Nesta quinta-feira (08/06), o programa 20 MINUTOS entrevistou o economista Marcio Pochmann, professor titular da Universidade de Campinas (Unicamp), ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre 2007 e 2012, e também ex-presidente da Fundação Perseu Abramo, entre 2012 e 2020.
O tema da conversa entre o economista e o jornalista Breno Altman, apresentador do programa, foi o atual cenário econômico brasileiro e a influência do agronegócio nesse panorama que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva precisa encarar.
O economista começou apresentando a sua visão sobre o processo de desindustrialização do Brasil nas últimas décadas. “A opção que foi feita na virada dos Anos 80 para os Anos 90, especialmente com o ‘Ciclo dos Fernandos’, o Fernando Collor e o Fernando Henrique Cardoso, quando se adotou o que eu chamo de ‘teoria do realismo periférico’, baseada na ideia de que o Brasil não teria condições de insistir de forma ousada, corajosa, como foi a experiência que o país teve depois da Revolução de 1930. Houve o abandono dessa trajetória industrializadora, acreditando que se nós atuássemos subordinados aos Estados Unidos, o capitalismo associado nos permitiria uma melhor saída. E talvez era difícil imaginar o contrário, tendo em vista o fim de União Soviética, que indicavam que o caminho a ser seguido era o do projeto de modernidade ocidental”, explicou.
Perguntado sobre a razão pela qual os primeiros governos petistas não reverteram esse ciclo de desindustrialização, Pochmann afirmou que “houve esforços nesse sentido” durante os dois primeiros mandatos de Lula e durante o período da presidente Dilma Rousseff.
“Houve uma certa resistência nos governos do PT no sentido de tentar manter minimamente alguns setores nos quais o Brasil ainda tinha predominância, mas obviamente que isso não se sustentou do ponto de vista político, e o país acabou sofrendo outro ciclo de desindustrialização a partir de 2015, e principalmente durantes os governos de Temer e Bolsonaro”, comentou o economista.
Ao fazer uma comparação com as políticas do Brasil e da China para superar a desigualdade social, Pochmann indicou que enquanto os governos brasileiros conseguiram resultados fortalecendo os programas sociais e de transferência de renda, os chineses foram muito mais além graças a uma profunda transformação no seu aparato produtivo, o que permitiu tirar da pobreza a mais de 800 milhões de pessoas que saíram do desemprego.
“Na minha visão, posso estar enganado, não sou dono da verdade, mas acho que o principal problema do Brasil não é a desigualdade social, é o subdesenvolvimento. A desigualdade é uma consequência do subdesenvolvimento”, completou Pochmann.
Sobre o desafio do governo Lula de financiar o projeto de industrialização prometido em campanha, o economista fez uma alusão com um cenário parecido enfrentado pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, que também teve que enfrentar obstáculos fiscais impostos pelo seu antecessor, Café Filho, e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
“Como o Juscelino enfrentou isso? Construiu um projeto novo apoiado na população e ao mesmo tempo articulando uma espécie de tripé do investimento, com recursos estatais e também investimentos privados interno e externo. E agora eu vejo, de um lado, o governo de presidente Lula com dificuldades que são naturais da realidade em que ele assumiu mas buscando reativar uma certa base social, tentando trazer investimentos diretos de outros países para o Brasil e nessa luta contra a taxa de juros para poder deslocar recursos para o investimento produtivo”, analisou o economista.