O programa 20 MINUTOS desta quinta-feira (08/12) contou com a participação de Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva.
Com apresentação do jornalista Breno Altman, Carvalho, que é filósofo de formação, conversou sobre os aspectos do Partido dos Trabalhadores para a nova gestão de Lula.
Ao programa, Carvalho falou acerca dos programas sociais desenhados durante os governos petista, participação e mobilização popular e quais os desafios para 2023.
Ele avalia que “os mecanismos que o PT já vinha desenvolvendo antes de chegar à presidência, em outras administrações que tivemos, foram aperfeiçoados já durante o primeiro mandato do presidente Lula, como os conselhos, o orçamento participativo e outros instrumentos”.
Porém, em seguida, pondera: “qual foi o problema? É que (esses mecanismos de participação popular) se restringiram àquele segmento extremamente minoritário da sociedade que é consciente que já estava engajada em algum tipo de movimento social, qualquer forma de organização de base e de diversas camadas da sociedade. Ela não conseguiu estimular uma participação massiva. Não conseguiu transformar esses em governos pedagogos, no sentido de usar o farto material dos benefícios construídos para provocar um processo massivo de reflexão e se converter em um grande programa de educação popular”.
“Quando o PT nasceu, nós recebemos a herança da luta contra a ditadura, de partidos e organizações que lutaram e que eram também grandes escolas de formação, recebemos a herança de um movimento sindical combativo, que também produzia processos de reflexão, além do caudal imenso dos movimentos sociais e das igrejas, particularmente da herança da teologia da libertação, mas alguns desses setores, como o movimento sindical e as organizações da teologia da libertação, entraram em um processo de crise paralelo ao nosso, e o nosso partido foi progressivamente sendo abduzido por essa crença de que a partir da máquina você movimenta e transforma a sociedade”.
Reprodução
O ex-chefe de gabinete de Lula e atual membro da equipe de transição, Gilberto Carvalho
Sobre o futuro governo de Lula, Carvalho analisou que “dada as transformações na sociedade brasileira, dado o surgimento desse movimento de direita organizado que nós não estávamos acostumados a enfrentar, a liderança popular de direita encarnada pelo Bolsonaro e essa resistência bolsonarista, se o nosso governo que se instala agora não for além daquilo que nos fizemos em termos de participação popular, em termos de construção de poder popular, se nós não conseguirmos ir além (nesse sentido), eu diria o seguinte: não tem perigo de dar certo”.
“Foi formado na (equipe de) transição um conselho de participação social, e a tarefa que está se impondo é a de, primeiro, reconstruir os mecanismos que nós tínhamos construído e que eles (Temer e Bolsonaro) destruíram, assim como destruíram o Estado brasileiro e as ferramentas de políticas públicas, e o segundo, nós estamos propondo e criando um processo de maneira coletiva, de o governo assumir o trabalho de forma pedagógica, sem apelar para a doutrinação, sem ferir constituição, nada disso”, relatou.
Para Carvalho, “o papel de Lula será essencial nesse processo (de pedagogia popular). Recentemente eu falei com ele e disse: ‘você é o nosso principal educador popular, a sua comunicação direta com o povo é muito importante’, e eu penso que ele está convencido disso, e você pode ter certeza que nós teremos uma postura diferente, ele me disse que terá uma nova forma de se comunicar com o povo, com uma presença muito mais intensa, de qualidade diferenciada, que eu considero fundamental”.
Sobre a razão porque não houve uma reforma política nos governos anteriores do PT, Carvalho comentou que “de fato, houve timidez no estímulo de um método de governar que levasse em conta a necessidade de convocação da cidadania para enfrentar os processos de superação que nós tínhamos que trabalhar naquele momento”.
Sobre a necessidade de democratização dos meios de comunicação, ele alertou que “há uma expectativa de reversão grande nessa política. Não há possibilidade de processo de educação popular amplos e massivos, não há possibilidade de estímulo à organização, sem a gente ter uma comunicação diferenciada. E hoje há uma riqueza de meios e a possibilidade de ampliar esses processos, e será uma grande burrice se a gente não fizer isso”.
Perguntado sobre que mudanças o PT precisa fazer internamente, Carvalho respondeu que “o PT precisa voltar a conviver com o povo. A gente só é capaz de mudar culturas e comportamentos se a gente é movido pelo coração, pela paixão. Não são apenas formulações. A sociedade nova não pode ser construída com uma cabeça velha, com uma cabeça que prioriza a carreira individual, que prioriza a ocupação burocrática de espaços”.