No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (23/05), Breno Altman conversou com o jornalista Renato Rovai, criador da Revista Fórum, sobre táticas e estratégias para derrotar o fascismo em 2022.
Para Rovai, o fenômeno do bolsonarismo é um “neofascismo idiotizado”, com características mais entreguistas do que nacionalistas. “O projeto de [Jair] Bolsonaro é o confronto permanente e o caos. Ele precisa fazer isso, porque numa sociedade sem o conflito como base, vão se encontrar liberais mais moderados para colocar no lugar dele. É besteira ficar com um maluco como esse”, afirmou o jornalista, declarando que o presidente brasileiro “pode fazer isso, porque ao mesmo tempo entrega tudo, é ultraneoliberal. Se fosse nacionalista, ele teria sido derrubado”.
O fundador da Fórum classificou a produção de notícias falsas como o principal combustível para o crescimento neofascista à moda local: “fica mais fácil, porque eles não têm o mínimo compromisso com a verdade. Quem distribui é ignorante ou está pouco se lixando se é mentira. Esse é cúmplice e sócio, ajuda a fazer com o maior prazer”.
Altman perguntou por que o bolsonarismo é especialmente forte nos setores de maior renda e escolaridade, e Rovai deu sua interpretação dizendo que talvez essa “seja a faixa mais idiotizada da população”. Segundo ele, “quanto mais conhece gente da elite, a gente mais se convence da ignorância total”.
O jornalista defende que Bolsonaro libertaria parte da elite brasileira para voltar a ser o que sempre foi e sempre quis ser, inclusive escravagista, citando como exemplo a revolta de setores da burguesia no momento em que a ex-presidente Dilma Rousseff defendeu a lei dos direitos trabalhistas para trabalhadoras domésticas.
Reconstituindo o caminho que trouxe o Brasil a este ponto, Altman e Rovai voltaram às jornadas de junho de 2013, iniciadas pela esquerda e rapidamente apropriadas pela direita, que assim voltou às ruas pela primeira vez em décadas.
“A tecnologia do golpe foi desenvolvida ali, e a tecnologia da disputa de Bolsonaro em 2018 também. Ali eles aprendem como é possível derrotar a esquerda”, concluiu.
Flickr/Fora do Eixo
Jornalista Renato Rovai, criador da Revista Fórum, é o entrevistado de Breno Altman no 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (23/05)
Enquanto a política tradicional desmoronava a bordo da Operação Lava Jato, o bolsonarismo ocupava o lugar deixado vago e adquiria protagonismo. Para ele, os partidos mais tradicionais, com exceção do PT, acabaram se esfarelando no processo. “Nesse vácuo, o bolsonarismo acabo assumindo protagonismo. Isso já se podia ver nas manifestações de 2015 e 2016, quando Bolsonaro era recebido como mito e herói e Aécio [Neves], [Geraldo] Alckmin e [José] Serra já eram vaiados como pessoas do sistema”, lembrou.
Como derrotar o fascismo
Rovai acaba de lançar, em parceria com o sociólogo Sergio Amadeu, o livro Como Derrotar o Fascismo em Eleições e Sempre, em coedição das editoras Veneta e Hedra. O livro analisa a ascensão dessa nova direita mais agressiva, ignorante e totalmente adaptada ao mundo digital e testa sugestões para derrotá-la.
Para o editor da Fórum, o bolsonarismo foi eficaz no uso da ferramenta que tinha: as redes sociais. Enquanto isso, o PT apostava no poder decadente da televisão e na imagem de Luiz Inácio Lula da Silva para alcançar a vitória.
Como Derrotar o Fascismo defende que o meio digital é o campo de batalha por princípio do neofascismo à brasileira. De acordo com Rovai, a campanha da direita em 2018 foi construída calculadamente a partir de influenciadores digitais com grande número de seguidores, inclusive transformando alguns desses atores em candidatos que acabaram eleitos com altas votações.
O jornalista alertou para o grande apoio político que o atual presidente tem conseguido angariar. “Elon Musk ter vindo aqui é uma demonstração que o grande capital internacional tem interesse e vai provavelmente apoiar Bolsonaro fortemente”, disse.
Afirmando que o embate nas ruas vai ser duro em 2022, Rovai defendeu que a campanha de Lula responda à eficácia dos estratagemas bolsonaristas com um discurso concreto e direto: “O Bolsa Família vai ser de quanto? Tem que dizer o valor. Vamos ter que ganhar esta eleição disputando o voto pobre conservador, porque o voto rico conservador vai todo para Bolsonaro”.
Na mesma direção, sustentou que não fazem sentido neste momento, como não faziam em 2018, campanhas do tipo “a esperança vai vencer o medo”. “Só tem um discurso para combater o medo que Bolsonaro impôs. É medo contra medo, mais medo para derrotar o medo”, finalizou.