O ex-presidente Bolsonaro convocou para o próximo domingo, 25, manifestações em sua defesa, esperando que seus seguidores tomem as ruas para impedir sua prisão. Alvo da operação Tempus Veritatis da Polícia Federal, o fascista e generais quatro estrelas estão sendo investigados pela tentativa de golpe de Estado que culminou na invasão da sede dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
Com presença confirmada de autoridades da extrema-direita, como o governador Tarcísio de Freitas e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, a manifestação contará também com o financiamento do pastor milionário Silas Malafaia. Qual a capacidade de mobilização desse ato, o futuro nos dirá. Uma coisa é certa: vencemos as eleições, mas não podemos dar por vencido o fascismo e subestimá-lo.
Há quase 90 anos, durante discurso no Congresso da Internacional Comunista, George Dimitrov nos alertou que
“o fascismo consegue atrair para si as massas, porque apela de forma demagógica para suas necessidades e exigências mais candentes. O fascismo não só instiga os preconceitos profundamente arraigados nas massas, como especula também com os melhores sentimentos destas, com sua sede de justiça […]” (A Unidade Operária Contra o Fascismo, 1935)
Golpe tramado por generais
Com o avanço das investigações, a PF trouxe a público o que já afirmamos aqui nos últimos anos: os generais continuam na cabeça da trama golpista.
Na cronologia do plano antidemocrático montada pela investigação, foi revelada uma reunião em 5 de julho de 2022, com a alta cúpula do governo, onde Bolsonaro intimou sua trupe de ministros a se comprometer com o golpe. Logo em seguida veio a fatídica reunião no Palácio da Alvorada com os embaixadores e um powerpoint questionando o sistema eletrônico de votação.
As reuniões dos fardados aparecem com destaque na linha do tempo, como o encontro em 28 de novembro de militares das Forças Especiais e alto escalão do Exército e a reunião de 7 de dezembro, quando Bolsonaro e comandantes militares discutem o conteúdo da minuta do golpe.
Os generais não estavam de pijamas, como alguns querem acreditar; seguem muito bem fardados. Segundo a PF, a cúpula golpista é composta por generais quatro estrelas, o mais alto escalão do Exército. Alguns deles nós já conhecemos de longa data: Braga Netto, foi chefe do Estado-Maior do Exército; o asqueroso general Augusto Heleno, que comandou o massacre promovido pela intervenção militar no Haiti em 2004, quando soldados estupraram e mataram mulheres e crianças; e estão ainda sob alvo das investigações os generais Estevam Teophilo, ex-chefe do Comando de Operações Terrestres, e Paulo Sérgio Nogueira, ex-chefe do Comando Militar do Norte.
Fascistas estão tramando o golpe mesmo antes das eleições
A questão fundamental, no entanto, é que a serpente não pôs seu ovo do dia para a noite. As ruas não nos deixam esquecer que, em meados de 2020, atos bolsonaristas ocupavam a Avenida Paulista praticamente todos os domingos pedindo “intervenção militar” e “criminalização do comunismo”. Observação: não era raro ver bandeiras do Estado de Israel tremulando nos ares naquela marola verde-amarela.
Em agosto de 2021, durante a votação do projeto de lei bolsonarista do voto impresso, Arthur Lira chamou de “infeliz coincidência” o desfile militar de blindados realizado em frente ao Congresso Nacional. E, indo mais atrás, como ignorar as ameaças na fala do general Hamilton Mourão sobre “aproximações sucessivas”, lá em 2017?
Isac Nóbrega/PR
Jair Bolsonaro recebe os cumprimentos do Comandante de Operações Especiais, General-de-Brigada Mário Fernandes
Porquê Bolsonaro e os generais devem ser presos
Prender Bolsonaro e os generais golpistas é a possibilidade de romper com a história de impunidade e acertar as contas de hoje e do passado. O Brasil viveu uma ditadura militar fascista de 21 anos que prendeu, torturou e matou milhares de trabalhadores e lutadores sociais, reprimindo fortemente greves e manifestações por direitos, para que fosse possível assegurar os lucros da burguesia nacional e internacional. Depois dos anos de terror, nenhum general foi responsabilizado por esses crimes. A impunidade, sem dúvidas, deixa caminhos abertos para que as classes dominantes façam o que bem entendem em nosso país e com o nosso povo.
Além disso, hoje se abre a oportunidade histórica de escancarar a verdadeira face das forças armadas brasileiras: setor reacionário, comprometido com a ideologia fascista, promotor da barbárie para defender os interesses das classes dominantes. Não carregam um pingo de obrigação com o povo brasileiro e com a nação, pelo contrário, foram formadas para reprimir revoltas populares e agem como verdadeiros algozes da nossa gente.
“O fascismo é um poder feroz, porém precário”
“O fascismo é o Poder do próprio capital financeiro. É a organização do ajuste de contas terroristas [da burguesia] com a classe operária” (Dimitrov, 1935). Em outras palavras, é uma política violenta desenvolvida pelas classes dominantes para garantir a superexploração da classe trabalhadora e impedir a liberdade de organização e expressão.
Não se pode dominar um povo com tanta ferocidade senão com falsas promessas e mentiras. Por esse motivo, é necessário explicar quem são os verdadeiros inimigos, quais interesses defendem e porquê querem implementar uma nova ditadura no Brasil; fortalecer o movimento popular com profundo enraizamento nas lutas sociais, como manifestações, ocupações, retomadas e greves.
Uma boa oportunidade de demonstrar a força da classe trabalhadora será o próximo 8 de março, quando mulheres saem às ruas em todo país para exigir uma sociedade mais justa e sem violência. Igualmente, uma manifestação unificada em 24 de março pela prisão de Bolsonaro e os golpistas está em construção pelas frentes sociais. Ademais, derrotar as privatizações de Tarcísio em São Paulo com uma grande greve também pode ser um golpe duro da classe trabalhadora contra o projeto dos fascistas.
Lutar muito e lutar sempre é o único caminho para a vitória.