Quarta-feira, 11 de junho de 2025
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A Argentina vive dias de apreensão às vésperas da eleição que colocará o peronista Sergio Massa ou o ultradireitista Javier Milei no comando da Casa Rosada. O segundo turno da corrida presidencial, que acontece no dia 19 de novembro, pode ser determinante para o futuro do país.

As primeiras pesquisas eleitorais mostram uma vitória confortável de Massa, que chega a aparecer com 11 pontos de frente para Milei. Nem mesmo o apoio de Patrícia Bullrich, terceira colocada no primeiro turno, conseguiu alavancar a candidatura da extrema direita argentina.

Preocupado, Milei tenta moderar o discurso e chegou a declarar que pode ter quadros da esquerda em seu Ministério. Vendo que a candidatura da extrema direita está perdendo força, velhos rostos conhecidos dos argentinos se aproximaram para tentar alavancar a campanha.

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O mais conhecido é o ex-presidente Mauricio Macri, liberal de direita, que perdeu nas urnas para o atual mandatário, Alberto Fernandez, e que tem feito exigências para apoiar Milei incondicionalmente. Ele pede, por exemplo, que o candidato recue do “Plano Motossera” na economia, que inclui o fim do Banco Central e a dolarização da moeda argentina. 

De acordo com o jornal Página 12, de Buenos Aires, nos bastidores, a Liberdade Avança quer distância do ex-presidente, pois entende que Milei conseguiu estabelecer uma distância ideológica mais à direita de Macri, que apoiava Bullrich no primeiro turno.

Em entrevista ao Brasil de Fato, o deputado federal peronista Eduardo Valdéz, que é presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento argentino, afirmou que “Massa mostrou claramente ser o oposto de Milei e Bullrich” e a sua “vitória será contundente no segundo turno.”

Ainda de acordo com o parlamentar, a eventual vitória de Massa deve beneficiar o Brasil, que terá um presidente aliado na Casa Rosada. Milei já afirmou que considera Luiz Inácio Lula da Silva um “comunista” e que pretende modificar a relação entre os dois países.

Confira a entrevista na íntegra: 

Brasil de Fato: como avalia a relação entre Brasil e Argentina?

Eduardo Valdéz: creio que o melhor momento da relação entre Brasil e Argentina é a que temos hoje, nas pessoas de Lula da Silva e Alberto Fernandez. Na Argentina, acompanhamos os piores momentos do presidente brasileiro mais amado pelos argentinos. Alberto Fernandez esteve à altura das circunstâncias, quando visitou o Lula em Curitiba, denunciando com sua presença a injustiça de sua prisão. Isso foi muito importante para a relação atual dos países. 

Deputado peronista e presidente da Comissão de Relações Exteriores do Parlamento argentino, Eduardo Valdéz afirma que Sergio Massa será aliado de Lula

Wikimedia Commons

Ultradireitista Javier Milei enfrenta Sergio Massa no segundo turno das eleições presidenciais na Argentina

O Brasil tem entrado no rol de “países comunistas” para Milei. Como imagina que essa relação fica, caso o candidato da extrema-direita ganhe?

Em nenhum momento penso que Javier Milei possa ganhar as eleições no segundo turno. Se isso acontecer, não poderá romper relações com o Brasil, porque o principal parceiro comercial que temos é o Brasil. Os empresários e trabalhadores argentinos não permitiriam que isso aconteça.

No começo do ano, a Argentina impôs barreiras às importações para tentar controlar a cadeia de abastecimento e monitoramento das operações de comércio exterior diante da situação fiscal e da queda nas reservas cambiais. Mas essas barreiras prejudicaram mais de 70% dos exportadores brasileiros para o país. Essas barreiras devem continuar num eventual governo Massa?

As barreiras não devem continuar a partir do momento que assuma o novo governo de Massa. São barreiras excepcionais, resultado das exigências extorsivas do Fundo Monetário Internacional (FMI), que retirou os dólares de circulação no país e isso não acontecerá mais.

No Brasil, é comum a comparação entre Milei e Bolsonaro. Encontra traços similares entre os dois?

Milei é pior que Bolsonaro. Creio que Milei tem uma ideia de construção do Estado que Bolsonaro não chegou a implementar no Brasil. Além disso, Milei cultiva um ódio a quem pensa diferente dele que eu não sei se chegou a esse extremo no Brasil. Milei é antítese da democracia, ele é a antidemocracia.

Milei tem ameaçado romper com o Mercosul e quebrar os acordos comerciais com a China, que se tornou um importante parceiro comercial da Argentina. Como essas declarações impactam as relações de vocês com esses países?

Os tratados internacionais, neste caso o Mercosul, são impossíveis de serem quebrados sem acordo com o Congresso. Milei pode dizer o que quiser, sem acordo com os parlamenteares, nunca retirará a Argentina do Mercosul. Jamais os deputados e senadores argentinos votarão contra uma política de Estado inaugurada com o presidente Raul Alfonsín com José Sarney e que muito nos orgulha.

Hoje, o maior parceiro comercial da Argentina, depois do Brasil, é a China. É impossível que Milei tente anular os acordos com os chineses, porque os industriais e representantes do agronegócio, que ele quer seduzir, viram suas exportações aumentarem com a China, sobretudo a produção de grãos. Então, essa Argentina não vai tolerar que Milei rompa com a Argentina.

Qual sua expectativa para a votação do dia 19 de novembro?

A partir das primárias, a Argentina tomou consciência de quem era Milei e Bullrich, por isso votaram massivamente a favor de Sérgio Massa, o ministro da Economia argentina, que mostrou claramente ser o oposto de Milei e Bullrich. Creio que a vitória de Massa e União pela Pátria será contundente no segundo turno.