A ministra das Relações Exteriores do Equador, Gabriela Sommerfeld, justificou, nesta segunda-feira (08/04), a invasão da Embaixada mexicana em Quito, ordenada pelo presidente Daniel Noboa para sequestrar o ex-vice-presidente Jorge Glas, que havia recebido asilo político do México.
Questionada sobre a violação da soberania do México ao atacar uma legação diplomática, a chanceler justificou: “Em nenhuma circunstância foi assim. É importante que não vejamos a fotografia, mas sim o filme”.
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Em sua opinião, os comentários do presidente Obrador sobre as eleições equatorianas que elegeram Noboa e o fato de o México ter oferecido asilo a Glas – que está sendo investigado por atos de corrupção – foram motivos suficientes para a decisão de entrar na sede diplomática do país.
“No momento em que o México abre as portas e garante que o sistema de justiça continue a cumprir isto, já existe uma ingerência nos assuntos do Estado”, defendeu.
Sommerferld sublinhou que o seu país forneceu ao México toda a justificação legal para o retorno de Glas à tutela do Equador, mas que “nunca houve uma resposta positiva”.
A chanceler sugeriu ainda que seria menos custoso politicamente para o governo entrar na embaixada mexicana, uma vez que Noboa teria recebido informações de que Glas supostamente deixaria o país naquela noite de sexta-feira (05/04).
No entanto, reconheceu que sequestrar um carro da embaixada mexicana para verificar se Glas viajava no seu interior, “viola o mesmo artigo da Convenção de Viena” que é violado ao entrar violentamente numa legação diplomática. Mas justificou a ação ao afirmar que “todos os artigos que foram permanentemente e repetidamente violados pela embaixada mexicana” são mais graves.
No meio da escalada diplomática, a embaixadora garantiu que está disposta a abrir os canais de diálogo: “Isso se resolve com uma mesa onde ambas as partes têm que apresentar a verdade e, a partir disso, resolver e reconstruir as coisas”.
Neste quadro, insistiu que o seu país está “sempre aberto” a abrir o canal diplomático, mas “colocando sobre a mesa o que faltou ao México, o que faltou ao Equador, entendendo que ambos os países foram afetados pelo incumprimento”.
“Invasão vergonhosa e arrogante”
Por sua vez, o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, qualificou neste domingo (07/04) como “arrogantes” e “vergonhosas” as ações do governo do Equador.
O presidente mexicano publicou uma mensagem por meio das redes sociais, na qual abordou as atividades que realizou neste fim de semana e comentou sobre a crise diplomática, que levou o mandatário a anunciar “imediatamente a suspensão das relações diplomáticas” com o Equador.
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“Já estamos em Mazatlán. Abordamos o comportamento arrogante e vergonhoso do governo do Equador. A propósito, gostei muito das palavras de Raquel Serur, nossa embaixadora [que foi declarada persona non grata pelas autoridades equatorianas]”, disse o presidente.
A diplomata concedeu entrevista coletiva, também no domingo, ao retornar à capital mexicana. “Saí do Equador de cabeça erguida e cheguei ao México com a satisfação de ter cumprido meu dever. O presidente Noboa errou ao tomar uma decisão, que não só rompe com tudo o que estabelecem as convenções internacionais, mas também implica o desconhecimento da realidade de seu povo”, disse Serur no vídeo publicado pelo presidente Obrador.
“Os abusos cometidos contra a nossa embaixada são de tal magnitude que o atual governo do Equador ainda não consegue medir o que fez ao seu povo, que não merece o governo que tem atualmente”, acrescentou.
“[Noboa] é um governo que improvisa e ignora a arte da política e do bom governo, que ignora o significado do asilo e sua importância como instituição na vida diplomática do México e da América Latina. Eles não entendem que um Estado pode proteger e salvaguardar a vida de uma pessoa sem julgar se esta pessoa é inocente ou culpada”, observou o diplomata.
Bolívia convoca embaixador no Equador
Na esteira da crise diplomática entre México e Equador, o presidente da Bolívia, Luis Arce, convocou seu embaixador em Quito como uma demonstração de solidariedade ao México.
“Tive uma conversa telefónica com o Presidente do México, (Andrés Manuel) López Obrador, onde expressamos a nossa solidariedade pelo que aconteceu na embaixada do México no Equador”, disse o presidente boliviano numa mensagem publicada nas redes sociais.
“Informamos que convocamos nosso embaixador boliviano no Equador. Além disso, o Ministério das Relações Exteriores convocou a Embaixadora do Equador em nosso país para que forneça informações sobre o ocorrido”.
Arce, em sua mensagem, reiterou que a defesa da inviolabilidade das sedes diplomáticas “é uma questão de princípios, assim como da tradição latino-americana de asilo, na qual o México é uma vanguarda”.
Suspensão do Mercosul
O bloco União pela Pátria do Parlamento do Mercosul informou que durante a próxima sessão ordinária, marcada para 29 de abril, apresentará um projeto que contempla a suspensão do Equador como estado associado do bloco de integração regional.
“Repudiamos a ingerência do Governo do Equador na Embaixada do México, violando flagrantemente o direito internacional público e a soberania do referido país”, afirmou em comunicado.
Segundo o bloco, o Equador violou a Convenção de Viena, bem como a Convenção sobre Asilo Diplomático adotada em Caracas em 1954, e desencadeou uma crise na região ao “sequestrar Jorge Glas”.
O grupo político sustentou que o presidente equatoriano, Daniel Noboa, é o responsável por esta “situação gravíssima”.
A União pela Pátria conclui a declaração instando os governos da região “a exigir que a integridade física do ex-vice-presidente Jorge Glas seja salvaguardada e que o direito de asilo concedido pelo Governo do México seja respeitado”.
(*) Com RT en español e TeleSUR