O governo tem distribuído ministérios para o Centrão e partidos da direita, com a justificativa de que é preciso ter apoio no Congresso para garantir a governabilidade. Ainda assim, em onze meses, nenhuma medida foi tomada no sentido de revogar as reformas trabalhista e da previdência e o veto do Marco Temporal pode ser derrubado na próxima semana.
Povo escolheu lutar pelos seus direitos
De fato, nos últimos anos, a maioria do povo brasileiro viveu um verdadeiro inferno. Metade da população esteve submetida à insegurança alimentar, com milhões de trabalhadores desempregados, aumento generalizado do preço dos alimentos e achatamento dos salários.
Para defender os direitos de quem trabalha e denunciar a grave situação de vida da população, os trabalhadores foram às ruas com a campanha “Fora Bolsonaro”, organizada pelos movimentos sociais. Sem dúvidas, as mobilizações populares foram determinantes para impedir um golpe fascista no país e para expressar nas urnas a insatisfação com o governo.
Na corrida eleitoral, Lula prometeu devolver a dignidade ao povo brasileiro e colocar fim ao teto de gastos que foi imposto aos direitos sociais. Com efeito, mais de 60 milhões de brasileiros votaram no candidato do PT para tirar do poder Bolsonaro e seus aliados corruptos, generais e os partidos do Centrão.
Cadê o governo que subiu a rampa?
A fotografia do presidente subindo a rampa do Palácio do Planalto com a representação popular é histórica. Aliviados, vimos esse momento com a esperança de viver novos dias.
Mas a verdade é que a cada dia que passa, o governo se parece menos com a foto.
Isso porque, com o argumento de que é preciso construir a chamada governabilidade, Lula tem feito movimentações no sentido de acomodar os partidos do Centrão no governo para costurar mais apoios no Congresso.
Assim, em setembro, decidiu demitir a ex-atleta de vôlei Ana Moser do Ministério dos Esportes e nomear André Fufuca do PP, partido de Arthur Lira e Cid Nogueira. E a farra começou: para ser o número dois, Fufuca nomeou ninguém menos que Antonio Paulo Vogel, um bolsonarista que foi secretário executivo de Weintraub no Ministério da Educação. Como se já não bastasse ter MDB, União Brasil e PSD comandando ministérios, o presidente Lula também empossou Silvio Costa Filho, do Republicanos, na pasta de Portos e Aeroportos. A direita também foi agraciada com as indicações da PGR e da Caixa Econômica Federal.
Ricardo Stuckert / PR
O presidente Lula durante reunião com os ministros Márcio França, Silvio Costa e André Fufuca
Governabilidade se faz com os trabalhadores
Quem não tem memória curta sabe que esses acordos não garantem a sustentação do governo. Esse mesmo discurso da governabilidade foi usado para defender a aliança com Michel Temer (MDB) que culminou no golpe contra a presidenta Dilma em 2016. Em questão de meses, todos os poucos direitos conquistados pelo povo nos anos anteriores foram arrancados com canetadas.
Outro exemplo disso é que, apesar da benevolência do governo com seu partido, Arthur Lira está articulando a derrubada dos vetos parciais da presidência ao Marco Temporal. Lula tem razão quando diz que o Congresso é “uma raposa tomando conta do galinheiro”.
A verdade é que alguns dizem que é impossível governar sem a burguesia. Mas respeitando a história dos povos latino americanos, temos exemplos heróicos de que é possível governar para os trabalhadores com a força popular. A Revolução Cubana enfrentou um embargo internacional, sob as agressões da principal potência imperialista do mundo. Mesmo com a fuga dos cérebros e boicote das empresas capitalistas, o povo dessa pequena ilha, desindustrializada e dependente, foi capaz de realizar uma profunda reforma agrária e erradicar a fome.
Em outras palavras, se Lula realmente quiser governar para os trabalhadores, precisa apostar na correlação de forças das ruas e contar com a mobilização popular para impor a revogação das reformas, o aumento dos salários e acabar com a farra dos partidos do Centrão.
Nota: Ao concluir este artigo, gostaria de registrar minha solidariedade e da Unidade Popular pelo Socialismo ao corajoso jornalista Breno Altman, vítima de perseguição política por parte da Confederação Israelita do Brasil. O Estado fascista de Israel está realizando um genocídio em Gaza. Viva a resistência do povo Palestino!