No programa SUB40 desta quinta-feira (15/07), o jornalista Breno Altman entrevistou a advogada e secretária adjunta de Segurança Pública em Diadema, Tamires Sampaio, sobre sua trajetória.
Da Zona Leste de São Paulo, Sampaio estudou Direito no Mackenzie com bolsa integral do ProUni e foi eleita a primeira mulher negra presidente do Centro Acadêmico João Mendes Jr.
Para a advogada, esse foi o primeiro passo em direção de seu objetivo de ajudar pessoas de forma efetiva, “e estudar no Mackenzie me ajudou porque eu estava num espaço de elite, majoritariamente branco e fui dirigente do movimento estudantil e foi muito violenta aquela experiência”. Ela contou de casos de colegas que não queriam aceitar que ela, bolsista do ProUni, negra, formasse parte daquele ambiente.
“Até hoje tento levar o preconceito com leveza. Os ataques que sofri na época da faculdade me fortaleceram para lidar com eles em outros espaços. Sou advogada, mestra e ocupar esses espaços, ocupar meu lugar de mulher negra, é importante e eu só pude fazê-lo porque existiram políticas públicas que tornaram isso possível, porque houve luta de pessoas que sangraram e morreram para que eu pudesse estar aqui”, ressaltou.
Justamente por ter se beneficiado das políticas públicas petistas, Sampaio lamentou que o partido não realizou uma discussão ideológica para acompanhar as medidas, de forma que “eu via aluno cotista em manifestação contra a Dilma”.
Filiada ao Partido dos Trabalhadores, a advogada espera que um novo governo de esquerda não cometa os mesmos erros.
Diadema
Além das dificuldades de ser uma estudante da periferia numa faculdade considerada tradicionalmente da elite paulistana, Sampaio teve de enfrentar um câncer de ovário, que, segundo ela, parou sua vida “completamente”.
Reprodução/Facebook
Tamires Sampaio foi a entrevistada desta quinta-feira (15/07) no SUB40
“Hoje estou há três anos em remissão, bem, viva. E é muito louco porque sou militante do movimento negro, a gente luta pela vida, mas eu deixava de lado a minha saúde. Agora falo que não dá para fazer revolução no mundo doente ou morto, sem saúde”, revelou.
Atualmente, Sampaio é a secretária adjunta de Segurança Pública de Diadema, “porque acredito que é possível criar uma política de valorização da vida e da vida em coletivo”.
Diadema já foi a cidade mais perigosa do Brasil, reunindo a violência da própria cidade com a violência do entorno, da zona sul de São Paulo e do ABC paulista, além de contar com a presença de grupo de extermínio e ser utilizada como local de desova de corpos.
Após estudos, concluiu-se que os crimes aconteciam nos arredores de bares ou no momento em que as pessoas saíam dos bares e iam para casa, sempre na madrugada. Assim, em 2002 foi criada a Lei de Fechamento de Bares, proibindo a abertura desses estabelecimentos após as 22h da noite. “O índice de homicídios caiu muito rapidamente. Se era de 70 homicídios por mês, hoje é de 60 por ano”, comemorou a advogada.
Ela relembrou que outras políticas foram criadas para acompanhar a chamada Lei Seca e falou dos desafios atuais da secretaria de Segurança Pública da cidade.
Sampaio coordena, por exemplo, a Patrulha Maria da Penha: duas equipes da guarda civil que passaram por uma formação especializada para realizar o acompanhamento de mulheres com medidas protetivas.
“O índice de violência contra as mulheres aumentou muito, principalmente com a pandemia. Muitas mulheres não sabem reconhecer que estão numa situação abusiva. Superar esse momento já é um desafio gigante. Denunciar e ser acolhida, é outro. Se ela consegue denunciar, que seja investigado o caso e colocada uma medida protetiva, tem outro problema: quem acompanha essa medida protetiva? Quem evita que o agressor realmente não volte a se aproximar?”, argumentou.
O projeto, iniciado em março deste ano, acompanha 131 medidas protetivas e agora quer construir parcerias, “porque não adianta só esse acompanhamento, temos que ver como tirar a mulher da situação de violência e emancipá-la”.