Quarta-feira, 14 de maio de 2025
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O massacre nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, situados em Beirute Oeste, foi uma matança de palestinos desencadeada em 16 de setembro de 1982 durante a Guerra do Líbano, pelas mãos da Falange Libanesa, alegadamente em resposta ao Massacre de Damour. Segundo a comissão israelense, Comissão Kahan, o Tsahal – Forças de Defesa de Israel – a postos no território libanês – foi indiretamente responsável por não só evitar como estimular a matança. Este massacre mereceu a qualificação de Ato de Genocídio por parte da Assembleia Geral das Nações Unidas – resolução 37/123.

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Memorial das vítimas dos massacres de Sabra e Chatila

Em 14 de setembro de 1982, o líder maronita e mandatário libanês eleito Bashir Gemayel foi assassinado com outras 40 pessoas, na explosão da sede central das Forças Libanesas em Beirute, em atentado cometido por facções pró-Síria e pró-palestinos. O ato foi atribuído ao agente sírio Chartouni. Para preservar sua estratégia no Líbano, duas divisões do Tsahal, sob o comando do ministro da Defesa, general Ariel Sharon, ocupam no dia seguinte Beirute Ocidental, violando o acordo com os Estados Unidos de não entrar na região.

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Ao meio-dia de 15 de setembro, o Tsahal cerca inteiramente o campo de refugiados de Sabra e Chatila, controlando todas as entradas e saídas, assim como ocupam um bom número de edifícios como postos de observação.

Sharon e o chefe do Estado Maior, Rafael Eitan, se reúnem com as unidades da milícia cristã-falangista libanesa, para incitá-los a entrar nos acampamentos dos refugiados. Segundo o plano, os soldados israelenses tinham de controlar o perímetro dos acampamentos, incumbir-se do apoio logístico, enquanto os falangistas entrariam nos acampamentos, supostamente em busca de combatentes da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e entregá-los às forças israelenses. A reunião terminou às 15h00 de 16 de setembro.

Uma hora depois, cerca de 1500 milicianos falangistas se reuniu no aeroporto internacional de Beirute, ocupado por Israel, sob o comando de Elie Hobeika, sucesor de Gemayel.

A primeira unidade de 150 falangistas, armados com pistolas, facas e machados entraram às 18h00 nos acampamentos de Sabra e Chatila. Sua missão era localizar supostos guerrilheiros da OLP e desarmá-los. No entanto, o que na realidade se sucedeu foi um massacre de palestinos, a imensa maioria mulheres, crianças e anciãos. O genocídio se prolongou por mais de 30 horas. A par das execuções, houve também estupros, torturas e mutilações.

Durante a noite, as forças israelenses disparavam bengalas a fim de iluminar os acampamentos. Segundo uma enfermeira holandesa, o acampamento estava tão iluminado como “um estádio esportivo durante uma partida de futebol.”

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O então primeiro-ministro de Israel, Menachem Begin, afirmou que país não tinha nada a ver com massacre, sendo desmentido depois

Forças de defesa de Israel foram indiretamente responsáveis por não evitar mas também estimular matança

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Às 11h00 do dia seguinte foi enviado um informe ao quartel do Tsahal no leste de Beirute, noticiando o assassinato de 14 pessoas, inclusive civis. O informe foi despachado para Tel Aviv e Jerusalém, onde foi visto por mais de 20 altos oficiais e funcionários israelenses. Durante as seguintes 36 a 48 horas, os falangistas libaneses massacraram os habitantes dos acampamentos com o consentimento do governo israelense.

El primeiro ministro de Israel, Menachem Begin, cinicamente tentou se esquivar: “Em Chatila, não judeus mataram a não judeus. O que nós temos a ver com isto?”

Ao mesmo tempo, o jornal  Yedioth Ahronoth publicava o seguinte: “Na quinta e na sexta-feira pela manhã, os ministros e funcionários (de Israel) já sabiam da matança e nada fizeram para detê-la. O governo sabia desde a noite de quinta-feira e não moveu um dedo nem fez nada para evitá-la.”

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A cifra precisa de mortos foi sempre objeto de disputa e oscila entre “varias centenas” – 12 a 14 – segundo fontes cristãs-libanesas, israelenses e árabes. Por seu lado, a Cruz Vermelha trabalhava com a cifra de pelo menos 2400 vítimas.

[Ariel Sharon, então ministro da Defesa israelense e, anos depois, primeiro-ministro]

O episódio produziu um escândalo internacional. Uma semana depois da tragédia, em 25 de setembro, perto de 400 mil pessoas se manifestaram em Tel Aviv – a maior manifestação da história do país -, convocadas pelo movimento pacifista Shalom Ahshav e pela oposição. Exigiam responsabilidades, demissões e uma investigação independente que esclarecesse o sucedido. Menachem Begin, totalmente desconcertado, cedeu, e três dias depois encarregou o presidente do Tribunal Supremo, Yitzhak Kahan, de levar a cabo uma investigação.

Para muitos, o informe da Comissão Kahan, a passagem para a reserva de Sharon e seu abandono da política não foi suficiente. Setores progressistas e liberais continuaram insistindo durante anos em acusar Ariel Sharon de autor e instigador da matança, algo que se tornou mais forte ao ser eleito primeiro ministro de Israel em 2001.

Por seu lado, e diferentemente de Sharon, o falangista libanês Elie Hobeika, considerado o responsável material do genocídio, nunca foi levado às barras de um tribunal, nem em seu país, nem na Europa, sequer se prosseguiu vinculando-o a Sabra e Chatila. Ao contrario, ocupou o posto de ministro de governo no Líbano na década de 1990, até que um atentado com carro-bomba em Beirute, de que se desconhecem autores e motivações, lhe custou a vida em janeiro de 2002.

Também nesta data:

1782 – Morre o célebre cantor castrato Farinelli
1932 – Ghandi inicia greve de fome contra sistema eleitoral indiano
1949 – Coiote e Papa-Léguas estreiam na TV dos EUA
1959 – General De Gaulle reafirma o direito de autodeterminação da Argélia
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