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A morte do imperador romano Teodosio I (foto à esquerda) em 17 de janeiro de 395 marca a partilha definitiva do Império Romano. A seu filho Arcadius, de 18 anos, o imperador lega o Oriente, com capital em Constantinopla, e a seu filho Honorius, de 11 anos, o Ocidente, com capital em Ravena. Esta cisão pode ainda hoje ser vista na fronteira que separa a Croácia, ocidental e católica, da Sérvia e da Bósnia, oriental e ortodoxa.
A história do século 5 está marcada pelo fim da unidade imperial do Império Romano. O Império Romano do Ocidente entra em longo período de agonia antes de seu desaparecimento, inevitável depois das invasões bárbaras. O Império Romano do Oriente entra numa fase de mutação que o converteria em Império Bizantino.
A morte de Teodosio deu lugar a uma dessas datas que marcaram a história do Ocidente, inclusive a história de toda a Europa. Não se pode perder de vista que geograficamente o Império Romano ia desde a Península Ibérica até a Armênia. No entanto, essa data, históricamente falando, não tem a carga simbólica que gerações de historiadores quiseram lhe dar.
As diversas lendas sobre a decadência de Roma costumam mascarar a realidade. As invasões bárbaras já haviam começado século e meio antes e a ascensão da Igreja Católica ao poder além da nomeação de bárbaros para a chefia de Estado prenunciavam o fim do império. A guerra de Teodósio contra Arbogastes mostrava à saciedade que o poder imperial já não infundia o mesmo temor de antes.
Teodósio havia previsto que com sua norte o imperio se dividiría em dois. Partia da constatação realista de um fato: diante da aguda crise, uma só entidade seria ingovernável, em especial porque os filhos do imperador eram ainda jovens e sem experiencia. Decide então criar dois impérios de dimensões similares, o Império do Oriente a ser governado por seu filho Arcadius e o do Ocidente por Flavius Honorius, um menino.
Todavia, o que mudava, acima de tudo, era a eleição do regente. Tratava-se do general, Estílicon, marido de Serena, sobrinha de Teodóosio. A escolha é sensata porque Estílicon, embora ambicioso, era um homem competente. Se bem que fosse desde 385 cidadão romano, era de origen vândala. Na corte, isto representava uma afronta a toda uma classe aristócrata e conservadora. No entanto, a evidência mostrava que os mais capazes para administrar o império eram os bárbaros.
Eutrópio
Na corte do Oriente, o império era administrado pelo prefeito do pretório, Rufino. Nascido em Aquitânia de origem obscura, esse sexagenário, católico, inteligente e eloquente, mostrava-se ambicioso. Apreciado por Teodósio e favorito do jovem Arcadius desde 394, chega de uma maneira quase natural aos mais altos cargos. Porém outro personagem, muito mais obscuro, faria estragos na corte. Tratava-se de Eutrópio, um eunuco, ex-escravo, nascido na Armênia e que fora recrutado por Teodósio.
Rufino, por seu lado, torna impossível a vida dos visigodos aos quais havia rechaçado em Tesália na primavera de 395, evitando ao mesmo tempo que Estílicon se apoderasse de Ilírico, zona na costa do Mar Adriático, a norte da Macedónia. Eutrópio não quis ficar para trás e em 27 de abril, aproveitando-se da viagem de Rufino à Síria, casa Arcadius com Eudóxia, filha do notável franco, Flávio Bauto. Esta jovem, apreciada por sua beleza e jovialidade, encanta o imperador, o que tranquiliza Eutrópio.
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Mapa mostra a divisão do Império Romano entre Ocidente (esquerda) e Oriente (direita)
Momentaneamente aliado de Estílicón, Eutrópio prepara a eliminação de Rufino. Em novembro de 395, sugere a Arcadius organizar um desfile das tropas com a finalidade de cumprimentar os homens do general godo Gainas os quais, não obstante, tinham acabado de saquear Olímpia. Rufino é convidado e, colhido numa armadilha, é apunhalado diante do imperador em 27 de novembro de 395.
Uma vez no poder e cada vez mais audacioso e cruel, o eunuco Eutrópio degrada, humilha e desonra os oficiais e funcionarios a seu bel prazer. Pior ainda, vende os cargos públicos, cria e suprime empregos à discrição e se comporta como um verdadeiro tirano. À sombra dele, Arcadius, homem enfermiço e insignificante, desaparece pouco a pouco. Eutrópio chega inclusive a exilar seu antigo protetor, Abundâncio, e depois despoja de seus bens a Timas, um general influente e famoso, quem é enviado ao Egito, onde morreria na miséria.
Em 398, Eutrópio é nomeado fidalgo e patrício e no ano seguinte, cónsul. Começa então a inspirar medo em todos os cortesãos. Temido, manda erigir estátuas em sua honra.
Na primavera, Gainas arrasa os arredores de Constantinopla. Em julho de 399, é nomeado Aureliano, um prefeito do pretório hostil a Eutrópio. Uma vez capturado, Eutrópio é desterrado para Chipre, onde volta a ser preso. Levado à Calcedônia, em Bitínia, é julgado e decapitado.
Também nessa data:
1961 – Eisenhower alerta para risco do 'complexo militar industrial'
1961: Patrice Lumumba é assassinado no Congo
1945: Exército Vermelho entra em Varsóvia
1966: Cientistas dos EUA protestam contra uso de desfolhantes químicos em plantações vietnamitas
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