Desde a noite de ontem e certamente nos próximos dias, a Palestina estará mais uma vez no noticiário da mídia hegemônica e nas declarações sentenciosas dos líderes mundiais, que condenarão com eloquência a violência vinda de Gaza e defenderão o direito do Estado ocupante de se “defender” dos ataques da resistência palestina.
As páginas de todos os meios de comunicação estarão repletas de apelos para retomar o diálogo e avançar em direção à “solução de dois Estados” que a própria comunidade internacional abandonou diante da recusa de Israel em cumprir o direito internacional, e se falará eufemisticamente de um apelo à paz entre Israel e a Palestina.
O que permanecerá sem ser relatado na mídia e nas reações da hipócrita comunidade internacional serão as centenas de palestinos que foram mortos na Palestina ocupada este ano, como parte da política de extermínio físico e político do governo nazi-sionista de Israel contra o povo palestino.
Tampouco aparecerão nos jornais as centenas de casas demolidas e os incontáveis ataques realizados por colonos ilegais contra a população palestina, executados sob o manto protetor do Exército de ocupação.
Marius Arnesen / Flickr
15 de abril 2009. Casa bombardeada em Gaza
Também não veremos nenhuma menção, por menor que seja, aos milhares de prisioneiros políticos palestinos que enchem as prisões de Israel, incluindo centenas de menores, a maioria deles detidos e presos sem julgamento e condenados em processos secretos sem direito de defesa.
Muito menos se mencionará o fato de que o genocídio que Israel vem praticando contra a população palestina tem ocorrido há mais de 70 anos, e que ele vem sendo praticado com o apoio e o silêncio cúmplice da mesma comunidade internacional que brada aos céus quando os palestinos, saturados de tanta injustiça, cheios de indignação e impotência, irrompem diante da hipocrisia e do duplo padrão de grande parte da comunidade internacional, que faz vista grossa às violações dos direitos humanos quando é Israel quem as comete.
O povo palestino tem todo o direito de resistir e lutar por sua liberdade por todos os meios possíveis, conforme reconhecido no preâmbulo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, e os únicos responsáveis pela situação atual são aqueles que, como faz o governo do Chile, sustentam, defendem ou permanecem em silêncio cúmplice diante de uma ocupação ilegal que se tornou a melhor cópia do nazismo no século XXI.
(*) Daniel Jadue é prefeito da comuna de Recoleta, em Santiago, Chile. Membro do Partido Comunista do Chile, é sociólogo e arquiteto, com mestrado em urbanismo pela Universidade do Chile.