Juanita Castro, irmã mais nova dos líderes cubanos Fidel e Raúl Castro, morreu na segunda-feira (04/12), aos 90 anos, em um hospital de Miami. A notícia foi divulgada em um comunicado pela jornalista mexicana María Antonieta Collins, coautora de suas memórias.
“Esta é a notícia que eu nunca quis dar, mas que, como sua porta-voz nas últimas três décadas de sua vida, tenho que contar. Hoje, aos 90 anos de idade, faleceu Juanita Castro, uma mulher excepcional, lutadora incansável pela causa da Cuba que tanto amava”, anunciou Collins em sua conta no Instagram.
O texto pede privacidade, dizendo que “não haverá entrevistas e, de acordo com seus desejos, seu funeral será privado. Pedimos suas orações para o descanso eterno de sua alma”.
Juanita Castro foi a quinta dos sete irmãos Castro, filha do casamento de Lina Ruz González e Ángel Castro Argiz.
Opositora fervorosa ao sistema socialista, deixou o país em 1964 após ter colaborado com a CIA em várias operações destinadas a derrubar o governo revolucionário. Depois de uma breve estada no México, ela se estabeleceu em Miami, onde continuou suas atividades como opositora do sistema cubano.
Distanciamento
O nome da família de Juanita adquiriu extraordinária relevância internacional em 1953. Naquele ano, um grupo de jovens liderados por seu irmão Fidel realizou uma ação armada contra a ditadura militar de Fulgencio Batista. Conhecida como o assalto ao quartel Moncada, a tentativa de derrubar Batista fracassou e a ditadura militar desencadeou uma repressão sangrenta, ordenando a execução, sem julgamento, dos combatentes que haviam sido capturados.
Não obstante, tanto Fidel quanto Raúl Castro – que também haviam participado da ação – conseguiram sobreviver e, alguns dias depois, foram presos. Imediatamente, a figura desses jovens, principalmente a de Fidel Castro, tornou-se muito popular na ilha. Depois de vinte e dois meses na prisão, como resultado das grandes campanhas pela libertação de presos políticos que se espalharam por toda a ilha, Fidel Castro e seus companheiros foram libertados durante uma anistia geral em maio de 1955.
Juanita Castro foi uma das pessoas que foram procurar seus irmãos fora da prisão. Fidel e Raul Castro se exilaram no México, onde organizaram o movimento contra o regime de Batista. Durante o exílio, naqueles primeiros anos, Juanita foi uma colaboradora da atividade política de seus irmãos.
No entanto, as diferenças políticas surgiram após a destituição de Batista em 1959. Com o triunfo da revolução, foi imposta uma reforma agrária para distribuir terras entre os camponeses pobres de Cuba, um dos setores mais empobrecidos da ilha. Estima-se que, antes da revolução, 80% das terras cultiváveis pertenciam a grupos econômicos estrangeiros.
A medida promovida pelo governo revolucionário também afetou a família Castro, que possuía mais terras do que a lei de reforma agrária permitia. Fidel e Raúl insistiram em incluir a plantação da família em seu programa de reforma agrária. Já seu irmão Ramón Castro Ruz, que administrava a propriedade, e Juanita se opuseram à medida, que consideravam “autoritária”. A partir desse momento, tanto Ramón quanto Juanita começaram a participar de grupos de oposição à revolução.
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Sob o pseudônimo de "Donna", Juanita começou a trabalhar com Tony Sforza, um agente da CIA que estava em Cuba desde 1959
Em junho de 1961, Juanita Castro começou a estabelecer vínculos com a CIA. A aproximação ocorreu dois meses após a batalha de Playa Girón, onde cerca de 1,5 mil exilados e mercenários, patrocinados pelo governo dos EUA, tentaram invadir o país para derrubar o governo revolucionário.
Sob o pseudônimo de “Donna”, Juanita começou a trabalhar com Tony Sforza, um agente da CIA que estava em Cuba desde 1959. O caminho percorrido por Sforza o tornaria um personagem sangrento na história da América Latina. De acordo com o jornalista David Corn, anos depois, em 1970, Sforza viajou para o Chile para trabalhar com o general Roberto Viaux na derrubada de Salvador Allende.
De acordo com a própria Juanita em suas memórias, ela concordou em colaborar com a agência sob duas condições: a primeira é que ela não aceitaria nenhuma retribuição econômica para si mesma; e que ela não participaria de nenhum assassinato. Uma versão que ela manteve até as últimas entrevistas que deu, embora até agora não haja nenhuma outra prova além de sua palavra.
Seus anos como “Donna” coincidem com os da “Operação Mangosta”. Uma operação inicial criada para afetar a economia cubana. Em um período de cerca de 14 meses, foram registrados 716 ataques de sabotagem contra objetivos econômicos. O plano, elaborado por Edward Lansdale, tinha como objetivo afetar a economia para gerar uma revolta que facilitaria a derrubada do governo cubano.
Entre as tarefas diárias durante esses anos, “Donna” fornecia informações privilegiadas – às quais tinha acesso por meio de círculos familiares e por causa de seu sobrenome – por meio de um rádio de ondas curtas. Além disso, prestou ajuda logística a grupos contrarrevolucionários, muitos dos quais se dedicavam a ações violentas e terroristas, como bombardeios em locais públicos.
Em 1964, depois de se juntar ao grupo de oposição Ação Católica Cubana, seu irmão Raúl Castro mostrou a ela um arquivo da inteligência cubana que continha algumas de suas atividades conspiratórias. Juanita decidiu imediatamente deixar a ilha e, após uma breve estadia no México, estabeleceu-se em Miami, onde viveu pelo resto de sua vida.
Sua atividade política contra o sistema cubano continuou nas décadas seguintes. Em 2009, juntamente com a jornalista mexicana María Antonieta Collins, ele publicou um livro de memórias chamado Fidel y Raúl, mis hermanos, la historia secreta (Fidel e Raúl, meus irmãos, a história secreta). Apesar da promessa midiática de seu título, o livro não alcançou ampla circulação entre o público nem atraiu a atenção dos círculos que se opõem ao sistema cubano.
Esse foi o único livro com conteúdo político publicado por María Antonieta Collins, que escreveu vários livros de autoajuda, como Cómo lidiar con los Ex (Como lidar com os ex?) e Porque quiero, porque puedo y porque me da la gana (Porque quero, porque posso e porque tenho vontade).
“Sofri mais do que o restante da população exilada, porque em nenhum lugar do Estreito da Flórida me dão trégua, e poucos são os que entendem o paradoxo da minha vida”, disse Juanita Castro em seu livro de memórias. “Para aqueles em Cuba, sou uma desertora porque saí e denunciei o regime. Para muitos em Miami, sou persona 'non grata' porque sou irmã de Fidel e Raúl”, explicou.
Nos últimos anos, Juanita viveu em sua casa no bairro residencial de Coral Gables, no sul da Flórida.