Faleceu neste domingo (05/11), na Cidade do México, o filósofo argentino Enrique Dussel, aos 88 anos de idade. A notícia sobre a sua morte foi anunciada em um comunicado divulgado pelo seu filho, Enrique Dussel Peters.
Dussel é considerado um dos maiores expoentes da filosofia da libertação e do pensamento latino-americano no século XX. Entre os Anos 50 e 60, ele estudou filosofia na Universidade Complutense de Madri, e com mestrado em Estudos da Religião pelo Instituto Católico de Paris e doutorado em História da Igreja pela Sorbonne, também na capital francesa.
Na primeira metade dos Anos 70, consolidou sua carreira acadêmica como professor de filosofia da Universidade Nacional de Cuyo, em Mendoza – cidade do centro-oeste da Argentina, onde nasceu em 1934.
Em 1975, ele decide deixar o país após uma série de ameaças de morte realizadas pelo grupo paramilitar conhecido como Triple A – devido à sigla AAA do seu nome oficial, Aliança Anticomunista Argentina –, que chegou a realizar um atentado a bomba em sua casa, do qual ele conseguiu sobreviver.
As obras de Dussel foram censuradas pelo governo argentino meses depois, ainda antes da ascensão ao poder do ditador Jorge Rafael Videla – que ocorreria apenas em março de 1976 – e a Universidade Nacional de Cuyo oficializaria sua expulsão ao saber que ele havia se estabelecido na Cidade do México, onde viveria até o fim de sua vida.
UNAM
Enrique Dussel foi um dos expoentes da filosofia da libertação
Na capital mexicana, ele assumiu a direção do Departamento de Filosofia da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).
Em suas obras, Dussel defendia a Teologia da Libertação como reflexão a partir da práxis de libertação dos oprimidos, uma teologia ética pensada a partir da periferia, a partir dos marginalizados, concebida além das fronteiras da Europa colonizadora.
Seu pensamento destacava três aspectos dessa teoria: a opção preferencial pelos pobres, o combate a redução da mulher a mero objeto sexual e o acesso à educação e à pedagogia necessária para difundir essa filosofia.
Dussel também sustentava que a crítica de Karl Marx à religião seria uma crítica fetichista, que poderia ser incorporada por um cristianismo profético e libertador, e que não estaria distante da crítica dos profetas de Israel à religiosidade deformada (idolatria) que existia em períodos antes de Cristo.
Entre seus principais livros publicados em português estão Método para uma Filosofia da libertação (Editora Loyola, 1986), História da Igreja Latino-americana: 1930 a 1985 (Editora Paulus, 1989), Teologia da Libertação: Um panorama do seu desenvolvimento (Editora Petrópolis-Vozes, 1999) e Ética da Libertação: Na idade de globalização e da exclusão (Editora Petrópolis-Vozes 2002).