Faleceu neste sábado, na Cidade do México, a educadora, psicóloga e escritora argentina Emilia Ferreiro, aos 86 anos.
Considerada uma das maiores estudiosas do mundo sobre o processo de alfabetização de crianças, Ferreiro é formada em psicologia pela Universidade de Buenos Aires, e doutora pela Universidade de Genebra, onde estudou sob a orientação de Jean Piaget.
Sua tese, “Las relaciones temporales en el lenguaje del niño” (“Relações temporais na linguagem da criança”) é considerado um livro fundamental para a compreensão do processo de alfabetização infantil.
Ao longo de sua carreira, Ferreiro acumulou diversas honrarias, incluindo o Prêmio Konex (por sua trajetória e suas contribuições na área da psicologia) e a Ordem Nacional do Mérito Educacional do governo do Brasil. Esta última lhe foi entregue em 2001, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).
A educadora fugiu da Argentina em 1976, com o início da última ditadura militar em seu país natal – que durou até 1983 –, e se estabeleceu na Cidade do México, onde viveu até o fim de sua vida.
No país norte-americano, ela se tornou uma destacada acadêmica e passou a formar parte do Sistema Nacional de Investigadores.
Télam
Educadora foi uma das maiores estudiosas do mundo sobre o processo de alfabetização de crianças
A União dos Trabalhadores da Educação da Argentina publicou uma nota dizendo que “lamentamos profundamente a morte da grande Emília Ferreiro, professora de professores, psicóloga e pedagoga argentina, cujas contribuições no campo da alfabetização revolucionaram o ensino. Suas contribuições ao campo da psicogênese da linguagem escrita e da alfabetização nutriram milhares de professores e educadores não só em nosso país, mas no mundo e transformaram os processos de ensino-aprendizagem”.
Internet e preconceito na sala de aula
Em 2017, Ferreiro viajou à Argentina para participar das comemorações dos dez anos do curso de Mestrado em Escrita e Alfabetização, da Faculdade de Humanidades e Ciências da Educação da Universidade de La Plata.
Na ocasião, ela deu uma de suas últimas entrevistas, ao jornal argentino Página/12, na qual abordou o tema do papel que a internet e os novos dispositivos desempenham nas mudanças linguísticas. “São objetos muito atrativos para as crianças. As novas gerações estão aprendendo a fazer tudo através de aplicativos. Para mim, o problema é que esses aplicativos dificultam a construção de noções de tempo e causalidade. Como explicar a uma criança que não é a mesma coisa enviar um e-mail de Buenos Aires para alguém em Rosário do que enviá-lo para a Austrália, e que talvez o que foi enviado à Austrália pode chegar antes? Certos usos tecnológicos confundem as crianças quanto à relação de tempo e espaço. Essa relação se perde, e isso é confuso”.
Em relação à repetência escolar e ao grau de responsabilidade das instituições de ensino e dos professores, ela afirmou que “é muito fácil delegar o fracasso à criança. O professor deve assumir com convicção que todos os alunos vão aprender. O problema é que, infelizmente, como está comprovado que acontece em muitos países, o professor faz uma tipologia dos alunos na sua cabeça: estes são os que estudam, aqueles são os mais atrasados, os outros são os indisciplinados. O que o professor, como adulto, entrega a uma criança que ele decidiu que vai aprender não é a mesma coisa que ele entrega àquela que, por preconceito, ele decidiu que vai fracassar”.
Com informações de Página/12.