“Se a Lei Ônibus for aprovada, as bibliotecas populares serão muito afetadas economicamente porque deixaríamos de receber a principal ajuda que nos chega por meio da Conabip (Comissão Nacional de Bibliotecas Populares)”, contou Griselda Zandoná, advogada e atendente da Mariano Moreno de Mocoretá, uma das mais de 1.500 bibliotecas populares existentes na Argentina que estão ameaçadas pelas recentes reformas anunciadas pelo presidente Javier Milei.
A preocupação compartilhada pela funcionária em matéria do jornal El País, em nome de todos os bibliotecários, se refere a um pacote de mais de 300 medidas que o mandatário argentino tentou impor a partir de decreto em dezembro de 2023.
Entre as diversas reformas que visam os cortes econômicos incluídos no 'decretaço' de Milei, estão o fechamento do Fundo Nacional de Artes, a desregulamentação de livrarias e o desfinanciamento da Conabip. Esta última que, por sua vez, obtém recursos a partir de 5% de uma contribuição de jogos de azar e, a partir disso, consegue custear 50% da organização.
Embora as bibliotecas não dependam unicamente da Conabip, ela oferece uma renda muito significativa já que contempla 50% da compra de obras na Feira do Livro, que acontece anualmente em Buenos Aires.
A chamada Lei Ônibus que foi enviada ao Congresso tem como um de seus principais objetivos a redução do Estado, através do encerramento de alguns órgãos públicos e cortes orçamentários naqueles que se mantiverem em funcionamento. Os setores cultural e educativo estão entre os mais afetados pela proposta governamental.
Reprodução/Editorial Funglode
Ajuste econômico de Milei ameaça 1.500 bibliotecas populares na Argentina
‘Dói ver uma lei que diz que vai tirar o orçamento da Conabip’
Localizada no Parque Saavedra, na cidade argentina de La Plata, a biblioteca popular Del otro lado del árbol (Do outro lado da árvore) nasceu a partir da perda de uma filha. Paula Kriscautzky, mãe e professora de educação infantil, contou ao El País que Pilar Andicoechea, aos cinco anos de idade, estava lutando contra um câncer cerebral. Coincidentemente, era o estágio em que a pequena garota aprendia a ler. Nesse período, encontrou nos contos uma forma de enfrentar o difícil processo de quimioterapia.
Após três meses da morte, a professora, que leciona se baseando na infância como um dos momentos mais fundamentais da vida, explicou que a biblioteca popular, nomeada pelo livro favorito de Pilar Del otro lado del árbol, nasceu especialmente como uma homenagem à sua falecida filha, mas também a todas as crianças.
“Me dói ler notícias sobre uma lei que diz que vai tirar o orçamento à Conabip”, disse a professora ao El País. “Talvez aqueles que decidem por todos nós nunca foram a uma biblioteca de bairro para ler ou brincar. Talvez aqueles que querem nos afastar da cultura popular e desfinanciá-la não sabem que existem professores que pedem autorização para que suas crianças desfrutem de contos”.
Aberta em 2011, a biblioteca começou com 200 livros e hoje tem 27 mil obras armazenadas e catalogadas. Em sua maioria, são materiais doados pela própria comunidade, integrada por aproximadamente cinco mil sócios. Além disso, uma parte considerável dos livros também foi adquirida graças ao apoio da Conabip, ameaçada pelos planos de Milei.
“Nós que amamos as bibliotecas populares estamos dispostos a defendê-las. Pilar sempre será uma memória coletiva transformada em biblioteca popular para defender o direito das crianças”, declarou Paula.