Em tempos que já parecem antigos, a senhora Moro anunciou que seu marido e o capitão levado à Presidência, em boa parte pelas artes e manhas do simulacro de juiz, eram “a mesma coisa”.
Na manifestação mais sincera desta semana o presidente, que já se livrou do ex-juiz e de uma série de outras escadas, e que se restabeleceu miraculosamente do grave estado em que havia sido internado em São Paulo, pronunciou um sonoro “eu sou Centrão”.
Aparentemente a declaração surpreendeu tanto pela obviedade quanto pelo inesperado. É óbvia para qualquer um que se lembre que ele foi filiado ao PP (alguém ainda sabe o que significa a sigla?) toda a sua vida parlamentar.
E é inesperada por duas razões: primeiro, por ser verdade, o que, vindo dele, inevitavelmente surpreende a 75% da população, e a segunda, certamente menos relevante face à desmemória intencional de seu eleitorado, é que ele se elegeu prometendo, entre várias outras coisas, governar sem a apoio “disso tudo que está aí”, o que pode ser o nome por extenso do mal chamado Centrão.
Alguém já observou nas redes sociais que agradecemos a sinceridade e ficamos aguardando a sua declaração de identidade aos milicianos.
Na corrida para saber quem é mais “a mesma coisa” que o capitão genocida, vem na ponta o general Braga Netto, atual ministro da Defesa, ex-chefe da Casa Civil (sic), ex-chefe do Estado Maior do Exército, ex-interventor federal no Rio de Janeiro, ex-adido militar junto à Embaixada do Brasil nos EUA.
Há uma semana resolveu avisar ao presidente da CPI da Covid, e, por extensão, ao Congresso Nacional e à população brasileira, que as Forças Armadas, de forma coesa, repudiam qualquer menção ao envolvimento de setores militares com qualquer forma de corrupção, não vindo ao caso a existência ou não de indícios ou provas.
Planalto
Na corrida para saber quem é mais ‘a mesma coisa’ que o capitão genocida, vem na ponta o general Braga Netto, atual ministro da Defesa
Para que não restassem dúvidas sobre a identidade, estrutural e interseccional, para usar expressão na moda em outros setores, entre os militares e o ex-militar no exercício da Presidência e, para acabar com o deleite dos analistas que notavam diferenças substantivas na posição política (aquela que constitucionalmente não deveria ter) da Aeronáutica, o seu ministro houve por bem esclarecer a nós, pobres mortais ignaros, que as Forças Armadas são “armadas”.
Talvez preocupado em manter a ribalta, o Ministro da Defesa teria enviado, segundo o jornal O Estado de São Paulo, mensagem ao presidente da Câmara (adivinha de qual partido) confirmando a ameaça presidencial de que eleição sem voto impresso não seria validada.
O general desmentiu a informação e o editor do Estadão reafirmou. O leitor escolhe em quem acreditar, no jornal que em 2018 estava face a uma “difícil opção” ou nos generais que nunca tiveram dúvidas.
Enquanto isso as oposições tentam definir quantas frentes haverá; para que ponto cardeal se volta a terceira via; quem pode participar de quais manifestações e se vale mais a pena investir energia em combater o genocídio de hoje ou queimar estátuas de genocidas do século XVII.
*Carlos Ferreira Martins é professor titular do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos