Sexta-feira, 11 de julho de 2025
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A explosão de um míssil teleguiado da Otan em Belgrado, em 24 de março de 1999, marcou a eclosão de uma nova guerra nos Bálcãs – a quarta em dez anos de governo de Slobodan Milosevic, mas a primeira que os sérvios sentiriam na pele.

Foi também o primeiro conflito iniciado pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em toda sua história. Os ataques ocorreram em nome de uma intervenção humanitária, sem mandato das Nações Unidas (transgredindo o direito internacional), com a participação alemã.

A TV estatal sérvia falou de um “ato de agressão” da Otan, e só noticiou o bombardeio a instalações militares com uma hora de atraso. Gerhard Schröder, chanceler federal alemão na época, defendeu os ataques aéreos como último recurso.

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Fracassadas as negociações de paz de Rambouillet, França, as tentativas de intermediação do diplomata americano Richard Holbrooke e diante da escalada da violência sérvia contra os kosovares sob o manto da “limpeza étnica”, o então secretário-geral da Otan, Javier Solana, ordenou os ataques, no dia 23 de março, em Bruxelas.

À espera de um sinal de Milosevic

Num pronunciamento em rede nacional de televisão, na noite de 24 de março, Schröder alegou que “a violência foi a última alternativa”, ressaltando a determinação da Otan de cessar o genocídio no Kosovo e exigiu a rendição de Belgrado. “O fim imediato dos ataques depende unicamente de um sinal claro de Milosevic”, acrescentou o então ministro alemão da Defesa, Rudolf Scharping.

Os objetivos expressos da aliança militar ocidental eram conter a catástrofe humanitária no Kosovo e derrubar Milosevic, o que causou protestos do presidente russo Boris Ieltsin. O que aconteceu de 24 de março até o fim da guerra, em 9 de junho, permaneceu tão obscuro quanto a guerra do Golfo Pérsico, oito anos antes.

Na noite de 24 de março de 1999, um míssil teleguiado da Otan atingiu Belgrado; ataque ocorreu em nome de intervenção humanitária, sem mandato da ONU, transgredindo o direito internacional, com participação alemã

picture-alliance/dpa

Bombas da Otan sobre Belgrado, em 18/04/1999

Jornalistas ocidentais e representantes de organizações internacionais foram expulsos do país. Meios de comunicação críticos, como a rádio B92 de Belgrado, foram proibidos. Durante os bombardeios, a Sérvia e o Kosovo afundaram num poço de desinformação.

A Otan não conseguiu impedir nem conter a catástrofe humanitária. Pelo contrário, provocou gigantescos campos de refugiados. Centenas de milhares de kosovares de etnia albanesa que escaparam dos massacres sérvios fugiram para a Macedônia, Albânia e Montenegro, países sem condições de recebê-los.

Estacionamento da força de paz

Após 79 dias de conflitos e 37 mil ataques de aviões de caça, em 3 de junho de 1999 o presidente da Finlândia, Martti Ahtisaari, convenceu Milosevic a retirar as tropas sérvias e permitir o estacionamento de uma força internacional de paz em Kosovo.

O Acordo de Kumanovo significou o fim dos bombardeios e a capitulação de Milosevic. Se ele tivesse assinado o tratado de paz de Rambouillet, teria preservado a integridade territorial e 2.500 soldados sérvios teriam permanecido no Kosovo. Assim, eles tiveram que dar lugar a 28 mil soldados da força de paz.

Segundo estimativas do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), a guerra no Kosovo causou a expulsão de 1,5 milhão de albaneses-kosovares e 150 mil ciganos. Calcula-se que 10 mil albaneses e 7 mil sérvios tenham morrido no conflito. Metade das casas foi destruída, e 100 mil dos 180 mil albaneses-kosovares fugiram da região.