No programa 20 MINUTOS INTERNACIONAL desta quinta-feira (05/08), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou a jornalista colombiana Patricia Villegas, presidente da Telesur, emissora multiestatal que completou 16 anos no último mês de julho.
Além de falar sobre o nascimento e os principais momentos da emissora, Villegas explicou quais desafios e objetivos a empresa de comunicação tem pela frente após alcançar o 16º aniversário. Segundo a jornalista, a principal meta do veículo segue sendo “a democratização da comunicação na América Latina”.
“Queremos seguir sendo uma televisão contra-hegemônica, diferente, mas de qualidade e que possa oferecer conteúdo o tempo todo e em mais idiomas”, afirmou.
Ela contou que a Telesur nasceu de uma iniciativa do ex-presidente cubano Fidel Castro com jornalistas e intelectuais de esquerda da América Latina de democratizar o acesso à informação.
“Ele compartilhou essa inquietude com [o ex-presidente da Venezuela] Hugo Chávez, a necessidade de criar uma cadeia de notícias que representasse a diversidade do nosso continente, nós falando sobre nós mesmos. E a tentativa de golpe contra Chávez em 2002 foi o impulso definitivo para criar uma multiestatal, em Caracas, e fundar a Telesur em 2005”, relembrou.
A sede foi colocada em Caracas, “porque desde a revolução bolivariana se vê a região a partir de outra perspectiva”, e diversos jornalistas de toda a região foram contratados, como a própria Villegas, que antes trabalhava em uma emissora pública na Colômbia.
Hoje, o canal é uma referência em cobertura na América Latina, “porque damos informações que não são encontradas em outros meios”.
Bloqueio econômico afeta Telesur
Sobre os principais desafios e obstáculos enfrentados pela emissora, a jornalista revelou que o bloqueio econômico contra Cuba e as sanções contra a Venezuela são os principais elementos que prejudicam o trabalho da Telesur.
“O bloqueio é como um monstro de mil cabeças, você corta uma, aparecem duas outras no lugar. A gente teve que encontrar formas de se manter. A Telesur poderia ter se paralisado, mas a nossa convicção de seguir cortando as cabeças do monstro continua firme. É difícil, traz dificuldade para lidar com provedores na Europa e nos EUA e para pagar nossos trabalhadores, mas todos entendem que essa é uma dificuldade imposta por fatores externos”, explicou.
Críticos à Telesur afirmam que o canal é uma ferramenta de propaganda para o governo venezuelano e outros governos de esquerda na América Latina. Villegas rechaça as afirmações e garante que a empresa sempre esteve sujeita a esse tipo de crítica só porque tentam realizar jornalismo “de forma legítima, evidenciando as distorções dos processos”.
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Presidente da emissora multiestatal falou sobre os desafios e os objetivos da empresa que completou 16 anos em 2021
“Tenho consciência da estigmatização de alguns setores contra a emissora, mas sei que a única forma de lutar contra isso é fazer cada vez melhor o nosso trabalho”, reforçou.
Como exemplo desse trabalho, a jornalista destacou que são feitas coberturas sobre movimentos de direita e de oposição aos governos de esquerda na América Latina, “mas não sem contexto, queremos promover a compreensão dos fenômenos conjunturais e ajudar a construir uma memória regional”.
Modelos e futuro
Villegas também rejeitou o rótulo de que a Telesur seria uma CNN “progressista”, como dizem alguns, “porque não é verdade”.
“Nós nascemos porque não havia um espaço onde narrar os acontecimentos do nosso continente, não nascemos para ser contra algo. A CNN não narrava o nosso continente. Mas talvez por ser um canal totalmente noticioso, que funciona 24/7, as pessoas fazem esse paralelo”, ponderou.
Ante uma possível nova onda progressista na América Latina e sobre como isso influenciaria no trabalho, a jornalista manteve as reflexões sobre os objetivos da emissora, sendo o principal seguir “democratizar a palavra”.
Segundo Villegas, a Telesur pretende continuar apoiando outras televisões públicas e comunitárias, compartilhar os conhecimentos que obteve nos últimos 16 anos e se adaptar às novas plataformas e maneiras de consumo da informação.