Jean-Paul Charles Aymard Sartre recebeu surpreso, em 22 de outubro de 1964, a notícia de que havia sido galardoado com o Prêmio Nobel de Literatura. Não demorou a tornar pública sua recusa em recebê-lo. Receber a honraria significaria reconhecer a autoridade dos juízes, o que considerava uma concessão inadmissível.
Em seus romances, ensaios e peças de teatro, Sartre expôs a filosofia do existencialismo, argumentando que cada indivíduo deve dar sentido à sua própria vida porque a vida em si não contém nenhum sentido inato.
Sartre estudou na Escola Normal Superior, entre 1924 e 1929, onde conheceu Simone de Beauvoir (1908-1986), “uma moça bem-comportada”, que a ele se declarou: “A partir de agora, eu tomo conta de você”. Desde então, nunca mais se separaram. O casal passava horas nos cafés – o Les Deux Magots no Quartier Latin de Paris, tornou-se célebre ponto de encontro – conversando, escrevendo, tomando vinho e café.
Em 1938, Jean-Paul Sartre publicou seu mais importante romance: A Náusea. Sartre criou uma obra-prima que mistura filosofia a uma narrativa acessível. Foi com ela que esboçou, usando a arte como artifício, o existencialismo. A história se baseia nos diários de Antoine Roquetin, um fictício historiador que viajou a Europa inteira e se estabeleceu em uma pequena cidade portuária, Bouville. Começa a escrever um diário e à medida que vai ficando absorto em sua solidão, se descobre com estranhas ideias acerca do sentido da existência e o quanto ela pode ser vazia e sem significado. Quando se depara com a realidade, sente náuseas por acreditar que essa realidade é inócua e sem embasamento.
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Sartre ficou cego e sua saúde declinou até seu falecimento, em abril de 1980, devido a um tumor pulmonar
Em 1943, publica uma de suas obras fundamentais, O Ser e o Nada, em que defende que o homem está destinado à liberdade e tem inerente uma responsabilidade social. Também em 1943, escreveu algumas de suas peças teatrais mais conhecidas: As Moscas, em que retoma o mito grego de Orestes, tendo como tema central a liberdade de escolha e a responsabilidade na ação humana, seguida de Entre Quatro Paredes, em que os personagens são levados a um salão sem janelas, iluminado todo o tempo, onde, enclausurados, são condenados a “uma vida sem interrupções”, o que torna a sobrevivência insuportável.
Em 1945, Sartre começa a escrever Os Caminhos da Liberdade e, em 1946, continua a desenvolver sua filosofia em Existencialismo e Humanismo.
Fundador da revista Les Temps Modernes, o pensador marca com ela sua aproximação e filiação, em 1952, ao Partido Comunista Francês. A intervenção soviética na Hungria, em 1956, porém, leva-o a romper com o partido e escrever um artigo, O Fantasma de Stalin, no qual explica sua posição. Também manifesta-se publicamente contra a guerra colonial na Argélia e, anos mais tarde, Sartre e Beauvoir engajam-se nos movimentos sociais, participando ativamente do maio de 1968 em Paris.
Em entrevista concedida cinco anos antes de morrer, Sartre disse que gostaria que as pessoas se lembrassem dele por seu primeiro romance, A Náusea, e por duas de suas obras filosóficas: a Crítica da Razão Dialética e o ensaio sobre Jean Genet.
Jean-Paul Sartre influenciou profundamente sua geração e a seguinte. Foi um mestre do pensamento e seu exemplo foi seguido por boa parte da juventude do pós-guerra, nas décadas de 1950 e 1960.
Em seus últimos anos, Sartre ficou cego e sua saúde declinou até seu falecimento, em abril de 1980, devido a um tumor pulmonar. Teve um funeral impressionante, com uma presença em massa, estimada em 25.000 pessoas.