Após a derrota em Waterloo e do segundo e último exílio de Napoleão, a dinastia dos Bourbons dirigiu seus anseios de vingança sobre aqueles que acharam que tinham traído a pátria – mais especificamente, apoiado o imperador de origem corsa. O alvo preferencial era o do marechal Michel Ney, adversário do general britânico Wellington na Batalha de Waterloo.
Considerado culpado de traição e condenado à morte por fuzilamento, Ney é executado em 7 de dezembro de 1815 perto do Jardim de Luxemburgo, em Paris.
Com os títulos de Duque d’Elchingen, Príncipe de Moskova e Marechal da França, conhecido como “Le Rougeaud” (O avermelhado) e “Le Brave des Braves” (O mais bravo entre os bravos), recusa a oferta de uma venda e tomba diante do fogo do pelotão de fuzilamento.
Quem foi o general Michel Ney
Em 10 de Janeiro de 1769, na cidade de predominância alemã de Saarlouis, Lorena, o tanoeiro Pierre Ney e sua mulher comemoravam o nascimento de seu segundo filho, Michel. Ao jovem Ney foi ministrada uma educação básica pelos monges agostinianos que lhe permitiram iniciar uma carreira de funcionário público, que achava entediante.
O pai tinha servido no exército francês durante a Guerra dos Sete Anos e este foi fator decisivo para que Michel, em 1788, se demitisse do serviço civil e partisse para Metz a fim de se alistar no exército dos hussardos.
A Tomada da Bastilha em 1789 e o subseqüente desmantelamento da estrutura social na França abriram caminho para um talentoso soldado subir rapidamente na hierarquia militar. Em 1792 recebeu a patente de oficial. Ferido em diversas ocasiões e feito prisioneiro pelos austríacos em 1797, a reputação de Ney por bravura pessoal já era bem reconhecida. Provou ser também um líder inspirador da arma da cavalaria, ganhando uma série de comandos cada vez mais desafiadores e prestígio.
Ney apoiou a decisão de Napoleão de declarar-se imperador e em 1804 foi um dos 18 recém-nomeados marechais da França. Serviu fielmente ao imperador e provou ser um dos poucos marechais capazes de enfrentar eventualmente o exército britânico.
A invasão da Rússia em 1812 viu Ney novamente comandando um corpo de exército. Mas foi durante a desastrosa retirada de Moscou que Ney viveu seu melhor momento. Comandou a retaguarda com seu habitual desprezo pela própria segurança e acredita-se ter sido o último soldado francês a deixar o solo russo.
Wikicommons
Serviu fielmente ao imperador e provou ser um dos poucos marechais capazes de enfrentar eventualmente o exército britânico
A destruição da “Grande Armée” (Grande Exército) durante a campanha russa e em pleno inverno foi um duro golpe do qual Napoleão nunca se recuperou. Ney continuou a servir ao imperador durante as campanhas de 1813 e 1814. Porém, quando exércitos de quatro nações inimigas se aproximaram dos portões de Paris, os marechais decidiram forçar Napoleão a abdicar. Ney se tornou o principal porta-voz e em abril apresentou o ultimato ao imperador em Fontainebleau.
Napoleão foi exilado para a ilha de Elba, com uma guarda pessoal de 400 soldados enquanto o recém-restaurado rei de Bourbon, Luís XVIII, recebeu a lealdade dos marechais em Paris.
Passados dez meses chegou a notícia de que Bonaparte escapara de Elba em 26 de fevereiro de 1815. Aportou em Golfe Juan dois dias depois. O 5.º Regimento foi enviado para interceptá-lo.
Napoleão encarou toda a tropa sozinho, desmontou de seu cavalo e quando se encontrava sob a linha de fogo, gritou: “Aqui estou eu! Matem seu imperador, se assim o quiserem!”. Os soldados responderam com “Viva o imperador! E marcharam com Napoleão até Paris de onde Luis XVIII fugiu. Diante do acontecimento, Ney chegou a declarar que traria o antigo imperador de volta a Paris em uma gaiola de ferro.
Um governo improvisado – o Governo dos 100 Dias – foi rapidamente organizado. Apesar do sentimento de Napoleão em relação aos seus marechais durante a Restauração Bourbon, acabou por contar com eles para o esperado confronto com o prussiano Blucher e o britânico Wellington na Bélgica.
Napoleão foi derrotado definitivamente na Batalha de Waterloo, destronado e exilado pela segunda vez no verão de 1815. Ney, tido como o principal responsável por essa derrota, é preso em 3 de agosto de 1815 por traição pela Câmara dos Pares. Em 6 de dezembro de 1815, foi condenado e executado no dia seguinte por um pelotão de fuzilamento em Paris. O episódio que dividiu profundamente a opinião pública francesa.
Ao ser lhe permitido comandar o pelotão de fuzilamento, exclamou: “Soldados, quando eu der o comando de fogo, atirem direto em meu coração. (…) Protesto contra minha condenação. Lutei cem batalhas pela França e nenhuma contra seus soldados. Fogo!”.
Ney está enterrado em Paris, no cemitério Père Lachaise.
(*) A série Hoje na História foi concebida e escrita pelo advogado e jornalista Max Altman, falecido em 2016.
Também nesta data:
43 a.C. – Cícero, o maior orador de Roma, é degolado
1927 – Empresa dos EUA registra patente da geladeira doméstica
1970 – Em gesto de reconciliação, chanceler alemão fica de joelhos na Polônia
1975 – Indonésia invade o Timor Leste