Atualizada em 07/07/2017 às 14:23
No dia 10 de julho de 1947, o velho navio panamenho Exodus, praticamente reduzido a sucata, deixa o porto francês de Sète para levar mais de quatro mil judeus sobreviventes dos campos de extermínio rumo à ruptura do bloqueio britânico na Palestina.
Já em mar aberto, a embarcação, que havia sido fretada pela organização sionista clandestina Haganá, tem o seu nome alterado para Yetzia Europa. Ostentando uma bandeira marcada pela estrela de David, dirigia-se à Palestina, então sob posse britânica. A Haganá adotava abertamente a política da imigração ilegal como forma de resgate humanitário. Na realidade buscava fixar na Palestina populações judaicas.
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Navio sucateado levava mais de 4 mil passageiros
Londres, sob pressão dos árabes, tentou interditar o território aos imigrantes judeus. Quando o navio se aproximava de Haifa, o comandante recebeu sinal de rádio dos sionistas para não colocar em risco a vida dos passageiros. O capitão recusou-se a retornar. Cercados por três destróieres britânicos, tripulação e passageiros reagiram com seus próprios meios. Dois passageiros e um membro da tripulação foram mortos.
No porto de Haifa, os demais passageiros deveriam ser transferidos para três embarcações e reenviados ao porto francês de Port-de-Bouc. Porém, a maioria se recusou, apesar da oferta de asilo político pelo governo de Paris. Em Port-de-Bouc, os judeus permaneceram nos navios em greve de fome durante 24 dias, recusando o desembarque apesar da indescritível falta de higiene e apoio sanitário. O governo francês se recusou a colaborar e usou da força bruta para fazer evacuar esses navios.
Ao longo de três semanas, o navio é direcionado pelos britânicos para Hamburgo, em sua zona de ocupação na Alemanha. Ao serem enviados para um campo de refugiados, a manchete de um dos jornais estampava: “Regresso ao país da morte”. Chegaram a Hamburgo em 22 de Agosto. Aquela gente, inclusive mulheres, crianças e idosos, foi obrigada a desembarcar e logo foi transferida para dois campos de concentração, agora chamados de “campos para emigrantes ilegais”, nas cercanias de Lubeck.
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O caso suscitou enorme repercussão em todo o Ocidente, em especial nos Estados Unidos. A cobertura da imprensa foi uma catástrofe para Londres, considerada como o regime colonial. A Haganá aproveita para tentar convencer Londres a se afastar do atoleiro palestino. A imagem de um navio repleto de sobreviventes do Holocausto sendo espancados por soldados obrigou a Grã-Bretanha a uma difícil explicação.
Os britânicos falaram das necessidades da população árabe da Palestina. Um Estado judeu no Oriente Médio, feito contra a vontade dos antigos habitantes locais, não levaria a uma solução justa e tranquila. No entanto, o caso Exodus foi fundamental para o desenlace nas Nações Unidas sobre a Partilha da Palestina.
O ataque ao grupo de navios que recentemente transportava ajuda humanitária para Gaza deve ter despertado na opinião pública de Israel a memória do Exodus. A tentativa da liderança israelense de divulgar uma história mais complexa do que civis sendo brutalmente atacados não impressionou a opinião pública mundial.