A frente antifascista contra o bolsonarismo nas eleições de 2022 foi o tema principal na conversa do jornalista Reinaldo Azevedo ao fundador de Opera Mundi, Breno Altman, no programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta sexta-feira (03/06).
Azevedo afirmou que, no Brasil, conservadores e liberais erram em dar prioridade às pautas privatistas em detrimento da inclusão social e do combate à pobreza. “É preciso cuidar das contas públicas, mas não se pode ter uma rigidez tal a ponto de matar o próprio crescimento. É preciso buscar um entendimento intermediário, que os liberais não souberam fazer. O PT fez uma política de inclusão, o que um governo liberal, com os liberais que temos, não teria feito”, afirmou ele, declarando que o liberalismo “seja de fato coisa de país rico”.
Âncora do programa “O É da Coisa”, na BandNews FM, e colunista da Folha de S.Paulo e do UOL, Azevedo criticou o baixo crescimento atual associado com a volta brutal da fome ao Brasil.
“Outra tara dos liberais à moda brasileira é cortar direitos para salvar as pessoas. Temos a eliminação de direitos e a taxa de desemprego foi para as alturas, é o pior dos mundos. Em algum momento, os liberais têm de parar de falar para os pobres ‘espere um pouco que uma hora chega’”, disse, observando que, se bem aplicado, o liberalismo é tolerante e plural e que esses são valores necessários.
Defendendo a coalizão eleitoral em torno de Lula e do ex-tucano Geraldo Alckmin, hoje no Partido Socialista Brasileiro (PSB), o jornalista disse que uma frente ampla antifascista ou “contra a fascistização do cotidiano” é uma tarefa “primeira”, que tem de “vencer a barbárie”.
O jornalista comentou as dificuldades eleitorais da chamada terceira via e a desarticulação de partidos de perfil liberal como o PSDB. Quanto à legenda, observou que o partido já vinha se perdendo numa agenda excessivamente conservadora e reacionária e se converteu em um dos partidos mais fiéis a Bolsonaro no Parlamento.
“Se no PT tem o ‘ninguém solta a mão de ninguém’, no PSDB o lema poderia ser ‘ninguém segura a mão de ninguém’”, gracejou, concluindo que Bolsonaro “foi bem-sucedido em liquidar as lideranças conservadoras, de direita e centro-direita”.
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Segundo Azevedo, frente ampla contra a ‘fascistização’ é uma tarefa para ‘vencer a barbárie’
Golpismo de Bolsonaro
Quanto às constantes ameaças golpistas por parte do presidente Jair Bolsonaro, Azevedo disse não acreditar em uma quartelada ao velho estilo, com tanques na rua e generais prendendo integrantes do Supremo Tribunal Federal (STF), já que, para ele, é provável que o mandatário “assine um documento na Cúpula das Américas se comprometendo com a democracia”.
Segundo ele, o Brasil precisa ser “desgolpizado” que tomou o cotidiano nacional, com torturas e assassinatos a céu aberto, invasões de terras indígenas, estímulo ao garimpo descontrolado e assim por diante. “A qualidade do debate está empobrecida de uma maneira para mim inédita. Nunca vi tamanho espetáculo de ignorância e de truculência inclusive intelectual”, criticou.
Azevedo argumentou que um golpe de fato, de longo prazo e difícil reversão, aconteceria se Bolsonaro se reelegesse. “As barbaridades estão aí, mas são barbaridades de fato, raramente são de direito, na esfera da lei. O que faria Bolsonaro se fosse reeleito? Seria o caso, aí sim, de transformar barbaridades de fato em barbaridades de direito”, alertou.
Os dois jornalistas discutiram também a suspensão, pelo ministro Alexandre de Moraes, das redes sociais do Partido da Causa Operária (PCO), dentro do inquérito das fake news. Para Azevedo, não constitui violação da liberdade de expressão, cujos limites devem ser cumpridos à direita, em casos como o do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ), ou à esquerda, diante do teor dos comentários de Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, sobre o STF.
Por fim, o jornalista manifestou discordar da proposta de convocação de uma nova Constituinte no próximo governo, argumentando que a assembleia eleita teria o mesmo perfil do atual Congresso Nacional e, por isso, a Constituição resultante estaria à direita da que está em vigor desde 1988.