A censura à cineasta libanesa Jocelyne Saab em um cinema no Canadá fez com que os diretores Adila Bendimerad e Damien Ounouri exigissem a retirada do seu filme, “A Última Rainha”, da programação da mesma casa de espetáculos.
A obra premiada em diversos festivais era uma das principais atrações do Cinéma du Parc de Montreal, porém, o boicote a Saab levou seus colegas a expressaram sua solidariedade através dessa decisão, anunciada nesta terça-feira (21/11).
Em comunicado publicado nas redes sociais, Bendimerad e Ounouri afirmam que consideram a medida tomada pelo cinema de Montreal como uma ação “muito preocupante, obscura e antidemocrática”.
Os cineastas afirmam que consideram lamentável o fato de a obra de Saab “ser alvo de censura imposta pela indústria cinematográfica em uma cidade com uma grande comunidade argelina”.
Cinema assume culpa
Em sua declaração, os diretores Adila Bendimerad e Damien Ounouri disseram que entraram em contato com o cinema de Montreal pedir explicações sobre a remoção dos filmes de Jocelyne Saab.
Os administradores teriam respondido que a casa de espetáculos estaria sendo submetida a pressões, incluindo uma petição online e centenas de e-mails ameaçadores, por exibir os trabalhos da diretora libanesa.
Divulgação
Cartaz do Filme ‘A Última Rainha’, dos diretores Adila Bendimerad e Damien Ounouri
Quem foi Jocelyne Saab
Considerada uma das cineastas mais ousadas do Líbano, precursora do novo cinema libanês dos Anos 70, Jocelyne Saab começou a carreira como jornalista, depois passou a roteirizar, dirigir e fotografar. Estudou economia em Paris no início dos Anos 70 e trabalhou como correspondente para emissoras europeias.
A principal cobertura da então jornalista foi a guerra árabe-israelense em outubro de 1973, quando produziu vários documentários sobre a guerra, como também as guerras do Curdistão, do Iraque, das colinas de Golã e do Líbano. Foi premiada nos festivais de Oberhausen e Valladolid, o último filme produzido por ela foi Dunia (2005), filmado no Egito.
A diretora já esteve no Brasil em 2002 a convite do Consulado Geral do Líbano no Rio de Janeiro, para participar da retrospectiva de seus filmes na Mostra de Filmes Mosaicos do Líbano, ao lado do Músico libanês Gabriel Yared, ganhador do Oscar pela trilha sonora do filme O Paciente Inglês (1996).
Também Saab já foi homenageada na 2ª Mostra de Cinema Árabe Feminino no Brasil, em maio de 2021, com a exibição dos oito longas: Era Uma Vez em Beirute (1994), O Barco do Exílio (1982), Filhos da Guerra (1976), Mulheres Palestinas (1973), Uma Vida Suspensa (1985), Beirute, Nunca Mais (1976), Beirute, Minha Cidade (1982) e Carta de Beirute (1979).
A cineasta foi também uma das responsáveis pela organização do Festival de Cinema da Resistência Cultural, que foi realizado em cidades libanesas para difundir a sétima arte. Saab faleceu em 2019, em Paris, aos 70 anos de idade.