No programa 20 MINUTOS ENTREVISTAS desta sexta-feira (30/07), o jornalista Breno Altman entrevistou Ivan Valente, deputado federal pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) eleito por São Paulo.
Ele disse ser favorável a uma candidatura única de esquerda, “se for uma candidatura pensada nacionalmente, com todos os partidos da oposição de esquerda, com tolerância, sabedoria política, unidade e sem hegemonia”, a fim de conquistar o objetivo maior de derrotar Bolsonaro.
Por outro lado, ele ressaltou que também acha válido o PSOL apresentar uma candidatura própria, “mas ela será discutida num contexto totalmente diferente”.
“Em 2018, quando Boulos teve que competir contra o voto útil, Bolsonaro era o outsider, não tinha esses três anos de destruição, ele era visto até como uma improbabilidade. O que temos claro no partido agora é que precisamos derrotar esse pesadelo e temos que raciocinar sobre a melhor forma de fazer isso. Espero que haja clareza política sobre o momento que vivemos”, argumentou.
No entanto, Valente considera um erro esperar o processo eleitoral para vencer Bolsonaro, já que ele está caindo nas pesquisas de intenção de voto: “Essa passividade é perigosa porque ele é uma figura destruidora”.
Por isso, o deputado federal reforçou a importância das mobilizações sociais que, apesar de na opinião dele terem sido um ganho “excelente”, ainda são “insuficientes para mexer peças no xadrez político”.
“Fomos às ruas contra o vírus Bolsonaro e o vírus da covid. Tem muita simbologia, uma intensidade razoável, que certamente mexeu com o Congresso, mas só com uma mobilização maior podemos abreviar o mandato do presidente”, destacou.
Uma mobilização maior, contudo, não significa incorporar setores da oposição de direita, na opinião de Valente. Para ele, os movimentos de direita já se isolaram em suas manifestações devido a uma incompatibilidade ideológica com a esquerda, mas, mesmo assim, se eles quiserem participar dos atos convocados pelo campo progressista, “vamos caminhar juntos e afastar esse pesadelo”.
Pensando no incidente dos militantes do PSDB com os do PCO, que se enfrentaram na manifestação ocorrida no início de julho, o deputado disse ser “uma besteira”.
“Quem quiser ir para a rua, vamos juntos. Se defendem Fora Bolsonaro e impeachment, vamos juntos. Não é uma aliança eleitoral”, enfatizou.
Bolsonaro enfraquecido
Valente apontou para importância de se aproveitar o momento atual, em que Bolsonaro se encontra enfraquecido: “Ele não é competitivo hoje, perdeu musculatura, apoio, está muito baseado num núcleo duro, mantendo uma estatística de forma surpreendente. Então precisamos de mais gente na rua para empurrar o centrão a romper com ele e forçar o Congresso a isolá-lo, porque ele está desesperado. A tendência é que ele perca as eleições”.
Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Deputado Ivan Valente (PSOL-SP) foi o entrevistado desta sexta do 20 MINUTOS
A única forma de garantir sua derrota, entretanto, é se o presidente conseguir cair abaixo da taxa de 20% de aprovação que segue tendo. Isto é, se perder o apoio de seu núcleo duro, como defendeu o deputado federal.
Para isso, é preciso impedir que ele se aproveite de fatores como a vacinação em massa e a recuperação da economia, que não são vitórias suas, mas que ocorrerão de forma natural com o arrefecimento da pandemia.
“Também não podemos cair no discurso de sua insanidade aparente. O negacionismo, as fake news, tudo isso é pensado, são cálculos políticos. E temos que combater o ressentimento que ele canalizou contra a esquerda e o Partido dos Trabalhadores. O lavajatismo e a Rede Globo criaram uma subjetividade na cabeça dos trabalhadores de que enquanto eles trabalhavam, os políticos estavam roubando; que o problema do Brasil não é a desigualdade, mas a corrupção. Temos que levar isso em consideração na nossa luta, porque a elite trabalha com esses elementos e aí elege alguém como Bolsonaro”, discorreu.
Manobras políticas
Atualmente, Bolsonaro tem buscado se aproximar do chamado centrão, por exemplo nomeando Ciro Nogueira (PP-PI) para a Casa Civil. Valente avaliou essas manobras políticas como tentativas de impedir um processo de impeachment. Isso não significa, porém, que ele está rompendo com sua base militar.
“Ele precisa do centrão para dar uma aparência de institucionalidade ao governo, mas já entregou o Estado para ser saqueado. Ele sabe que precisa servir a essa elite brasileira do capital financeiro e do agronegócio para dar mais estabilidade a seu governo, mas sem abandonar as Forças Armadas. É que as Forças Armadas não têm projeto. São militares aliados ao neoliberalismo e totalmente submissos ao imperialismo internacional. Então estão se somando para manter Bolsonaro na disputa até onde der”, ponderou.
Ele ainda alertou que a aparência de institucionalidade trata-se apenas disso, aparência – e não descarta um autogolpe de Bolsonaro para se manter no poder: “A tensão continua. É que um golpe não começa com o fechamento do Supremo, começa atingindo o Congresso, mudando a correlação de forças e vai escalando”.