O alto funcionário do grupo palestino Hamas, Sami Abu Zuhri, classificou a retaliação de Israel ao Irã, realizada nesta sexta-feira (19/04), como “agressão” que culmina na “escalada” de violência no Oriente Médio, já palco de uma guerra promovida por Israel na Faixa de Gaza, ofensiva que já deixou mais de 33 mil mortos.
Segundo o jornal israelense Times Of Israel, a declaração do representante do grupo de resistência palestina foi dada após Tel Aviv lançar um ataque de drones contra uma instalação militar iraniana.
A escalada de violência e regionalização do conflito é um temor da comunidade internacional e da Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o chefe da organização, António Guterres, “é hora de interromper o ciclo perigoso de retaliação” no Oriente Médio.
Após a represália de Israel, Guterres condenou “qualquer ato de retaliação” e apelou “para que a comunidade internacional trabalhe em conjunto para evitar qualquer novo desenvolvimento que possa levar a consequências devastadoras para toda a região e além dela”.
No Oriente Médio, o Hamas faz parte do Eixo de Resistência liderado pelo Irã, juntamente com o Hezbollah libanês e grupos na Síria e no Iraque.
Possibilidades de guerra mundial
O risco de uma nova guerra mundial existe caso o conflito entre Israel e Irã se consolide, o que pode arrastar o planeta para uma crise econômica de grandes proporções, segundo especialistas entrevistados pela Agência Brasil.
O doutor em história pela Universidade de São Paulo (USP), José Arbex Junior, avalia que estamos caminhando para um cenário que, se não for contido, pode levar a uma guerra mundial.
“Quando você engaja o Irã no conflito, você está mexendo com toda a estrutura geopolítica de poder e, historicamente, os Estados Unidos mantêm uma relação bastante hostil com o Irã desde pelo menos 1979, quando teve a Revolução Iraniana”, comentou.
Para o especialista, os EUA e seus aliados vivem agora um novo impasse. “Eles não têm como entrar com tudo em uma guerra contra o Irã. Afinal, isso arruinaria a economia mundial e arruinaria as chances do [Joe] Biden se reeleger presidente dos EUA”, destacou.
A professora de Relações Internacionais do Ibmec de São Paulo, Natalia Fingermann, também avaliou que a guerra, hoje regional, pode escalar para uma guerra global devido ao cenário de grande instabilidade, que vem se agravando desde a Guerra na Ucrânia.
“O risco existe. Não é uma coisa totalmente distante, louca ou sem sentido nenhum. O risco existe e acho que ele nunca foi tão possível, pelo menos nos últimos 40 anos”, destacou a professora, acrescentando que há ainda o risco do uso de armas nucleares.
Por que Israel atacou o Irã?
As Forças Armadas de Israel (IDF, por sua sigla em inglês) realizaram nesta sexta-feira (19/04) um ataque com mísseis e drones contra o complexo nuclear do Irã, na província de Isfahan.
A ofensiva ocorreu nas primeiras horas da madrugada e teria sido a resposta prometida por Tel Aviv à ação semelhante impulsionada por Teerã no último sábado (13/04).
Segundo o canal Al Jazeera, do Catar, também foram registrados ataques contra o território da Síria – mais precisamente na província de As-Suwayda – e do Iraque – na província de Babil e em regiões próximas à capital Bagdá.
As agências de notícias estatais da República Islâmica do Irã reportaram que os sistemas de defesa aérea do país interceptaram todos os mísseis e drones disparados contra o complexo nuclear de Isfahan.
A agência Fars informa que foram ouvidas explosões próximas à cidade de Qahjavaristan, na região central do país, mas não se reportou vítimas nem pessoas feridas.
A IRNA, outra agência iraniana, afirma que não houve registro de qualquer explosão em terra. Ainda assim, o governo local anunciou que foram suspensos todos os voos que partiriam dos aeroportos de Teerã, Isfahan e Shiraz, ou de outras regiões em direção a esses três destinos.
(*) Com Agência Brasil e Ansa