Atualizada às 21h55
O Chile realizou neste domingo (21/11) o primeiro turno das suas eleições presidenciais. O resultado do pleito: pela primeira vez desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990), os partidos tradicionais ficarão de fora do segundo turno e darão lugar à extrema direita, representada por Jose Antonio Kast, e à esquerda, capitaneada por Gabriel Boric.
Kast foi o mais votado na jornada deste domingo, seguido por Boric, que encabeça a coalizão de esquerda entre a sua Frente Ampla e o Partido Comunista.
O segundo turno acontecerá em 19 de dezembro.
Veja os números da apuração da eleição presidencial do Chile
A democrata cristã Yasna Provoste, candidata da centro-esquerda – sua aliança também contou com apoio do Partido Socialista – e Sebastián Sichel, da centro-direita e candidato de Piñera, se revezaram durante toda a apuração entre o quarto e o quinto lugares.
Outra surpresa foi Franco Parisi, candidato do Partido de la Gente, conglomerado “antipolítica” que se define como “nem esquerda nem direita” e ficou em terceiro lugar.
O inusitado da votação de Parisi é que foi um candidato que fez toda a sua campanha via internet, estando nos Estados Unidos, país onde mora. Em vários momentos, ele prometeu voltar ao Chile durante a campanha, mas, caso faça isso ele pode ser preso, devido a um processo movido por sua ex-mulher pelo não pagamento de pensões alimentícias de seus filhos.
Piñera se pronunciou por volta das 21h45 deste domingo. “Quero pedir a Kast e Boric que busquem sempre os caminhos da paz e não da violência, os caminhos do diálogo e não os da discussão, os caminhos da moderação e não os do populismo. Sabemos que o Chile precisa de mudanças, mas mudanças que sejam feitas em ordem e em paz, para construirmos um país melhor para todos”, afirmou.
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Pesquisas
A lei chilena proíbe a divulgação de levantamentos nos últimos 15 dias antes da votação – ou seja, as pesquisas só poderiam ser divulgadas até a primeira quinzena de novembro. Naquele então, dois candidatos apareciam em empate técnico em todas as medições: Kast aparecia sempre com uma leve vantagem, de entre 3 a 5 pontos, sobre Boric. Kast vinha subindo nas pesquisas de maneira constante.
No levantamento da Activa Research, uma das mais conceituadas do país e divulgada em 6 de novembro, a vantagem de Kast sobre Boric era de quatro pontos percentuais (21,7% contra 17,7%), dentro da margem de erro de 3 pontos para mais ou para menos.
A terceira colocada era Provoste, única mulher em campanha e candidata da coalizão de centro-esquerda entre o seu Partido Democrata Cristão e o Partido Socialista. Ela tinha 10,9%, segundo a pesquisa de duas semanas atrás.
Por sua parte, o candidato governista Sichel tinha 8,2% das intenções de voto naquele momento.
Reprodução/Facebook
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Debate e escândalos na semana decisiva
A última semana das eleições também contou com muitos altos e baixos para quase todas as candidaturas, o que agrega mais incertezas ao panorama.
O último debate na televisão ocorreu na segunda-feira (15/11) e contou com uma alta audiência (40 pontos em média) e teve Gabriel Boric e Sebastián Sichel como os candidatos de melhor performance.
O principal momento da noite, e que teve maior repercussão nas redes sociais, foi uma troca de farpas entre Boric e Kast, em que o candidato de extrema-direita assegura que seu programa de governo não possui ideias discriminatórias. Em seguira, seu adversário da Frente Ampla passa a citar diversos pontos do programa de Kast onde sim há discriminação contra mulheres, população LGBTI+, ativistas de esquerda, entre outros grupos – indicou, além disso, um projeto do adversário que prevê que subsídios sociais para mulheres sejam entregues prioritariamente àquelas que são casadas.
A cena ainda ganhou ares de galhofa, porque enquanto Boric citava as controvérsias do programa do adversário, Kast era mostrado na outra metade da tela buscando os pontos mencionados, passando a impressão de que desconhecia o conteúdo do seu próprio programa.
No final, as agências de fact-checking confirmaram todas as citações do candidato da esquerda, e Kast acabou afirmando que seu programa de governo “não é uma cláusula pétrea”.
Apesar de o debate ter sido uma grande vitória para Boric, a semana não foi um mar de rosas para sua candidatura. Na quinta-feira (18/11), uma reportagem do meio investigativo digital Ciper Chile revelou um caso de superfaturamento no pagamento de assessores de Karina Oliva, uma das figuras mais importantes do seu partido.
A matéria faz referência à candidatura de Oliva para governadora de Santiago, em um pleito que ocorreu entre maio e junho deste ano. Atualmente, ela é candidata a senadora, também por Santiago, e era o principal nome da coalizão de Boric nessa disputa.
A reação de Boric a respeito desse caso foi rápida, mas causou certo mal-estar interno: o candidato retirou o seu apoio à candidatura de Karina Oliva e pediu votos para a outra candidata a senadora pela coalizão – Claudia Pascual, do Partido Comunista –, além de pedir uma investigação do Ministério Público. “Diferente dos demais partidos, nós não temos compromisso com a impunidade, e acreditamos que todos devem estar sujeitos a investigações”, argumentou durante uma coletiva, após o ato de encerramento de sua campanha.
Os candidatos de direita e de centro tampouco tiveram uma semana muito positiva, devido à votação do impeachment de Sebastián Piñera no Senado, que terminou sendo rejeitada graças aos votos dos senadores de direita, aliados do candidato Sebastián Sichel, e do Partido Democrata Cristão, de Yasna Provoste – embora ela mesma tenha sido a única do seu partido a votar a favor.
É possível que o não impeachment de Piñera, presidente que conta com menos de 20% de aprovação, tenha efeitos negativos nas candidaturas dos que votaram contra a saída do mandatário, segundo analistas políticos.
Todos esses elementos terão suas consequências neste domingo, em que dificilmente alguma dessas candidaturas poderá superar os 50% dos votos. Portanto, duas delas conquistarão as vagas para a disputa do segundo turno, que acontecerá no dia 19 de dezembro. Resta saber quais serão.
(*) Com reportagem de Victor Farinelli