Combinando questões gerais e outras bastante pessoais, Opera Mundi traz o especial A Pandemia no Mundo. O objetivo é verificar o impacto da covid-19 em diferentes países. Trata-se de uma enquete: as mesmas 27 perguntas são repetidas para moradores deles, de modo que as respostas possam ser acompanhadas e comparadas.
Quando a pandemia começou, dizia-se muito que o coronavírus era “democrático”, atacando igualmente pobres e ricos, brancos, asiáticos e negros, homens e mulheres.
O que a realidade mostrou é que os pobres são mais vítimas da covid-19, como a condução das políticas de saúde por governos de todo o mundo resultou em radicais diferenças no número de contaminados e de mortos.
Quem responde as perguntas hoje é o jornalista Rodrigo Leite, de Barcelona.
1. Descreva o grau máximo de isolamento social praticado onde você está.
Durante cerca de dois meses, estivemos em confinamento total, exceto para atividades essenciais (compra de alimentos, deslocamento a hospital ou farmácia), com penas de multa e até detenção para infratores. Nos últimos dias, entramos na fase de desescalada.
2. Quando começou sua quarentena?
Na tarde de 12 de março.
3. Quem está com você?
Minha família (mulher e dois filhos, gêmeos de 9 anos)
4. É fácil conviver assim?
Moramos em uma casa ampla e com acesso a um terraço, então certamente a convivência é mais fácil do que para quem vive em espaços reduzidos ou divide moradia com muita gente.
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5. Quando você sai de casa?
Atualmente já estamos na fase de desescalada das medidas, então me permito sair umas duas vezes por semana para ir ao mercado, e umas duas ou três vezes para dar uma volta com as crianças.
6. Teve ou conhece alguém no país em que está que teve covid-19?
Pelo menos quatro conhecidos perderam o pai (o pai e a mãe, num desses casos) por causa do coronavírus. Três desses conhecidos eram pais de colegas de escola dos meus filhos em Barcelona.
7. Como viu a ação do governo do país em que está em relação ao coronavírus?
Olhando retrospectivamente, sabemos que deveria ter agido alguns dias antes, no começo de março. Porém, uma vez percebida a magnitude do problema, o governo tomou ações firmes para o confinamento da população, paralelamente a medidas para aliviar a crise econômica que permitem uma renda mínima a praticamente todo cidadão que necessite.
8. Ela mudou muito com o tempo?
Inicialmente havia um otimismo de que a epidemia seria contida com o isolamento dos casos identificados, mas na primeira semana de março ficou claro que havia transmissão comunitária, e em poucos dias o governo impôs o confinamento geral da população.
9. Você está neste país por que motivo?
Vivo aqui há quase cinco anos com minha família.
10. Acompanhou a situação brasileira?
Sim, diariamente.
11. A embaixada brasileira se comunicou com você ou com pessoas que você conheça?
Não diretamente, mas vi publicações na página do consulado no Facebook orientando sobre voos de repatriação.
12. O governo brasileiro ofereceu algum tipo de ajuda?
Não que eu saiba.
13. Como você acompanha as notícias do Brasil?
Pela internet.
14. Gostaria de voltar ao Brasil? Por quê?
Com o agravamento da pandemia aí, é impensável neste momento. O comportamento irresponsável do governo desestimula a voltar.
15. Sua vida profissional mudou durante a pandemia? Como?
Já trabalhava de casa, então a grande mudança foi me acostumar à demanda mais constante dos filhos durante a jornada de trabalho.
16. Sua vida afetiva (inclusive sexual, se quiser tratar disso) mudou durante a pandemia? Como?
Mudou pouco. Talvez haja mais desgaste entre os membros da família por causa do excesso de convivência, especialmente nas últimas semanas.
17. Você engordou, emagreceu ou manteve o peso?
Surpreendentemente, dado o sedentarismo, mantive mais ou menos o mesmo peso.
18. Você bebe mais ou menos durante a pandemia?
Mais. Mas venho diminuindo nas últimas semanas, à medida em que a nova situação virou rotina.
19. O que tem feito para ocupar o tempo durante a quarentena?
Entre trabalho, tarefas da casa e a recém-assumida função de educador doméstico dos dois filhos, não sobra muito tempo para ser ocupado.
20. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum hobby durante a pandemia?
Não.
21. Desenvolveu, voltou a praticar ou abandonou algum vício durante a pandemia?
Quase recaí no tabagismo, nas primeiras semanas do confinamento. Resisti.
22. Tem realizado atividades para cuidar da saúde mental durante a pandemia?
Não sei se “beber mais” seria uma resposta adequada…
23. A pandemia fez com que você mudasse seu posicionamento político?
Não.
24. Se pudesse dar um conselho a você mesmo antes de entrar em quarentena, qual seria?
Vá ao barbeiro antes de entrar em quarentena.
25. Você tem lido mais ou menos notícias durante a pandemia? Como é sua relação com o noticiário?
Já consumia muita notícia antes, talvez consuma um pouco mais agora.
26. Como está a questão do abastecimento de insumos no país em que você está?
O abastecimento está mais ou menos normal, mas os preços nos supermercados dispararam.
27. Como está o relacionamento com sua família? Melhorou? Piorou?
Tem dias em que é tudo perfeito e a vida familiar em confinamento parece até mais feliz. Em outros está todo mundo de saco cheio, à espera disto tudo acabar.