o separatismo e de ser quem rompeu com os Acordos de Minsk.
‘Desnazificação’ e proscrição do Partido Comunista
Sorotiuk enfatizou que há uma distorção na apresentação dos fatos. O golpe de Estado, que é tido por muitos especialistas como o momento de fortalecimento do neonazismo na Ucrânia, é entendido por ele de outra forma.
“[O ex-presidente Viktor] Yanokovich estava traindo os ucranianos, descumpriu decisões do Parlamento de integração econômica à União Europeia. Ele sabota o que foi aprovado pelo povo e do ponto de vista da corrupção. Hoje temos o museu da corrupção. Moscou diz que ele era pró-Rússia, mas ele passou a ser um agente russo. Claro, isso não dá direito a ninguém entrar com o Exército, mas, se discutimos direitos, quais direitos as pessoas têm na Rússia? Como é a liberdade de imprensa? O direito de fazer manifestações”, indagou.
Da mesma maneira, na visão do advogado, o nazismo não é um problema na Ucrânia, de forma que o argumento de “desnazificação” de Putin seria inválido: “desde 2014 não há nenhum representante da extrema direita no Parlamento ucraniano”.
Vitorio Sorotiuk, presidente da Representação Central Ucraniano-Brasileira é entrevistado no 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira
“Sobre o Batalhão Azov, o governo integrou e neutralizou os 20% dos 400 integrantes originais que eram de extrema direita. Você enquadra e extirpa os nazistas. Isso já está controlado. Agora, não vão prender essas pessoas atualmente porque eles estão lutando do lado do governo”, argumentou.
Sorotiuk preferiu apontar para tendências nacionalistas do filósofo russo Alexandre Dugin, que é visto por alguns como conselheiro de Putin — ainda que isso não esteja comprovado —. “Quem tem ligação e financia a extrema direita europeia é Putin”, reforçou.
Ele ainda contestou que grupos nazifascistas estivessem por trás de episódios como o Massacre de Odessa. Em 2014, após o golpe de Estado que derrubou Yanukovich, a Casa dos Sindicatos de Odessa foi incendiada, deixando 46 mortos e centenas de feridos. Segundo denúncias, o Pravy Sektor (partido paramilitar de ultradireita) seria o responsável, mas até hoje ninguém foi julgado ou punido pelo episódio.
“Havia um confronto entre vários setores da população. E então algumas pessoas se alojaram ali e elas carregavam bombas e coquetéis molotovs. Não tem como saber a origem daquele fogo. Foi uma tragédia que ninguém queria”, ressaltou.
Na opinião de Sorotiuk, porém, justifica-se o banimento do Partido Comunista. Ele explicou que se trata somente de um partido nominal com integrantes que apoiam o totalitarismo, “são homofóbicos e patriarcais”.
“Você tem movimentos socialistas de oposição a [Volodymyr] Zelensky que estão agora lutando contra a Rússia. Ter o nome ‘comunista’ não significa que o são. Comunistas de verdade não atacam manifestações LGBT. É claro que o governo vai prescrevê-los porque o país está em guerra”, disse.
Desfecho
Falando sobre o desfecho do conflito, o advogado foi taxativo: “guerras sempre terminam em acordos”. Sobre esse futuro acordo de paz, ele acredita que o único ponto negociável é a entrada da Ucrânia à Otan, mas rejeitou a retomada dos acordos de Minsk, “que foram zerados pela Rússia”, e o reconhecimento de Lugansk e Donetsk como repúblicas independentes.
“Não dá para negociar cedendo soberania. A Ucrânia nunca vai ceder nem um palmo de seu território. Os problemas de minorias no país são problemas da Ucrânia, isso é inegociável”, sublinhou. De todas formas, ainda que não ganhe a guerra, ele acredita que o país “renascerá das cinzas”.