Sábado, 19 de julho de 2025
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Faleceu neste sábado, na Cidade do México, a educadora, psicóloga e escritora argentina Emilia Ferreiro, aos 86 anos.

Considerada uma das maiores estudiosas do mundo sobre o processo de alfabetização de crianças, Ferreiro é formada em psicologia pela Universidade de Buenos Aires, e doutora pela Universidade de Genebra, onde estudou sob a orientação de Jean Piaget.

Sua tese, “Las relaciones temporales en el lenguaje del niño” (“Relações temporais na linguagem da criança”) é considerado um livro fundamental para a compreensão do processo de alfabetização infantil.

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Ao longo de sua carreira, Ferreiro acumulou diversas honrarias, incluindo o Prêmio Konex (por sua trajetória e suas contribuições na área da psicologia) e a Ordem Nacional do Mérito Educacional do governo do Brasil. Esta última lhe foi entregue em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

A educadora fugiu da Argentina em 1976, com o início da última ditadura militar em seu país natal – que durou até 1983 –, e se estabeleceu na Cidade do México, onde viveu até o fim de sua vida.

No país norte-americano, ela se tornou uma destacada acadêmica e passou a formar parte do Sistema Nacional de Investigadores.

Educadora que foi referência mundial na transformação dos processos de alfabetização faleceu neste sábado no México, país para onde se exilou em 1976, fugindo da ditadura

Télam

Educadora foi uma das maiores estudiosas do mundo sobre o processo de alfabetização de crianças

A União dos Trabalhadores da Educação da Argentina publicou uma nota dizendo que “lamentamos profundamente a morte da grande Emília Ferreiro, professora de professores, psicóloga e pedagoga argentina, cujas contribuições no campo da alfabetização revolucionaram o ensino. Suas contribuições ao campo da psicogênese da linguagem escrita e da alfabetização nutriram milhares de professores e educadores não só em nosso país, mas no mundo e transformaram os processos de ensino-aprendizagem”.

Internet e preconceito na sala de aula

Em 2017, Ferreiro viajou à Argentina para participar das comemorações dos dez anos do curso de Mestrado em Escrita e Alfabetização, da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação da Universidade de La Plata.

Na ocasião, ela deu uma de suas últimas entrevistas, ao jornal argentino Página/12, na qual abordou o tema do papel que a internet e os novos dispositivos desempenham nas mudanças linguísticas. “São objetos muito atrativos para as crianças. As novas gerações estão aprendendo a fazer tudo através de aplicativos. Para mim, o problema é que esses aplicativos dificultam a construção de noções de tempo e causalidade. Como explicar a uma criança que não é a mesma coisa enviar um e-mail de Buenos Aires para alguém em Rosário do que enviá-lo para a Austrália, e que talvez o que foi enviado à Austrália pode chegar antes? Certos usos tecnológicos confundem as crianças quanto à relação de tempo e espaço. Essa relação se perde, e isso é confuso”.

Em relação à repetência escolar e ao grau de responsabilidade das instituições de ensino e dos professores, ela afirmou que “é muito fácil delegar o fracasso à criança. O professor deve assumir com convicção que todos os alunos vão aprender. O problema é que, infelizmente, como está comprovado que acontece em muitos países, o professor faz uma tipologia dos alunos na sua cabeça: estes são os que estudam, aqueles são os mais atrasados, os outros são os indisciplinados. O que o professor, como adulto, entrega a uma criança que ele decidiu que vai aprender não é a mesma coisa que ele entrega àquela que, por preconceito, ele decidiu que vai fracassar”.

 

Com informações de Página/12.