Morreu nesta segunda-feira (23/10), aos 92 anos, César Vieira, um dos maiores nomes do teatro brasileiro.
Nascido Idibal Almeida Piveta em Jundiaí, em 1931, Vieira foi autor, diretor e advogado brasileiro. Foi um dos fundadores do grupo Teatro Popular União e Olho Vivo, pioneiro na utilização dos processos de criação coletiva, dedicando-se a uma dramaturgia popular e comprometida com o teatro de resistência.
Formado em direito, jornalismo e não completando uma formação em dramaturgia na Escola de Arte Dramática (EAD), em 1964, César Vieira participa de atividades teatrais desde meados dos anos 1960. Em 1969, esteve entre os fundadores do grupo União e Olho Vivo, junto ao Centro Acadêmico 11 de Agosto do Largo São Francisco, da Universidade de São Paulo, que elege um texto seu – “O Evangelho Segundo Zebedeu” – para iniciar suas atividades, sob a direção de Silnei Siqueira.
Como advogado, César Vieira teve importante atuação defendendo presos políticos durante a ditadura militar, entre os anos de 1968-1980, entre eles os presos de maio de 1977 da Liga Operária: Celso Brambilla, Márcia Bassetto Paes e José Maria de Almeida. Ele mesmo foi vítima da repressão durante o regime ditatorial, sendo preso e torturado.
“Sempre admirei muito o trabalho do diretor e fundador do Teatro Popular União e Olho Vivo. Entrevistei-o algumas vezes como colaboradora do Caderno 2 do Estadão. Como artista, Piveta fez prevalecer a beleza do teatro de coletivo. Como advogado, um grande defensor dos perseguidos e presos políticos do regime ditatorial no Brasil. Perde-se hoje um artista da resistência”, diz Marici Salomão, coordenadora da linha de estudo de Dramaturgia da SP Escola de Teatro.
OAB
César Vieira teve importante atuação defendendo presos políticos durante a ditadura militar, entre os anos de 1968-1980
Já Hugo Possolo, coordenador da linha de estudo de Atuação, fala: “César Vieira construiu com o Teatro Popular União e Olho Vivo uma ideia de teatro popular feito com operários, proletários, a partir do chão de fábrica, e abrindo a linguagem popular para a sociedade como um todo, na rua principalmente, com clima de festa. Todo o sentido de uma militância aberta ao poético: nesse sentido, foi uma figura inigualável. Além de ser um grande advogado que defendeu muita gente durante a Ditadura. Esse duplo papel foi muito importante na história do teatro, especialmente na cidade de São Paulo. Acredito também que, pelo convívio que a gente teve com o teatro popular e com a militância, ele era uma pessoa que nos dava um norte. Ele nunca teve uma preocupação com a profissionalização teatral, mas com a vocação. Ou seja, não era sobre entrar no mercado, mas ter uma realização artística contundente que pudesse dar voz e vez à visão proletária, a uma visão de esquerda e transformadora da sociedade”.
Entre os livros que publicou durante sua carreira, estão “Em Busca de um Teatro Popular”, “João Cândido do Brasil: a Revolta da Chibata” e “Bumba, Meu Queixada”. Além disso, Vieira recebeu os mais importantes prêmios do teatro e das artes durante as décadas, como o Prêmio Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) de melhor autor nacional por “O Evangelho Segundo Zebedeu” (1969), o Prêmio Dramaturgia Funarte-MinC por “Os Juãos e os Magalís – Uma Chegança de Marujos” (1996) e Prêmios Mambembe e Flávio Rangel/MinC por “Brasil Quinhentão!??” (1998).
O velório será na noite desta segunda-feira, na sede do Teatro Popular União e Olho Vivo: Rua Newton Prado, 766, Bom Retiro.