A jornada de protestos que tomaram as ruas do Equador desde a última semana responde aos anúncios econômicos feitos pelo presidente do país, Lenín Moreno, que retirou o subsídio dos combustíveis e gerou uma alta de mais de 100% nos preços do diesel e da gasolina. Diante da escalada das manifestações, o mandatário não recuou, transferiu a sede do governo de Quito para Guayaquil e disse que não abrirá mão de seu pacote econômico. Para o economista equatoriano Danilo Albán, Moreno não voltou atrás porque obedece “ordens diretas do FMI”, órgão com quem o governo firmou em fevereiro um acordo de US$ 4,2 bilhões que prevê reformas tributárias, trabalhistas e monetárias no país.
“Moreno se recusa a voltar atrás com o ‘paquetazo’ porque tem ordens diretas do FMI. Ele precisa do dinheiro porque não fez as correções no setor externo por conta da ideologia neoliberal de deixar o mercado livre”, afirmou o economista.
Segundo Albán, a estratégia do governo, além de ser diferente do que foi prometido por Moreno durante a campanha presidencial, é falha porque “esse acordo [com FMI] implica a redução do deficit fiscal. Mas o gasto corrente do governo fica aumentando. Então, o que estão fazendo é uma suspensão dos subsídios à gasolina, em um país onde a gente pobre não pode pagar o custo inflacionário que isso causa”.
“Os protestos no Equador são protagonizados por um povo que ficou farto de um governo que traiu as pessoas que o escolheram. O povo não escolheu um governo neoliberal e é isso o que Lenín Moreno está fazendo. No início de 2018, Moreno dá um giro e decide fazer um governo neoliberal. Ele escolheu um ministro de economia representante dos grandes grupos econômicos”, afirmou.
De acordo com o economista, os reflexos do pacote econômico de Moreno serão sentidos pela população na queda do poder aquisitivo dos equatorianos. “O peso real é um aumento na inflação e queda do poder aquisitivo. O salário mínimo não vai aumentar até dezembro, porque os empresários não querem. Na verdade, eles estão pedindo mais flexibilidade na lei trabalhista para demitir trabalhadores por causa da recessão econômica”, disse.
Flickr/Gobierno de Ecuador
Presidente Lenín Moreno (ao centro) em reunião com representantes do FMI, em foto de 2017
Para o futuro, Albán destaca que, se Moreno insistir em um plano neoliberal, o país enfrentará uma queda na produtividade e pode viver uma crise do mesmo nível que a Argentina. “O futuro do Equador é um aprofundamento da recessão econômica, uma queda da produtividade, menos investimentos, mais deficit na balança de pagamentos. O mesmo caminho que a Argentina”, aponta.
Protestos e governo
Movimentos indígenas, centrais sindicais, junto a outros grupos da sociedade civil iniciaram nesta quarta-feira (09/10) uma greve nacional contra o pacote econômico de Moreno. Indígenas, outros povos originários e movimentos sociais fizeram uma marcha em direção ao centro histórico de Quito contra o governo do presidente.
Além disso, um grupo de manifestantes ocupou na tarde desta terça-feira (08/10), por um breve período, uma parte da Assembleia Nacional do Equador, em Quito. Pouco tempo depois, a polícia, em conjunto com as Forças Armadas, retirou os equatorianos que estavam no local e retomou o controle do Parlamento.
Acuado por conta das diversas manifestações, Moreno anunciou na noite de segunda-feira (07/10) que transferiu a sede do governo para Guayaquil, cidade a cerca de 420 quilômetros ao sudoeste de Quito, a capital do país.
“Transladei-me a Guayaquil e transladei a sede do governo da esta querida cidade de acordo com as atribuições constitucionais que me competem”, afirmou, em rede nacional de TV. Junto a ele, estavam o comando militar do país e o vice-presidente Otto Sonnenholzner.