Segunda-feira, 16 de junho de 2025
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Eia, Diário, chegamos em 80 mil! Recorde! Nunca antes na história desse país se viu tanta morte duma vez só. Com a gripe espanhola foram 35 mil. Na Guerra do Paraguai, uns 50 mil. Mas deixei tudo isso aí no chinelo!

E o número só vai aumentar! Ainda mais sem ministro da Saúde. Já são dois meses, kkk!

É como se caíssem cinco aviões por dia e o pessoal continuasse embarcando. E, em vez de piloto, o avião é dirigido por um general que não sabe nem abrir aquela mesinha.

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Tem gente que reclama, mas eles têm que aprender a ver o lado bom das coisas. Chega de mimimi, pô!

Essa morteiridade toda vai trazer grandes vantagens para o Brasil. Olha só: morrendo os idosos, vai dar um alívio na despesa Previdência Social. Morrendo os doentes, vai diminuir a despesa do SUS. E, morrendo a pobretaiada, vamos economizar no Bolsa Família.

Pra ajudar, vetei o trecho da lei que obrigava o uso de máscaras em estabelecimentos comerciais, templos religiosos e escolas. Estou desmascarando esse negócio aí, kkk!

Também acabei com a obrigação do governo de distribuir máscaras para pobres e presidiários. Sem coitadismo, pô! Aliás, com a morte de presidiários vai acabar a superpopulação carcerária. Bandido bom é bandido com covid, kkk!

Outra coisa: derrubei aquele negócio do governo ter que fornecer água potável e materiais de higiene, internet, cestas básicas, sementes e ferramentas agrícolas para aldeias indígenas. Índio não é melhor que ninguém, tá certo?

Aliás, no tocante a índios e negros, fiz uns vetos especiais: vetei verba emergencial para a saúde indígena, não facilitei o acesso deles ao auxílio emergencial e acabei com essa obrigação de oferecer mais leitos hospitalares e respiradores.
Índio e quilombola é da covid pra cova, kkk!

Ah, Diário, eu vou limpar esse país!

Depois da pandemia, o Brasil vai ser um lugar só de gente forte e saudável, vamos ter menos gasto público e o país vai ser mais branco.

Vai dizer que isso não é o que o meu eleitor quer?

Claro que é.

(*) José Roberto Torero é escritor e jornalista, autor de livros como Papis et Circensis e O Chalaça. O Diário do Bolso é uma obra ficcional de caráter humorístico.

Depois da pandemia, o Brasil vai ser um lugar só de gente forte e saudável, vamos ter menos gasto público